A Metade Sombria - Stephen King


Já fazia muito tempo que tinha me decidido em ler Metade Sombria, do autor Stephen King, publicado pela Suma de Letras, a ponto de eu nem me lembrar porque queria ler esse livro. O bom dessa memória falha é que a leitura não tem spoiler nenhum e expectativas baixas (não exatamente já que trata-se de King não é mesmo?!).

Thad Beaumont é um escritor que ganhou fama com uma série de livros escritos sob um pseudômino de George Star, uma pessoa não muito agradável. Após ter seu segredo descoberto ele para de escrever atrás desse nome, 'matando' o mesmo. O que ele não esperava é que Stark não aceitaria a aposentadoria, e ganharia vida e não contente com sua morte acabaria por espalhar o caos por onde passa. Agora Thad tem que compreender o que está acontecendo já que os pardais estão voando novamente!

Narrado em terceira pessoa com a personalidade já consagrada de King que equilibra momentos calmos e quase poéticos, com cenas de brutalidade e sangue como se estivesse descrevendo mais um dia na vida de uma pessoa comum. É muito perceptível como o autor sabe bem o que pretende com sua narrativa transparecendo toda a loucura que sua mente se envolve para criar a narrativa. Entretanto o que me incomodou é que ele pesou na extensão do livro, e muitas páginas poderiam ter sido retiradas, e em determinados momentos a leitura ficou cansativa.

Thad Beaumont é um autor casado com filhos gêmeos, ao lado de Liz parece ser uma pessoa comum já que além de escrever ainda é professor em uma universidade. Mas seu passado esconde um fato estranho, aos onze anos de idade ele passou por uma cirurgia para retirada de um tumor no cérebro, e o que foi encontrado em sua cabeça foi muito bizarro. É um homem quieto e misterioso, mas é dedicado aos filhos e a sua esposa.

Liz, a esposa é uma verdadeira companheira, e depois de passar por situações ruins ainda se mantêm ao lado do marido, tentando compreender e aceitar a loucura e as criações do marido. É também uma mãe protetora, capaz de tudo para proteger seus filhos.

Alan, é o xerife de Castel Rock, local onde Thad tem uma casa de veraneio. A primeira vítima de Star é neste local, e logo Alan se vê envolvido com o autor e estranhas pistas que o primeiro crime deixa. Aos poucos passa a conhecer Thad, mas tem dificuldade em aceitar a verdade que parece não ser possível.

Stark é um vilão terrível, por ser alguém que não tem ninguém e que quer só vingança e posteriormente evitar sua própria morte, e não se preocupa em se esconder e menos ainda poupar vidas. Todas suas mortes são grotescas e cruéis. É nojento e despertou total ódio em mim rs! Sua intimidade com Thad trás mais perturbação ainda!

A ideia de um pseudônimo ganhar vida e vingar sua morte é muito original, nas páginas finais King explica que a ideia nasceu quando seu próprio pseudônimo (Richard Bachman) foi descoberto e ele teve que deixá-lo para trás. Metade Sombria nasceu em 1989, e estava esgotado no Brasil até ganhar essa nova edição de capa dura na Coleção Biblioteca King.


Depois da Última Dança – Sarra Manning


2 Histórias. Uma no Passado, outra no Presente, que se fundem no tempo atual. Essa junção sempre me atrai. Por isso quis ler esta obra envolvente. O passado retrata 1943, quando uma jovem vai ao encontro de uma vida de glamour em Londres, vinda do interior e trazendo consigo apenas 1 casaco de pele e 2 vestidos. Seu sonho estava prestes a se realizar graças a sua ousadia, coragem e força de vontade.
Ela acabou onde queria, no Rainbow Corner, o mais famoso salão de danças frequentado por soldados americanos em Londres (realmente existiu! Eles iam lá dançar para se desligar dos terrores). A 2ª Guerra Mundial se fazia presente nesta época, nos bombardeios, na vida triste da população e ao redor do mundo.
Em 2003, Jane chega em King’s Cross, mesma estação que Rose desceu, com a diferença de que não conhecemos o motivo que a levou até ali. O que sabemos é que ela entra vestida de noiva em um bar procurando alguém com quem se casar. E Leo aceita.
Jane e Rose acabam se encontrando e seus destinos são entrelaçados. Leo é maravilhoso e tem muita importância na trama, pois foi a ponte para elas se conhecerem. Ele vence barreiras como drogas e alcoolismo, e reconhece um erro que cometeu no passado com a ajuda de Jane. Há romance, que não começa como tal, mas como uma ajuda mútua e com muitos erros e acertos de ambos, que se transformará em um bonito amor.
O pano de fundo do passado é a Guerra e o Rainbow Corner. Vemos com clareza que a autora pesquisou muito bem cada detalhe e nos transporta para a época como se realmente estivéssemos fazendo parte da história. A atualidade é cheia de surpresas e traz uma jovem que luta para sobreviver neste mundo conturbado e acha um jeito. Mesmo com os transtornos que enfrenta, o amor sobrevive.







