Remy Starr
não acredita no amor. Mas ela tem experiências (apesar de não serem dela
própria) suficientes para confiar firmemente nesta frase, afinal sua mãe já
está indo para o quinto casamento, e, se o amor deveria durar para sempre, como
ela poderia ter trocado alianças e votos com tantos homens assim? A própria
Remy não consegue se manter num relacionamento amoroso com ninguém por muito
tempo; quando as coisas começam a ficar mais sérias ela enjoa de tudo e decide
dar um ponto final na relação antes que haja algum envolvimento emocional mais
profundo. E a vida vai seguindo normalmente assim mesmo.
Mas agora,
prestes a entrar para a faculdade, a vida de Remy, que parecia que seria bem
monótona neste verão, acaba mudando. Ela conhece Dexter, o vocalista de uma banda
que não poderia ser mais diferente dela: desajeitado, fofo e impulsivo. Remy,
que é prática, fria e gosta de tudo planejado, tinha certeza de que nunca se
envolveria com alguém que estivesse em uma banda, já que seu próprio pai
pertencia a uma e abandonou a família antes mesmo do nascimento da filha, e ela
queria manter distância de alguém semelhante.
Só que
Dexter não é nada parecido com ele, e vai acabar quebrando as barreiras que
Remy construiu ao redor de si aos pouquinhos, fazendo com que ela passe a
questionar seus verdadeiros sentimentos e passe a entender melhor os dos
outros, principalmente quando o assunto é sua mãe. Resta saber se já será tarde
demais para consertar as coisas ou se ainda há chance para o amor em sua vida.
Quando o
assunto é livro contemporâneo voltado para o público jovem adulto, Sarah Dessen
é, definitivamente, uma das minhas autoras preferidas. E com “Uma Canção de
Ninar” ela só veio comprovar, mais uma vez, que tem um lugar cativo no meu
coração. Amei a leitura e não vejo a hora de ter mais de suas obras traduzidas
para o português do Brasil (ainda faltam seis mais um conto), então tenho que
basicamente implorar: por favor, Editora Seguinte, publique mais títulos de
Dessen!
“Ela caiu,
ela se machucou, ela sentiu. Ela viveu. E, mesmo com todos os tombos, ainda
tinha esperança. Talvez na próxima vez desse certo. Talvez não. Mas, sem entrar
no jogo, não dá para saber.”
A leitura é
muito fluida ao mesmo tempo em que parece durar bastante, nos inserindo naquele
cenário e contexto, como se realmente fizéssemos parte da história junto com os
personagens. Sarah nos faz refletir em cada página sobre a vida, o amor, a
família, e muitas outras coisas, sua narrativa é deliciosa, leve, envolvente, e
suas palavras conseguem nos prender de uma maneira que nem todos os autores
conseguem.
Gostei muito
da Remy, ela tem um ar mais blasé em relação às coisas, mas como a narrativa é
em primeira pessoa, podemos conhecê-la muito bem e entender seus sentimentos e
o que pensa sobre o mundo e o que vivencia. Posso, inclusive, dizer que ela é
diferente de muitas protagonistas que já conheci e isso só fez com que eu
gostasse ainda mais dela.
Dexter é
outro caso à parte que merece ser citado. O garoto é ótimo e gostei muito dele,
inclusive por ser tão diferente de Remy, mas mesmo assim igualmente adorável.
Curti sua determinação e também seu jeito estabanado, daquele tipo que suas
“imperfeições” o tornam alguém mais legal. Além do mais, ele sai do estereótipo
de vocalista de banda que estou acostumada a conhecer nos livros.
“Eu sabia
que não havia garantias. Não tinha como saber o que viria a seguir para mim, ou
para ele, ou para qualquer um. Algumas coisas não duravam para sempre, mas
outras, sim. Como uma boa música, ou um bom livro, ou uma boa lembrança que se
pode pegar e desdobrar nos piores momentos, segurando pelos cantos e olhando
bem de perto, esperando reconhecer a pessoa que se vê ali.”
Dos
personagens secundários, gostei das três melhores amigas de Remy igualmente,
Jess, Chloe e Lissa, que inclusive me deixaram com mais vontade de conhecê-las
melhor, e até queria livros com elas como protagonistas. E também gostei da
família dela, sua mãe, Barbara (apesar de ser bem abusada em alguns momentos,
acho que passou algumas mensagens importantes para Remy com o passar do tempo),
e seu irmão, Chris. Jennifer Anne, a namorada dele, também apareceu bastante,
mas não gostei tanto assim dela. E os outros membros da banda Truth Squad (de
Dex), com destaque para John Miller, que é bem divertido e também me deixou com
vontade de conhecê-lo mais (também queria livro dele! Haha), os outros, Lucas e
Ted, não apareceram tanto, mas não curti o Ted. E amei o cachorro de Dex,
Macaco.
“Era preciso
admirar aquele tipo de amor tão absoluto que não podia esperar algumas horas.
Nunca tinha sentido nada tão forte por ninguém. Era bonita aquela necessidade
desesperada de dizer algo a alguém no mesmo instante. Quase romântico, na
verdade.”
