O Quinto Beatle: A História de Brian Epstein – Vivek J. Tiwary

Brian Epstein, gerente de uma loja de discos em Liverpool, acaba conhecendo os Beatles por puro acaso, já que um garoto foi procurar um título que eles faziam participação, mas não tinha no local e a política estrita da loja era de que encontrariam qualquer disco para qualquer cliente. Então sua vendedora indicou um local onde os garotos faziam shows ali perto e ele foi assisti-los. E foi neste momento que tudo mudou.
Impressionado com o talento e o carisma deles, Brian pediu permissão para empresariar a banda, que, depois da relutância inicial, resolveu aceitar. Com isso, Epstein estava determinado a fazê-los serem enormes, maiores do que o Elvis, e faria de tudo ao seu alcance para conseguir. Com mudanças no visual e no comportamento da banda, ele procurou meios, comprou discos, ofereceu propostas a pessoas importantes e os Beatles foram conquistando cada vez mais espaço nas listas dos melhores e mais vendidos e também no coração das pessoas.
Mas nem tudo eram flores. Tendo que viver em meio a preconceitos, perseguição e medo em sua vida pessoal, Brian acabou procurando ajuda em meios ilícitos, deixando sua saúde e sanidade de lado enquanto corria atrás de cada vez mais sucesso para os Beatles. Ele começou a desistir de sua própria vida em prol da carreira deles, deixou de lado seus sonhos e desejos para ajudá-los a conquistar os deles. Enquanto o sucesso do garotos de Liverpool crescia, Brian Epstein decaía na mesma proporção, o que foi bom por um lado, mas infinitamente triste por outro.


Não posso dizer que sou uma dessas pessoas que vivem por música ou com música o tempo inteiro. Eu gosto, claro, de ouvir diversas e em variados momentos, mas não o dia inteiro. E, por este motivo, não sou o que se pode chamar de especialista no assunto, ou mesmo alguém que tenha um vasto conhecimento. Mas, mesmo assim, eu gosto muito de música em geral e, claro, dos Beatles. Só não conheço tudo por trás da história da banda, o que tornou meu interesse por esta Graphic Novel espetacular ainda maior. Eu queria saber mais sobre Brian Epstein e o motivo de ele ter sido considerado por muitos, inclusive pelo próprio Paul, como o Quinto Beatle.


Apesar de a trama contida nesta Graphic Novel ser curta (tem menos de cento e setenta páginas), também é intensa, comovente e inspiradora. Começa pouco antes de Brian conhecer os meninos dos Beatles, em uma cena particularmente triste e angustiante, que foi um dos pontapés iniciais (talvez o mais importante) para muitos dos problemas enfrentados por ele em toda a sua breve vida. E vamos seguindo seus passos, ideias e ações ao longo dos próximos anos, quando ele conseguiu alavancar a carreira destes rapazes de uma maneira estrondosa, levando-os a um patamar tão alto quanto ele almejava desde o começo, sendo alguns dos artistas mais conhecidos mundialmente ainda nos dias atuais.


Aqui conhecemos realmente a história de Brian, não dos Beatles em si (com o foco sobre eles já existem diversas outras biografias e obras), apesar de serem parte essencial da vida de Epstein, já que tudo o que ele viveu naquele período – seus últimos anos de vida – foi voltado para construir uma carreira, um legado de amor através destes artistas tão amados até hoje.
Então, toda a carreira dos Beatles aparece como um pano de fundo para a trama principal, onde acompanhamos a ascensão deles e as ocasiões mais importantes da banda, mas não todos os momentos entre um ponto e outro, o que torna a leitura mais ágil.




Mas também não é totalmente completa e detalhada com relação à vida inteira de Epstein, já que só foca em determinados pontos, os principais, da vida dele, além dos da carreira dos Beatles. Este fato faz com que a leitura seja mais dinâmica, mais fluida, sem deixar algo sem entendimento ou mal apresentado. Claro que em alguns momentos eu desejei por mais, só que fiquei satisfeita com o apresentado, inclusive porque é uma história em quadrinhos e eu acho bacana assim.