Contato de Emergência – Mary H.K. Choi


Penny é introvertida e tem uma mãe que é seu total oposto, fazendo com que ela sinta muita vergonha e se irrite com tudo o que Celeste faz. Ela também namora um garoto bonito, mas sem graça. Então não vê a hora de deixar essa vida e começar a faculdade para se dedicar ao sonho de ser escritora.

Sam está vivendo um momento bem ruim. Depois de deixar para trás sua mãe alcoólatra e terminar um namoro abusivo com uma garota por quem ainda é muito apaixonado, ele passa a viver em cima do café onde trabalha, e lá se sente bem fazendo doces e é independente – mas sem dinheiro.

Quando uma notícia pode abalar ainda mais sua vida, Sam tenta não surtar. Mas tem um ataque de pânico e é Penny que o socorre. Então eles passam a trocar mensagens de texto que a princípio não parecem grande coisa até que começam a revelar segredos e os sentimentos nascem.

Essa capa chamou minha atenção pelas ilustrações, jogo de cores e título. Quando li a sinopse fiquei ainda mais empolgada pela leitura, porque curto bastante obras que trazem relacionamentos que começam no meio virtual e passam para o real, já que é algo bem comum nos dias atuais, pois a tecnologia permite que as pessoas se aproximem de uma forma que talvez o encontro cara a cara não conseguisse – como nesse caso.

Considero que foi uma leitura interessante porque os personagens são originais, se mostrando gente como a gente, com pensamentos mais profundos (inclusive melancólicos e obscuros) e comportamentos reais. Porém, infelizmente não consegui me conectar muito com eles. Mesmo que saibamos sobre suas vidas, pensamentos e modos de agir, senti como se fossem fatos e informações, faltando um pouco de aprofundamento e emoção. Até as mensagens que trocavam pareciam meio desconexas as vezes. E não gostei de Penny. Suas atitudes, principalmente com relação à mãe e outras mulheres foram imaturas, desnecessárias e chatas. Me irritou em diversos momentos.

O que eu mais gostei foi que a autora abordou temas importantes, como alcoolismo, estupro, abuso, pobreza, identidade, crescimento, ataque de pânico, imigração, etc. Só acho que também faltou profundidade em alguns deles. Ah, e o título é incrível e combina muito com o enredo.

A trama nos prende de uma forma que queremos saber o que vai acontecer em seguida, desejando o crescimento de Penny e a melhora na vida de Sam, que é doce e sentimental. Queria descobrir mais sobre eles, entendê-los mais a fundo e me apegar. Mas ao mesmo tempo achei a narrativa lenta. Também torci bastante pelo casal, já que eles combinam perfeitamente.




O Gigante Enterrado - Kazuo Ishiguro

Revendo mentalmente minhas leituras até hoje nunca havia lido um nobel de literatura (eu acho!), sabe-se lá porque mas isso era uma verdade até que O Gigante Enterrado, do autor Kazuo Ishiguro, publicado pela Companhia das Letras chegou até as minhas mãos.

Em um pequeno vilarejo bretão escavado entre as pedras vivia o casal Axl e Beatrice. Suas vidas seguiam sem rumo, com suas memórias perdidas entre as brumas. Depois de um lampejo de memória Axl resolve que chegou o momento de partirem para a vila que seu filho mora. Sem saber qual é o caminho, menos ainda qual é exatamente o local que o filho mora, eles partem apenas com a certeza que seu filho os aguarda a muito tempo. O que eles não esperavam é que mais do que encontrar o filho eles devem buscar dentro de si sua própria estória, além das lembranças do que viveram juntos.

