Apesar de “O
Morro dos Ventos Uivantes” ser uma obra clássica e muito famosa, eu ainda não
havia lido essa história, que conquistou inúmeros fãs em todo o mundo e que já
até ganhou várias adaptações ao longo dos anos. Como estou em uma fase de ler
clássicos, já que me peguei apaixonada por esse tipo de livro, tento intercalar
sempre algo deste estilo com alguma coisa atual em minhas leituras. Por este
motivo, venho compartilhar com vocês em forma de resenha as minhas opiniões
sobre este título belíssimo que a Zahar lançou há pouco tempo, e que vale muito
a pena de ser adquirido.
Neste volume
conhecemos a história de duas famílias: os Earnshaw, que são donos de Wuthering
Heights, e os Linton. Logo no início da trama vemos que o patriarca da família
Earnshaw encontra um menino “cigano” nas ruas de Liverpool e resolve levá-lo
para casa, para ser criado junto com a sua família, já que o mesmo tinha dois
filhos, Hindley e Catherine.
Esse menino
cigano batizado de Heatcliff causou ciúmes em Hindley por se tornar o preferido
de seu pai, fazendo com que este nutra certo ódio pelo garoto. Porém, sua irmã
tem um sentimento totalmente diferente, já que a mesma sente adoração por ele,
e por isso vive para cima e para baixo com o mesmo, nutrindo entre eles um amor
estranho, intenso e até mesmo um pouco doentio, já que muitas vezes inclusive o
confundimos com ódio.
Heatcliff
sempre sofreu muito, já que Hindley sempre o maltratou e o humilhou durante
toda a sua infância, tornando-se um homem amargo e egoísta. Mas tudo piorou
quando o Mr. Earnshaw acabou falecendo, já que seu primogênito retornou dos
estudos casado, e ainda com muito ódio por seu irmão de criação, tratando-o da
pior maneira possível, e atribuindo ao mesmo os serviços mais penosos da
propriedade. Porém, a gota d’agua para ele foi quando Cathy decidiu se casar
com Edgar Linton, morador e herdeiro de Thrushcross Grange. Cansado de ser
maltratado e agora com o coração partido, Heatcliff vai embora da propriedade e
volta somente 3 anos depois, rico e educado.
Quando Heatcliff
foi embora, passou, então, a odiar Catherine tanto quanto a amava, dedicando
seu tempo em uma vingança doentia, onde ele pretendia arruinar a vida da mesma
e de todos ao seu redor. Esta é, portanto, uma história cheia de maldade e
vingança, onde o protagonista, tomado pelo seu amor obsessivo e possessivo, faz
atrocidades sem limites, atingindo até mesmo os filhos de ambos. Mas a história
não para por aí, e vemos que um verdadeiro amor pode nascer mesmo de um
ambiente não tão propício.
Todos os
personagens criados por Emily Brontë são muito interessantes e bem escritos,
despertando no leitor diversos tipos de sentimos por conta do jeito de ser de cada
um. Somos capazes de sentir amor e ódio pelo mesmo personagem devido a tamanha
complexidade que a autora utilizou em sua narrativa. Diferente de tudo da
época, ela retratou as atrocidades que um homem pode cometer e também suas
falhas de caráter. Mostrou, inclusive, como a personalidade de uma pessoa pode
se transformar negativamente, principalmente quando há muito sofrimento em sua
vida; dor, rejeição, morte, e coisas semelhantes, podem modificar uma pessoa de
maneira irreversível.
Esse título
é narrado em primeira pessoa por Sr. Lockwood, que, como vimos na trama, habita
a cidade e acaba nos trazendo um pouco do seu ponto de vista para essa famosa
trama, como também é narrado por Nelly, uma criada que esteve presente na vida
das duas famílias e durante toda a história do casal. A utilização de dois
narradores tão diferentes (e até mesmo opostos) nos deu mais perspectivas do
que teríamos caso só tivéssemos a oportunidade de conhecermos um dos lados, o
que deixou o enredo ainda mais rico e cheio de nuances e dualidades que se
complementam perfeitamente.
Como este
foi seu único romance publicado (ela também foi autora de poemas), e eu não
tinha lido até então, não conhecia sua forma de escrita, que é sensacional, e
agora posso dizer que fiquei completamente maravilhada com sua capacidade. A
narrativa não é linear, então em um momento estamos acompanhando algo
acontecido em uma data, depois alguns anos são recuados, depois outros são
avançados, e assim vai. Suas palavras conseguem se infiltrar na mente do leitor
de uma forma que cria raízes duradouras e fico realmente “incomodada” (não sei
se essa é a palavra certa) e triste por não existir mais algum romance escrito
por Emily Brontë para eu poder ler.
A edição que
li foi a Clássicos Zahar, publicada pela editora Zahar, que, como sempre, é
completamente magnífica. A começar por esta capa linda, desenvolvida pelo
talentosíssimo Rafael Nobre, da Babilonia Cultura Editorial, uma folha de
guarda espetacular, texto bem diagramado e confortável para leitura. A edição é
de capa dura e comentada – a tradução é de Adriana Lisboa, a apresentação é de
Rodrigo Lacerda (incluindo uma breve biografia da família e comentários sobre o
antes e o depois da publicação das primeiras obras das três irmãs), e as notas,
de Bruno Gambarotto.
Além de
tudo, há uma parte extra no final do exemplar, denominada Anexos, onde podemos
encontrar dois textos escritos por Charlotte Brontë quando houve a segunda
edição da obra de Emily (acompanhado de “Agnes Grey”, de Anne Brontë - tal qual
a primeira edição), depois do falecimento da mesma: “Nota Biográfica sobre
Ellis e Acton Bell” e “Prefácio do Organizador à Nova Edição de ‘O Morro dos
Ventos Uivantes’”, além de uma “Cronologia da Vida e Obra de Emily Brontë”.
“O Morro dos Ventos Uivantes” é daquele tipo de livro que nos desperta diversos tipos de sentimentos. Não é um livro fácil de se ler, já que tem uma narrativa mais complexa, sendo também uma leitura mais profunda, porém é uma história que vale a pena ser lida, pois é um clássico que ultrapassa a barreira do tempo e nos traz uma história de amor e ódio, uma vingança sem limites que retrata sobre as atitudes do ser humano e como às vezes a vaidade nos faz seguir por caminhos diferentes do nosso coração. Recomendo muito este clássico para todas as pessoas, porque acho que é muito interessante, inclusive para nos fazer refletir.
Avaliação
Olá!
ResponderExcluirEu comecei a ler esse livro há bastante tempo atrás e acabei deixando ele de lado. Embora eu adore clássicos, na época que peguei não devia ter sido o tempo certo. Acabei assistindo o filme o que despertou meu interesse novamente pela história. Eu adorei essa nova edição da Zahar, e já quero comprar para retomar essa leitura.
Parabéns pela resenha! =)
Beijos!
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