Aristóteles
e Dante são dois jovens latino-americanos com seus quinze anos que moram em El
Paso, e acabam se conhecendo por conta da natação, já que Dante sabe nadar e
Ari não, então ele lhe oferece ajuda. Os dois não poderiam ser mais diferentes
entre si: Ari é mais fechado, bem solitário, tem dificuldades em expressar em
palavras e ações o que sente e o que quer, não tem medo de muita coisa,
enfrenta valentões se for preciso, e vive frustrado por não saber o que
aconteceu com seu irmão mais velho, que está preso e a família finge que ele
nem mesmo existiu; enquanto isso Dante é um garoto bem confiante e super
articulado, muito doce, que gosta de conversar sobre tudo, se preocupa com
animais, é apaixonado por poesia e arte, e se dá bem com qualquer pessoa, mas
não se sente muito um mexicano genuíno.
Ao mesmo
tempo, eles são bem parecidos em algumas coisas, ambos estão passando por um
momento de descobertas na vida e optaram por ser bonzinhos e não bad boys, mesmo que de vez em quando
sintam a necessidade de pensar que poderiam ser diferentes, possuem uma bela
relação com seus pais, que só melhora com o passar das páginas (mesmo que
inicialmente o pai de Ari seja muito fechado e não se abra tanto com o filho
por conta de uma guerra que vivenciou), não são rodeados de amigos, gostam da
companhia um do outro, de sorrir e dar risadas juntos, e de passear pelo
deserto para olhar as estrelas.
Juntos,
compartilhando experiências e momentos bons e ruins, Ari e Dante acabam
descobrindo os segredos do Universo, e é essa relação tão verdadeira e adorável
que vamos conhecer neste belíssimo livro, que reúne alegrias, tristeza e muito
amor.
“Ao me ver
vasculhar o céu através das lentes de um telescópio, Dante cochichou:
– Um dia vou desvendar todos os segredos do Universo.
Achei graça.
– E o que você vai fazer com esses segredos, Dante?
– Saberei quando chegar a hora – respondeu. – Talvez mudar
o mundo.
Acreditava nele.”
A
primeiríssima coisa que me fez ficar muito encantada por esse livro foi a capa.
Olhem que capa mais maravilhosa!! Sério, eu tenho MUITOS livros nas minhas
estantes, mas essa com certeza está entre as mais bonitas e eu não vejo a hora
de ver a versão finalizada ao vivo, já que a edição que eu li foi a prova, e só
por ela já dá para ver como é linda, mas acredito que a final vai ter algum
detalhe a mais, que depois eu comento aqui como ficou.
Mas, depois
de terminar a leitura, percebemos que esse livro é muito mais do que uma capa
bonita, ele tem um belíssimo conteúdo, que casa muito bem com a capa,
transformando essa em uma obra queridinha. Tenho certeza de que diversos
leitores das mais variadas faixas etárias também vão se apaixonar por Ari,
Dante, e suas vidas.
Sabe aquelas
histórias que você gosta logo nas primeiras páginas? Aquele tipo de livro que,
caso alguma pessoa pergunte se você está curtindo a leitura, você nem precisa
dizer “Ainda não deu para saber se eu realmente gosto, já que estou bem no
comecinho”, porque você realmente adora desde o comecinho? Aquela narrativa
gostosa, com personagens maravilhosos e cativantes e que tem um final fofo, que você acaba com
um sorriso no rosto e cheia de vontade de sair indicando a leitura para todo
mundo? Então, “Aristóteles e Dante descobrem os segredos do Universo” é tudo
isso e muito mais! Sério, acho que nem vou conseguir exprimir direito o tanto
que eu adorei essa leitura, mas eu espero mesmo que vocês leiam e descubram por
si mesmos o que eu estou dizendo.
Mais do que
tudo, esse é um livro sobre descobrir mais sobre você mesmo, se aceitar como
você realmente é, e amar quem você deseja amar. E o amor, ah, o amor é o
sentimento mais bonito e puro que existe, e a forma como está presente neste
livro, em relacionamentos familiares, de amizade e amorosos, é muito bem
construído e consegue transpor as páginas, fazendo com que o leitor sinta todo
esse amor. Como o amor é o meu sentimento preferido, eu realmente me sinto
muito feliz quando ele acaba sendo tão importante assim em uma história.