Eu fui esmagadoramente afetada pela leitura deste livro, tive uma conexão inconsciente que fez com que a leitura me incomodasse muito, mas não por questões narrativas ou pela qualidade da estória, mas porque o tema central da trama teve ecos nos conteúdos do meu inconsciente. Ishiguro narra sua estória em sua grande parte em primeira pessoa através de um narrador que conhecemos a identidade apenas ao final do livro, e o faz de forma simples, mas bastante cadenciada, com isso a leitura não é rápida, e é as vezes um pouco arrastada.

O grande problema que eu identifiquei e que me incomodou foi o fato dos personagens sofrerem com essa névoa que faz com que eles se esqueçam de suas memórias, sejam as do passado, sejam até de atos recentes do mesmo dia. Logo foi angustiante não conhecer a estória deles, e acompanhar o esforço dos mesmos para se lembrarem. A trama se passa todo tempo nesse escuro, nessa busca pela vila do filho, pela identidade do casal, pelas memórias de vida deles que já não sabem se foram felizes, se fizeram mal um ao outro e etc. É como estar constantemente em um sonho, onde não sabemos o que é real, o que é imaginação, é tudo muito onírico.

Todos os personagens que surgem e interagem com o casal sofrem em graus diferentes dessa névoa, que tem uma explicação mais tarde. Isso só reforça a angústia porque acaba nos jogando em vidas sem propósito, sem rumo. Wistan é um guerreiro saxão que torna-se um companheiro de jornada, é o que mais tem conhecimento sobre tudo que se passa, e assim o que mais tem a esconder. Gawain é um cavaleiro do Rei Arthur que vive das memórias de um rei que já se foi (dois ou três capítulos são narrativas dele em primeira pessoa de seus delírios, me lembrei de Dom Quixote nestes trechos).

Axl é um velinho muito amoroso e dedicado a esposa, tem um carinho e cuidado que enche o coração de ternura. Ele acha que fez coisas reprováveis no passado, mas que se mesmo assim ainda ama sua esposa é tudo que interessa no momento. Beatrice é muito dependente do marido, precisa saber que ele está por perto para se fortalecer. É corajosa e determinada, mesmo quando a doença a consome, ela não se deixa abater quando tem um propósito a seguir. Axl e Beatrice formam um casal meigo que inspira.


A Mulher Desiludida – Simone de Beauvoir


Nesse volume somos apresentados a três histórias e cada uma delas traz uma protagonista mulher, todas bem diferentes. Na primeira, denominada “A Idade da Indiscrição”, conhecemos uma professora universitária e escritora de certa idade, que tem medo de que com o passar dos anos sua criatividade para a escrita vá diminuindo. Ela enfrenta alguns problemas como o seu casamento, que começa a ser afetado pelo tempo, seu filho que apresenta ideias diferentes da sua, etc. E com isso começa a se sentir vazia e traída. Essa é uma história bem reflexiva e nos faz pensar sobre a como o passar dos anos vai influenciando em nossas vidas.
Em “Monólogo” conhecemos Murielle, uma mulher cheia de conflitos e de gênio forte que enfrenta o seu segundo divórcio e o luto por conta do suicídio de sua filha. Acompanhamos sua dor e desespero por tudo o que está passando, e como ela acaba tentando justificar suas atitudes ao mesmo tempo em que questiona todas elas. Essa foi uma história bem intensa.
E “A Mulher Desiludida”, narrada em forma de diário, traz a história de Monique, uma dona de casa que é casada há mais de vinte anos e descobre que seu marido tem uma amante, que é mais jovem e mais bonita. Acompanhamos então nossa protagonista, que era uma mulher alegre, se tornar uma pessoa depressiva, que fica se perguntando onde errou, já que tudo que queria era sua família feliz. Esse conto relata a realidade vivida por muitas mulheres, na qual o marido trai e ainda se faz de vítima e a mulher fica procurando o erro nela própria, quando claramente está em outra pessoa.






A Casa dos Pesadelos - Marcos DeBrito


Quando me foi oferecido a leitura de A Casa dos Pesadelos, do autor Marcos DeBrito, publicado pela Faro Editorial, eu fui logo aceitando, afinal livro com fantasmas são comigo mesmo. Mas a medida que a leitura foi passando eu me deparei com uma realidade mais cruel e visível do que eu poderia imaginar!

Tiago é um adolescente retraído e muito calado, em uma visita a casa da avó dez anos atrás passou por um trauma que o marcou a ponto de a terapia ser sua companhia desde então. Agora acompanhado do irmão e da mãe ele aceita voltar para a casa que tanto o assombra para saber se suas lembranças são verdadeiras ou invenções de uma mente infantil. O que o assombrava ainda estava na casa, mas agora com seus olhos mais maduros o que ele descobre pode ser ainda pior do que o fantasma que tinha em sua mente.

