Neste volume que está entre as
capas mais lindas da minha estante conhecemos a estória do jovem Jack que
acabou de perder sua mãe de forma repentina, e é mandado pelo pai do Kansas
para o Maine para estudar em um colégio interno para meninos. Tentando
compreender os eventos que avassalaram sua rotina, Jack conhece um estranho
garoto que não frequenta aulas, Early, que embora seja diferente é muito
inteligente e repleto de rotinas peculiares. Juntos eles partem na semana de
férias em uma busca pela estória de Pi, ou do urso Apalache, que mais do que um
animal grande e perigoso, vai representar o troféu depois de uma jornada
interna.
Minha dica para quem deseja ler
este livro é não busque compreender esse livro com a razão, ele é um convite a
subjetividade e ao coração. Não siga as lógicas conhecidas de uma narrativa
feita em primeira pessoa sob o ponto de vista de Jack, quee segue os estágios
de dois garotos inocentes que tentam compreender porque a vida tirou deles
aquilo que muito de seus colegas têm, suas famílias.
Eu me peguei buscando adjetivos
que expressassem o que este livro trabalha, achei tudo muito superficial, nada
trás a dimensão do que ele se propõe de maneira tão simples e única. A autora é
delicada ao falar de temas tão doloridos como a morte da mãe de Jack que ele
ainda não compreendeu e se sente culpado por não poder ter podido evitar; a
relação de Jack com seu distante pai militar que assim como ele não soube o que
fazer com a morte da esposa; a condição especial de Early de enxergar a vida
com sua lente que alguns chamam de autista, e por fim sua busca determinada
pelo irmão que todos acreditam ter morrido na guerra na Europa.
Jack cresceu muito próximo de sua
mãe já que o pai nos últimos anos estava a serviço distante, assim toda sua
referência é sua mãe e suas frases metafóricas que são constantemente usadas
como consulta do menino. Quando ele parte com Early ele acredita que está
apenas evitando estar sozinho na escola, mas aos poucos ele percebe depois de
muito se perguntar que ele também está em uma busca.
Early é dono de uma mente muito
poderosa, compreende a matemática de forma diferenciada através de cores e
estórias, e vê no Pi uma estória de vida bonita ao mesmo tempo em que faz
cálculos extraordinários de cabeça. Mas quando a questão é a vida real sua
interpretação do que acontece nem sempre está correta. A inocência é sua marca
mais forte, e não abre mão do que acredita muito fácil, aliás é muito difícil
alguém convencê-lo do contrário do que pensa. É difícil determinar quando ele
está na vida real e quando está perdido na estória de Pi.