Eu sempre achei a Irlanda
incrível, aquelas paisagens verdes e uma cultura rica em cultura celta e galesa
que vai direto ao encontro do meu coração. No entanto com o passar dos anos
acabei em um amor com a Inglaterra e um flerte com a Escócia, e com isso a
Irlanda ficou para trás, para alimentar meu carinho pelo lugar e conhecer um
novo autor clássico escolhi ler Dublinenses, do autor irlandês James Joyce,
publicado pelo selo Penguin.
Joyce escreveu este volume antes
de seu famoso livro Ulysses. Embora escritos no comecinho do século XX ele só conseguiu
reuni-los e publicá-los em 1914. Através de quinze contos o autor descreve a
Irlanda do início do século XX em toda a sua crueza, explorando personagens da
classe média católica através de diversos conteúdos e questões importantes a
época.
Os fatos mais marcantes e que
surgem com frequência são os atritos do país com a Inglaterra, cujo qual viria
a se tornar independente em 1922. Fica muito claro através dos diálogos dos
personagens que a população estava dividida entre os conservadores que buscavam
o nacionalismo e o resgate cultural, incluindo palavras em gaélico no meio do
inglês, e os que estavam acostumados ao domínio inglês.
Mais acentuado ainda são os
problemas religiosos entre Católicos X Protestantes, já que as pessoas eram
medidas pela sua escolha religiosa. A religião era assunto de roda de amigos em
pubs, e o comportamento de padres, por exemplo, aparecem como um destes assunto
de 'bar'.
É assim no dia a dia que cada um
dos contos se constrói, são recortes de vidas, já que não tem um começo ou fim, é como se de repente
você caísse na vida dos personagens, espiasse um pouco e depois se retirasse
antes de alguma conclusão. Muitas vezes a trama estava interessante e
envolvente, e a estória morria no nada, como se o autor não tivesse terminado o
conto. Isso foi de longe o que mais me incomodou na narrativa de Joyce, que
explorou pontos narrativos tanto de terceira como primeira pessoa. A linguagem
é bastante coloquial e revela a classe social ou a posição social de cada um
dos personagens, além de trazer informações sobre posicionamentos políticos e
religiosos.
Os protagonistas são bastante
variados, começam com crianças, passando por adolescentes até os mais velhos, e
isso permite uma visão abrangente da sociedade irlandesa, e o lugar que cada um
deles tinha, incluindo o de mulheres e homens. Alguns deles acabam por passar
nos mesmos lugares, já que todos eles se passam na cidade de Dublin. A
repetição acaba criando uma sensação de familiaridade, mesmo de longe.
O tradutor teve o cuidado de
colocar diversas notas para explicar locais, termos e outros aspectos culturais
que auxilia e muito na compreensão da escrita. A música é com frequência
evocada, e o tradutor sempre trás referências das mesmas. Não li Ulysses, mas o
tradutor coloca que diversos personagens irão surgir nesse livro
posteriormente, então acredito que deva ser interessante ler os contos antes de
Ulysses.
Os contos que mais me agradaram
são "Dois Galantes", "A Casa de Pensão" e "Um Caso
Doloroso". Por se tratar de contos não darei sinopses para não estragar as
breves surpresas, porque sim, elas são raras, não trata-se desse tipo de
escrita que trarão grandes sensações. O valor desse livro ao meu ver é conhecer
a realidade cultura daquele país, o Zeitgeist peculiar e muito característico
que com certeza moldou o que hoje esse povo é. Eu me senti entre as ruas de
Dublin, entre as pessoas, não necessariamente as que eu escolheria para seguir,
mas não por isso que não daria atenção.
Infelizmente o modo de trabalhar
seus contos não me agradou, do ponto de vista literário são em sua maioria
desinteressantes e parados. Como relatei anteriormente, o potencial estava lá,
mas eles nunca finalizava, não tinha um fim, uma moral ou mistério, nada.
Talvez não incomode outros leitores, mas eu não me adaptei ao seu estilo. E o
que me prendeu ao livro todo tempo foi conhecer a Irlanda, e isso sem dúvidas é
possível através de suas palavras.
Essa edição conta com um posfácio onde encontramos o conto que foi enviado a Joyce como referência para uma encomenda de conto para a The Irish Homestead. "O Velho Vigia" do autor Berkeley Campbell é bem curto, mas tem um começo e fim, narrado em primeira pessoa através do olhar de um garotinho.
Dublinenses é o tipo de livro que
eu ainda pretendo um dia reler e talvez entender um pouco além. Mas ele não
teve elementos que me fizeram apaixonar por sua escrita. Após alguns dias de
lido ele já está diferente em mim, portanto, indico sim que leiam e tenham sua
experiência. Que minimamente vai ser uma viagem para a Irlanda do século XX
isso sem dúvida será!
Avaliação
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