A narrativa segue em terceira pessoa sob a perspectiva do protagonista Tiago, alterna capítulos no passado e no presente. No início não sabemos exatamente do que se trata seu trauma, mas com o nome do livro fica sugerido que trata-se de uma assombração ou um fantasma. Essa informação de fato ronda o livro, embora raramente apareça o tal fantasma, e em momento algum a estória tenha gerado medo ou suspense diante do desconhecido. A narrativa é dinâmica e objetiva, acrescentando informações para que aos poucos imaginemos o que Tiago viu na infância.

Na casa da avó existe um quarto trancado que pertencia ao avô já falecido. E aparentemente os estranhos sons que o jovem ouviu e volta a ouvir surgem deste quarto. E é a partir destas duas informações eu criei uma possibilidade para o desfecho, mas já vou logo dizendo que nada que imaginava se concretizou. O final foi tão inesperado, foi tão surpreendente que ao fechar o livro eu fiquei uns bons minutos me perguntando o que era aquilo.

O livro é tão curto que se eu compartilhar mais alguma informação sobre o desfecho vai estragar toda a surpresa que ele gera. Infelizmente esse final inesperado não é agradável, não do ponto de vista do trabalho literário, mas para o personagem, e para o leitor que fica com uma sensação horrível ao descobrir o grande segredo.

Tiago parece ser um adolescente comum na famosa fase de reclusão onde todos os adultos incomodam, não o compreendem e ainda fazem do seu mundo pior. O que ele é diferente dos demais é que a situação que viveu na infância o faz ter medo e se fechar para vida. A mãe faz o que pode para compreender a situação, mas ela vive entre ser uma mãe compreensiva, e ser uma mãe que não leva o problema tão a sério como se a experiência apenas tenha sido um mal entendido da infância do menino.

Determinado a resolver a situação o adolescente começa enfrentar a assombração, mas é só depois de conhecer a vizinha que ele tem coragem de abrir o quarto do avó e se deparar com uma verdade inconveniente. A trama depois de sua descoberta se descortina bem rápido chegando ao seu ápice sem nos preparar.


Almas a Caminho da Redenção – Wanda A. Canutti


Conhecemos uma família de base sólida, unida por amor e respeito mútuo, vivendo um momento feliz. Até que vê a realidade mudar quando uma reviravolta acontece, revelando que um dos membros estava envolvido numa situação com outra pessoa, cuja personalidade ruim trouxe consequências negativas e difíceis para todos.
Com o desenrolar da trama, fomos descobrindo essa parte da história que envolve o patriarca da família, que guardava segredos profundos. Então acompanhamos essa mãe amorosa, que vê seu casamento desmoronar e muita dor nascer entre seus entes.
O mal fica dentro desse lar por muito tempo de forma espiritual, despertando medos, ansiedades, sentimentos negativos e sofrimento nessas pessoas, que não conseguiam entender o motivo de viverem aquilo. Fiquei impressionada em como os jovens passaram por tantas coisas ali dentro, ficando até amedrontados.
Quando o pai percebe algumas coisas a respeito do que vinha fazendo há anos, se arrepende. E, mesmo parecendo tarde para mudar e salvar a situação, corre atrás dessa mudança e procura ajuda. Então mais tarde vemos a providência divina, a fé e a união vencendo essa etapa da vida. Houve perdão, mas não tivemos a chance de acompanhar muito da trama posterior a isso.
O enredo foi bem escrito e a autora soube amarrar as pontas. Fiquei angustiada em algumas partes, mas, por outro lado, consigo entender o porquê de tudo. Os personagens foram bem construídos com suas próprias personalidades, e a narrativa é fluida.