E, infelizmente, é finalizada com uma cena completamente triste e emocionante, que faz a gente ficar com um aperto no coração, mesmo que já soubéssemos como termina, pois ela é baseada em fatos reais e não poderia ter tido um final diferente, o que é uma pena. Porque eu realmente desejei que ele pudesse ter tido mais para si mesmo da vida.


O mais desolador é pensar que se tudo isso tivesse ocorrido nos dias de hoje, talvez Brian Epstein ainda estivesse vivo, porque ele não precisaria se reprimir, se esconder atrás de fachadas e ser alguém solitário em sua vida particular por não poder ir ao público admitir quem realmente era. O mundo poderia ter conhecido inúmeras outras bandas e artistas de sucesso se ele estivesse aqui e, mais importante, Brian poderia ter tido o seu próprio final feliz.


Os traços e jogos de cores de Andrew C. Robinson e Kyle Baker são incríveis e se encaixaram perfeitamente no enredo desta história em quadrinhos. Em alguns momentos com cenas mais claras e, em outras, mais escuras, deram o tom certo de que se precisava naquele momento, de acordo com a intensidade e obscuridade ou não das cenas. Tudo muito maravilhoso!


A edição nacional ficou a cargo da Editora Aleph e está linda! A capa original foi mantida, o que eu achei ótimo porque foi assim que ela foi idealizada pelo ilustrador, Andrew C. Robinson, que teve todo um trabalho e fez diversos testes antes de definir a que ele considerou a ideal.  A versão impressa está gigante, com seus 21cm x 31,5cm e pesa mais de 1kg, devido as páginas de ótima qualidade de impressão e alta gramatura, que são em papel couché fosco (estilo folha de revista, mas muito mais grosso).




Depois da história de Brian Epstein há alguns extras na edição, como notas sobre as músicas e todas as referências utilizadas no livro, já que na versão nacional elas foram traduzidas, então ali podemos saber de onde são e quais são os originais; um posfácio do autor, Vivek, falando sobre sua experiência sobre o assunto, o que Epstein representou para ele e um pouco mais; um texto de Howard Cruse comentando sobre o casamento entre pessoas do mesmo sexo.


Também tem a parte que eu mais gostei: algumas páginas do Sketchbook de Andrew C. Robinson, onde ele fala e, mais importante, mostra diversos desenhos que ele fez durante os anos que se dedicou a este projeto para definir todos os personagens e cenas da melhor forma possível. Eu amei me deliciar com estas páginas, principalmente porque tenho uma grande admiração por ilustradores e fiquei completamente apaixonada pelo trabalho deste tão talentoso artista. E, para finalizar, algumas folhas, novamente escritas por Tiwary, onde ele fala sobre onde conseguiu informações para desenvolver esta Graphic Novel e mostra alguns elementos como um cartão de natal assinado pelo próprio Brian, um ingresso de um show beneficente no qual os Beatles se apresentaram, entre outros.


“O Quinto Beatle: A História de Brian Epstein” é para os fãs da banda, para os que não sabem muito sobre eles, para os que curtem música, cultura pop e/ou casos de sucesso. É uma história bonita, triste e comovente, que fez com que uma grande banda conquistasse o mundo e os corações das pessoas por anos, mas com que a vida de um grande homem acabou sendo arruinada no processo. Recomendo demais!
Avaliação



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Um comentário:

  1. Gostei pra caramba das suas fotos e desta resenha. Curto muito os Beatles, mas não sabia da existência desta graphic novel até este exato momento. Achei lindas as cores e o projeto gráfico como um todo. É óbvio que vou querer um exemplar deste na minha estante. Ainda mais porque achei interessantíssima a vida deste homem. E realmente as coisas poderiam ter sido diferentes hoje.
    joana.gabrielledealmeida@gmail.com

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