“Então passei a me chamar Ari.
Se tirasse uma letra, meu nome seria Ar.
Achava que devia ser ótimo ser o ar.
Eu poderia ser alguma coisa
e nada ao mesmo tempo. Ser necessário e invisível. Todos precisariam de mim e
ninguém conseguiria me ver.”
A história é
passada no final da década de 1980, começando no ano de 1987, então tem uma
coisa que eu achei muito legal é que, diferente do que estamos acostumados
atualmente (e que eu também fui acostumada quando criança), não tem internet e
coisas tão tecnológicas, como celular (mesmo que hoje eu não viva sem nada
disso), então o livro ficou mais envolvido na questão das pessoas se conhecendo
e interagindo ao vivo, mantendo uma relação mais próxima.
Mesmo que aqui
os personagens sigam rotinas e a gente acompanhe suas vidas acontecendo
normalmente, sem grandes aventuras, o livro não tem a sensação de ser parado,
além de possuir vários acontecimentos importantes, e os sentimentos evoluem gradativamente
e de forma natural, o que eu acho de extrema importância.
Gostei
bastante do Ari, que é o personagem principal e também o narrador dessa
história, então o conhecemos bem a fundo, com seus pensamentos, suas
características, seus medos, angústias e anseios, a forma como está descobrindo
o mundo e si próprio, e eu gostei muito de acompanhá-lo nesta transição de
menino para rapaz com seus conflitos internos sobre quem é e o que deseja ser,
já que ele não sente como se sua vida fosse realmente de sua escolha.
“Outro segredo do
Universo: às vezes, a dor era como uma tempestade que vinha do nada. A mais
clara manhã de verão podia acabar em temporal. Podia acabar em raios em
trovões.”
Também curti
bastante o Dante, e deu para conhecê-lo muito bem, mesmo que algumas vezes só
podemos ter a mesma visão que Aristóteles tem dele, que é sempre muito
positiva. Mas como o livro é recheado de diálogos e Ari se compara bastante a
Dante, dá para aprendermos o suficiente sobre esse personagem, que é quase tão
importante quanto o protagonista, a ponto de sabermos como ele agiria em tal
situação, por exemplo, e ele me conquistou muito, apesar de meu preferido ainda
ser o Aristóteles.
A relação
dos dois é muito bonita e sincera, eles se conhecem sem grandes pretensões, mas
se dão muito bem desde o princípio, mesmo que um seja o oposto do outro e,
juntos, aprendem bastante sobre a vida e sobre como é ser jovem tendo que
descobrir todos os segredos do universo. No final acabamos encantados pelos
dois e pelo belíssimo relacionamento que eles construíram ao longo do caminho.
E é isso que faz um livro ser mais do que bom, o fato de, ao término da
leitura, você ainda ficar com ela marcada em sua memória.
“– Eu não sabia que podia amar tanto você –
falei.
E então seu sorriso não era mais triste.”
Os pais,
apesar de aparecerem menos do que Ari e Dante, são tão importantes quanto os
dois, e pudemos conhecer um pouco mais de cada um, com maior destaque para os
pais de Ari com seus próprios problemas e inseguranças, e o motivo principal
que causou isso para cada um individualmente, e depois a forma como relevam as
coisas ao filho, natural e comovente.
A relação de
Ari com seus pais é diferente da de Dante com os dele, porém são tão bonitas
nos dois casos que eu realmente fiquei comovida, porque eu tenho uma ótima
relação com os meus pais, então sempre acho bonito encontrar isso nos livros,
principalmente porque em muitos deles isso não acontece. Nos dois casos os pais
são respeitados, respeitosos e participativos (no caso de Ari, só a mãe em boa parte da leitura), convivendo de forma pura e
autêntica com seus filhos, tendo amizade com eles, mesmo sabendo e impondo suas
posições como pais.