Curti muito
ver o crescimento de Remy com o passar das páginas. Mesmo não sendo nada fora
do normal ou tendo acontecido algo que realmente pudesse mudar a vida de
alguém, é muito reconfortante ver que mesmo pequenas situações podem mudar
nossas vidas para melhor, que um simples pensamento pode nos fazer refletir e
abrir novas portas em nossa mente, que uma pessoa pode nos fazer descobrir
sentimentos que nunca pensaríamos que poderia existir, entre muitas outras
coisas que muitas vezes nem percebemos, mas que acabam mudando a gente,
fazendo-nos amadurecer. E que a vida é assim mesmo, um conjunto de situações,
momentos e pessoas que separados podem não parecer muito, mas juntos tornam
nossa vida algo extraordinário, afinal as melhores coisas se desencadeiam
graças às menores.
“Me
aproximei dela, até nos encostarmos. Joelho com joelho, braço com braço, testa
com testa. Me inclinei para perto e apreciei a atração que senti ali, algo
quase magnético que nos prendia uma à outra. Sabia que isso sempre existiria,
não importava quanta distância houvesse entre nós. Aquela forte sensação das
coisas que compartilhávamos, boas e ruins, que haviam nos levado até ali, onde
minha própria história começava.”
Apesar de
terem romance, os livros de Dessen nunca têm este ponto como a parte principal
da trama, ele segue como algo muito importante na vida das pessoas – no caso
desta protagonista, ela vai descobrindo aos pouquinhos como o amor pode, sim,
existir–, mas não como a parte central, o que eu acho maravilhoso, porque é
exatamente assim que acontece na vida real (ou que deveria acontecer).
Gosto muito
da forma como a autora trabalha com as metáforas dentro do enredo, fazendo com
que o leitor tenha uma nova forma de encarar suas palavras, precisando prestar
atenção nas entrelinhas. A própria Remy passou a ver o amor com outros olhos
por causa de cada pequeno momento ou situação inesperada que ela encontrou pelo
caminho, que precisaram de uma reflexão e uma sensibilidade maior para
percebê-las, fazendo com que ela tenha passado a ter uma visão diferente com o
passar do tempo.
“Talvez um
casamento, como a vida, não fosse apenas de Grandes Momentos, bons ou ruins.
Talvez fossem todas as pequenas coisas [...] que fortaleciam até o mais tênue
dos laços.”
Geralmente
não separo muitos quotes de obras que leio, mas não consegui me conter neste
caso e fiz uma pequena grande seleção, que espalhei por esta resenha
para vocês perceberem a sutileza que ela utiliza nos seus pontos reflexivos e o
poder que as palavras têm.
Talvez, se
você estiver buscando uma trama cheia de situações tensas ou muitas
reviravoltas, momentos de grande euforia ou tristeza, pode acabar não curtindo
tanto quanto eu. Mas eu já sabia o que esperar: uma história de vida real, com
as coisas seguindo seu próprio ritmo, e o crescimento batendo à porta da personagem
principal, com sua vida, seus relacionamentos familiares, de amizade e amoroso
sendo apresentados e desenvolvidos sutilmente, e com um final fofo e feliz que
me daria conforto e alegria por ter lido. E foi isso o que encontrei, e de uma
maneira que Dessen sabe fazer muito bem, me conquistando novamente.
Adoro
realmente esta capa, porque sou apaixonada por fotografia e esta é maravilhosa,
e a tipografia do título também está linda! O texto está muito bem diagramado,
deixando a leitura mais confortável. E a edição impressa conta com capa em soft
touch (emborrachada), páginas amarelas, e um marcador na orelha, para
recortarmos.
“Mas afastar
as pessoas e negar o amor não te torna mais forte. Na verdade, te deixa mais
fraca. Porque você está agindo por medo. [...] De arriscar. De se soltar e
ceder, e é isso que nos transforma no que somos. Riscos. Isso é viver.”
“Uma Canção
de Ninar”, de Sarah Dessen, é mais uma obra da autora que me conquistou com
toda a sua sensibilidade e forma de fazer pensar. Gostei muito de quase todos
os personagens e me deliciei com cada trecho da história. Sei que alguns
leitores podem não sentir o mesmo que eu, mas estou apaixonada pela história de
Remy e indico para todos que curtem obras do gênero jovem adulto contemporâneo
que retratam fielmente a vida real.
Avaliação
Já li outros livros da autora e confesso que não curti muito, no entanto tenho ouvido muitos elogios sobre esse livro, e por isso estou bastante ansiosa por essa leitura. Gosto de muito de histórias que retratam dramas familiares como nesse, e a autora sabe fazer isso muito bem, vejo que ela conseguiu construir muito bem tanto os personagens principais quanto os secundários, acho que vou gostar muito dessa leitura.
ResponderExcluirCom o quinto casamento de sua mãe e o abandono do pai, Remy têm motivos de sobra para não querer se envolver com alguém pra valer!! Dexter parece ser tudo o que ela não quer, mas quando o amor bate de frente, não tem como ela escapar!! Será?? Já quero ler!!
ResponderExcluirEssa resenha me deixou com um gostinho de quero mais! Você me faz querer ler esse livro.Já tinha visto ele por ai, mas meu interesse não tinha sido despertado. Quero conhecer mais a Remy e acompanhar seu crescimento.
ResponderExcluirAbraços é até a próxima.