Mack Daddy – Penelope Ward


Frankie era esquisita para algumas pessoas, mas não para Mack. Desde que a conheceu, ele enxergou mais nela do que qualquer um. Vivendo num mundo de aparências com pessoas cheias de si que agiam de forma meio condenáveis com objetivo de crescimento pessoal sem ligar para opiniões alheias, ela sempre foi seu escape. Alguém com quem Mack podia ser ele mesmo. Os sentimentos foram surgindo e eles sempre estavam juntos. Era real e verdadeiro. Tudo estava indo bem, até que algo muda a vida dele.
Anos se passam e Mack, agora pai, se muda de volta para a cidade onde Frankie é professora e matricula o filho na escola onde ela dá aulas. Ele quer provar que os anos que passaram não diminuíram seus sentimentos, mas Frankie está num relacionamento com alguém que a trata muito bem. A razão dificilmente vence uma batalha contra o coração, mas ela está preparada para arriscar e confiar novamente nele?
Conheci Penelope por seus livros em coautoria com Vi Keeland, minha autora favorita de Romances Contemporâneos. Vários foram publicados no Brasil e adoro todos! Estava com expectativas para essa obra e AMEI!
Do começo ao fim, senti meu coração quentinho. Adorei as personalidades de Mack e Frankie, vê-los juntos descobrindo os sentimentos e lidando com tudo de forma madura. Estou apaixonada pela história deles.






Dublinenses - James Joyce


Eu sempre achei a Irlanda incrível, aquelas paisagens verdes e uma cultura rica em cultura celta e galesa que vai direto ao encontro do meu coração. No entanto com o passar dos anos acabei em um amor com a Inglaterra e um flerte com a Escócia, e com isso a Irlanda ficou para trás, para alimentar meu carinho pelo lugar e conhecer um novo autor clássico escolhi ler Dublinenses, do autor irlandês James Joyce, publicado pelo selo Penguin.

Joyce escreveu este volume antes de seu famoso livro Ulysses. Embora escritos no comecinho do século XX ele só conseguiu reuni-los e publicá-los em 1914. Através de quinze contos o autor descreve a Irlanda do início do século XX em toda a sua crueza, explorando personagens da classe média católica através de diversos conteúdos e questões importantes a época.

Os fatos mais marcantes e que surgem com frequência são os atritos do país com a Inglaterra, cujo qual viria a se tornar independente em 1922. Fica muito claro através dos diálogos dos personagens que a população estava dividida entre os conservadores que buscavam o nacionalismo e o resgate cultural, incluindo palavras em gaélico no meio do inglês, e os que estavam acostumados ao domínio inglês.

Mais acentuado ainda são os problemas religiosos entre Católicos X Protestantes, já que as pessoas eram medidas pela sua escolha religiosa. A religião era assunto de roda de amigos em pubs, e o comportamento de padres, por exemplo, aparecem como um destes assunto de 'bar'.

É assim no dia a dia que cada um dos contos se constrói, são recortes de vidas,  já que não tem um começo ou fim, é como se de repente você caísse na vida dos personagens, espiasse um pouco e depois se retirasse antes de alguma conclusão. Muitas vezes a trama estava interessante e envolvente, e a estória morria no nada, como se o autor não tivesse terminado o conto. Isso foi de longe o que mais me incomodou na narrativa de Joyce, que explorou pontos narrativos tanto de terceira como primeira pessoa. A linguagem é bastante coloquial e revela a classe social ou a posição social de cada um dos personagens, além de trazer informações sobre posicionamentos políticos e religiosos.

Os protagonistas são bastante variados, começam com crianças, passando por adolescentes até os mais velhos, e isso permite uma visão abrangente da sociedade irlandesa, e o lugar que cada um deles tinha, incluindo o de mulheres e homens. Alguns deles acabam por passar nos mesmos lugares, já que todos eles se passam na cidade de Dublin. A repetição acaba criando uma sensação de familiaridade, mesmo de longe.

O tradutor teve o cuidado de colocar diversas notas para explicar locais, termos e outros aspectos culturais que auxilia e muito na compreensão da escrita. A música é com frequência evocada, e o tradutor sempre trás referências das mesmas. Não li Ulysses, mas o tradutor coloca que diversos personagens irão surgir nesse livro posteriormente, então acredito que deva ser interessante ler os contos antes de Ulysses.

Os contos que mais me agradaram são "Dois Galantes", "A Casa de Pensão" e "Um Caso Doloroso". Por se tratar de contos não darei sinopses para não estragar as breves surpresas, porque sim, elas são raras, não trata-se desse tipo de escrita que trarão grandes sensações. O valor desse livro ao meu ver é conhecer a realidade cultura daquele país, o Zeitgeist peculiar e muito característico que com certeza moldou o que hoje esse povo é. Eu me senti entre as ruas de Dublin, entre as pessoas, não necessariamente as que eu escolheria para seguir, mas não por isso que não daria atenção.