No começo,
vemos que Ari até sente coisas boas pelo pai, além de toda a frustração, mas não tem uma relação de
amizade por conta dele ser mais fechado, não apenas com o filho,
mas com si mesmo, fazendo com que nosso protagonista fique decepcionado em alguns
momentos. Ainda assim, com o passar das páginas, vemos esse relacionamento se
desenvolvendo de uma forma bem legal, mesmo que as características principais
de seu pai sejam mantidas, ele já consegue conversar melhor com o filho.
“– É difícil amar meu pai?
– Não – ela nem sequer hesitou.
– Você o entende?
– Nem sempre. Mas, Ari, não preciso entender sempre as pessoas que amo.”
Gostei muito
desta parte, inclusive porque os pais de Ari foram de grande importância na
descoberta e aceitação sobre ele mesmo, e eu achei extremamente fofo um dos
diálogos entre eles mais para o final do livro, apesar de ter gostado de todos
de forma geral.
Geralmente
eu não anoto muitos quotes dos livros que estou lendo, não porque eu não goste
ou não queira fazer isso, mas é que eles passam sem que eu perceba e anote,
somente quando o trecho chama muito a minha atenção e me marca de alguma fora é
que eu paro para anotar, e esse livro é tão maravilhoso e cheio de passagens
tão marcantes que eu acabei anotando diversos e vou colocá-los espalhados aqui
na resenha porque eu acho que será ótimo para vocês conhecerem um pouquinho
dessa história através deles, mas é só um gostinho porque o livro completo é
ainda mais amor!
“Não
consegui decidir se o sonho tinha sido bom ou mau. Talvez bom, porque não
acordei triste. Talvez seja essa a forma de classificar um sonho como bom ou mau
– como ele nos faz sentir.”
A leitura de
“Aristóteles e Dante descobrem os segredos do Universo” é bem ágil e dinâmica,
inclusive porque há muitos diálogos, os capítulos são curtos e a linguagem
simples. Todos esses fatores, misturado a um enredo gostosinho e uma narrativa
fluida e interessante, faz com que a leitura seja bem rápida e o leitor não
fique com o livro por muito tempo, mesmo aqueles que têm pouco tempo de sobra para
ler.
Sobre a
parte gráfica eu não posso falar tanto assim porque o que li é uma prova, então
podem ocorrer mudanças para a versão final, mas acredito que algumas coisas
serão mantidas. O livro é dividido em partes (com títulos) e em cada uma delas
os capítulos começam do 01. O espaçamento está ótimo, super confortável para a
leitura, também curti o tamanho da fonte, e a capa tem tudo a ver com o
conteúdo, o que a deixa ainda mais bela.
Uma
curiosidade é que este livro ganhou diversos prêmios, entre eles o Livro de
Honra do Printz Award de 2013 (muito merecido, por sinal), mas, antes de
terminá-lo, o autor pensou duas vezes se deveria mesmo escrevê-lo e quase
abandonou o projeto depois de ter terminado o primeiro capítulo. Mas ele
resolveu que precisava ajudar os milhares de garotos pelo mundo que enfrentam o
mesmo problema que os seus personagens a se aceitar exatamente como são, e acho
que esses garotos (e garotas também, por que não?!) com certeza devem dar uma
chance a esse livro porque acredito que o autor terá êxito em ajudá-los, mesmo
que indiretamente, a achar suas próprias felicidades.
Recomendo a
leitura desta obra maravilhosa para todos aqueles que buscam histórias de
jovens cativantes em busca de aceitação e de uma identidade própria. E também
para aqueles que, assim como eu, gostam de ler sobre o amor nas mais diversas
formas.
“Último
ano. E, depois, a vida. Talvez fosse assim que as coisas funcionavam. O
colegial era apenas um prólogo para o verdadeiro romance. Todos tiveram chance
de escrever sua vida – mas, depois da formatura, você tem a chance de
escrevê-la com as próprias mãos. Na formatura, você consegue juntar a caneta
dos professores e a dos pais, além de ganhar sua própria caneta. E pode
escrever tudo sozinho. Sim. Não seria demais?”
Avaliação