Acredito que conhecer um pouco
sobre a vida e a origem dos autores dos livros muitas vezes ajuda muito a
compreender as narrativas e intuitos destes autores. Saber que a autora Liudmila
Petruchévskaia é russa e passou pelo regime soviético fez toda diferença para
compreender seus contos em Era Uma vez Uma Mulher que Tentou Matar o Bebê da
Vizinha, publicado pela Companhia das Letras.
O livro é composto por quatro
partes, Canções dos Eslavos do Leste, Alegorias, Réquiens e Contos de Fadas,
onde os vinte e um contos estão dispostos. Não fica muito claro porque dessa
divisão, assim como muitas coisas na escrita de Liudmila que é crua, direta e
que causa grande estranhamento na leitura.
Algumas características são
comuns a quase todos os contos como começos impactantes que já revelam
informações sem floreios do que veio tratar a estória, como, por exemplo, o
conto O Milagre, que começa: " Uma
Mulher tinha um filho que se enforcou", ou como em A Casa da Fonte "Uma vez, uma menina foi morta, mas depois foi ressuscitada".
Esse tipo de começo já causa grande desconforto e impacto na leitura onde você
passa a esperar qualquer situação depois do início já azarado. E mesmo com uma revelação
incomum logo na abertura muitas vezes a estória que se segue soa bastante
comum, e o estranho sem mostra nos detalhes, ou até na última frase.
Outra característica bastante
frequente foram as críticas ao regime soviético, explorado por diversos ângulos
e através de diversas estórias diferentes, a pobreza, as doenças e a fome estão
praticamente em todos os relatos, como se fossem uma sina que ninguém e em
parte alguma consegue escapar.
Por fim é preciso frisar que
nenhum conto é de fácil assimilação, a dificuldade na compreensão do sentido
dos contos é marca constante da narrativa de Petruchévskaia, e não foi uma, nem
duas as vezes em que voltei a leitura para tentar compreender se não tinha
perdido algum trecho que explicasse o que não compreendi. Talvez essa
dificuldade venha pela tradução de uma língua tão diferente do português,
talvez seja o modo que a autora escolheu escrever para dizer aquilo que não
podia ser dito em seu país (o livro foi banido na União Soviética), ou talvez
nenhuma das alternativas se mostrem válidas, e esse seja o estilo dela apenas.
Mas o fato é que eu compreendia
as reflexões e críticas que a autora queria transmitir com sua estórias, mas
não gostei da forma como ela escolheu realizar seu objetivo, afinal quando você
cria uma comunicação é preciso que o receptor compreenda a mensagem, caso
contrário ela fica perdida e sem sentido. Com isso não espero simplicidade ou
pobreza na escrita, apenas mais acessibilidade, mesmo porque a autora é simples
na escrita, não trabalha com metáforas ou frases de difícil compreensão, eu
diria que seus contos até parecem escritos por adolescente, a dificuldade está
no que não está explícito.