Infelizmente o modo de trabalhar seus contos não me agradou, do ponto de vista literário são em sua maioria desinteressantes e parados. Como relatei anteriormente, o potencial estava lá, mas eles nunca finalizava, não tinha um fim, uma moral ou mistério, nada. Talvez não incomode outros leitores, mas eu não me adaptei ao seu estilo. E o que me prendeu ao livro todo tempo foi conhecer a Irlanda, e isso sem dúvidas é possível através de suas palavras.


Nova York: A Vida Na Grande Cidade – Will Eisner


Gosto bastante de HQs e Graphic Novels e ainda não tinha tido a oportunidade de ler um dos maiores nomes do gênero. Quando surgiu a oportunidade de ler esse exemplar de ninguém menos do que o genial Will Eisner, logo embarquei nessas páginas.
Nessa obra de mais de 400 páginas estão reunidas 4 Graphic Novels, escritas nos anos 80 e 90, com uma série de vinhetas, variadas histórias curtas. Algumas são interligadas, mas a maioria é independente. Nelas acompanhamos a vida (e a morte muitas vezes) cotidiana de Nova York, mas, como o próprio autor comenta na introdução, são “o retrato de uma cidade grande... qualquer cidade”, trazendo elementos que nunca mudam, como grandes edifícios, grandes áreas e grandes populações.
Há casos de amor, traição, esperança e desilusão. Pessoas felizes, outras miseráveis. Ricos e Pobres. Novos e Idosos. Comportamentos bons e outros brutais. Cenas cheias de possibilidade, outras bem trágicas. Etc. É a realidade que o autor via nas ruas e transferia para o papel de forma muito verdadeira.
Além de Eisner ter sido um exímio ilustrador e um incrível escritor, era também um observador brilhante. Nessas tramas, ele mostra a realidade crua, a individualidade do ser humano, seu descaso e sua crueldade. Também há uma grande carga emocional presente em suas páginas e muitas dos momentos ali retratados nos fazem refletir e até trazem tristeza ao nosso coração.




Tudo é tão realista que o leitor se sente dentro da história, passando por Nova York e vendo todas aquelas cenas se desenrolando bem na sua frente. Talvez você conheça alguém que tenha feito algo semelhante ou tenha você mesmo vivenciado algo ali retratado.







Dom Quixote – Miguel de Cervantes


Sempre quis ler essa história escrita no Século XVII, já que é considerada o primeiro romance moderno, mas não tinha tido a oportunidade. Ano passado resolvi que não dava mais para postergar e embarquei na leitura pela edição da @companhiadasletras com os 2 volumes. E fico feliz por ter conseguido, pois valeu cada minuto.
Nessa trama conhecemos Dom Quixote, um homem de meia idade que, após ler muitos romances de cavalaria, resolve que quer se tornar um cavaleiro. Por isso, arruma seu cavalo e uma armadura e decide sair de sua fazenda para encarrar o mundo com os seus ideais. E conta com a ajuda de Sancho Pança, um lavrador que se torna o seu fiel escudeiro, para que juntos possam ir em busca de aventuras e de ajudar os fracos e oprimidos, tudo com a benção de Dulcineia del Toboso, musa imaginária do protagonista, a quem ele quer provar seu verdadeiro amor.
Narrado através de vários episódios vividos por Dom Quixote e seu fiel escudeiro e amigo Sancho Pança, acompanhamos suas aventuras e desventuras e os vemos retornarem com dentes quebrados, dores nas costas, etc., mas também com várias histórias. E nessa jornada eles conhecem vários tipos de pessoas, umas que os ajudam, algumas que tentam fazer com que voltem para casa, entre outras, mas todas com histórias bem interessantes.
Em todos as pequenas aventuras que li, confesso que me encantei pelo personagem. E ri bastante no início. Porém, depois a história vai ficando um pouco mais reflexiva e acabamos nos incomodando com as atitudes de alguns indivíduos em relação ao nosso protagonista, o que nos desperta raiva e preocupação.
Insano lúcido, aventureiro, amigo, inteligente e bondoso essas são algumas das características de Dom Quixote, que em busca de fazer algo diferente de sua vida, mergulhou em suas loucuras para seguir o caminho de seu coração, utilizando a justiça social como bússola e criando situações que só se passam na sua mente, como lutar com moinhos como se fossem gigantes, afrontar monges como se fossem feiticeiros, etc.