O Incolor Tsukuru Tazaki e seus anos de Peregrinação - Haruki Murakami


A medida que lemos certos autores não só podemos passar a gostar mais deles, mas também podemos passar a compreender a escrita do mesmo. Na narrativa de Haruki Murakami desde suas primeiras páginas tiveram um forte impacto em mim, mas é na medida que leio suas obras é que percebo cada um dos traços que estabeleceu as afinidades em mim. O terceiro livro que li do autor foi O Incolor Tsukuru Tazaki e seus anos de Peregrinação, publicado pelo selo Alfaguara.

Tsukuru Tazaki é um solitário morador da cidade de Tóquio, que embora trabalhe com o que mais gosta, estações ferroviárias, é constantemente perseguido pelo seu passado. Após conhecer um mulher que está interessado ele se vê bconfrontado com os fantasmas do passado. Para tentar conseguir ir em frente Tsukuru vai revisitar cada um dos amigos do grupo que fazia parte quando adolescente para descobrir porque repentinamente foi expulso do grupo. A busca o levará mais longe do que imagina e a verdade o transformará.

O que mais gosto da narrativa de Murakami é a capacidade de narrar estórias que soam simples, mas que ganham tantas camadas e cores que nos levam para lugares não esperados, soando sempre únicas. Sua narrativa em terceira pessoa acompanha de perto os passos de Tsukuru compartilhando não só suas ações, mas se demorando nos sentimentos e pensamentos do mesmo. Com trechos no passado e trechos no momento atual do protagonista, ele constrói de forma muito rica o caminho que levou Tsukuru a depressão. Como em seus demais livros referências musicais são abundantes, aqui o enfoque fica nas músicas clássicas, embora o jazz não deixe de ser mencionado.

O autor ainda adiciona a trama trechos que soam com o realismo fantástico, quando Tsukuru têm sonhos que parecem gerar repercussões na realidade. No fim não sabemos se é delírio do personagem, ou se de fato foram mais que sonhos.

Tsukuru Tazaki soa como o típico japonês inteligente que é tímido e isolado, pelo menos ele se vê dessa forma, como alguém desinteressante e incolor (isso porque seus amigos têm nomes que traduzidos se referem a cores, menos Tsukuru que significa construtor). A dor que ele carrega é muito densa e profunda, e ele se menospreza tanto que ele é incapaz de pensar que o problema do grupo não foi gerado por ele. A medida que a verdade vem a tona ele tem que lidar com a dor novamente, ao mesmo tempo em que se percebe mais e melhor do que pensava.

Cada um de seus amigos vermelho, azul, branca e preta tem suas personalidades descritas por Tazaki, mas é na medida que ele encontra cada um deles é que percebemos quem cada um deles era no grupo. O fato que fez com que o grupo tomasse a atitude de expulsar Tazaki é forte, mas é somente na reta final do livro que isso se explica melhor.


Um Caminho Para a Liberdade – Jojo Moyes


Estamos no final da década de 1930, em Baileyville, Kentucky, no interior dos EUA. Na época, a religião tinha um forte poder, assim como as regras e os homens. Nesse cenário, 5 mulheres começam a trabalhar numa Biblioteca itinerante para levar leitura a locais remotos e pobres a cavalo (e burro), passando por caminhos perigosos e enfrentando pessoas nada contentes com suas presenças.
Enquanto passam por dificuldades sociais e físicas, elas criam laços fortes e sempre tentam ajudar o próximo. Mas tudo o que fazem acaba incomodando algumas pessoas que vão tentar destruí-las junto com o projeto. Mais do que nunca elas precisarão se unir e ser fortes para se manterem de pé.
“Para qualquer situação existe uma saída. Talvez seja desagradável, talvez deixe você sem chão. Mas sempre existe uma saída.”
Uma característica de Jojo é que ela gosta de trazer bastante drama às suas histórias. São tramas reais, afinal a vida é cheia de acontecimentos ruins e tristes, que temos que lutar e superar para seguir em frente. Mas parece que 90% das reviravoltas desse livro (e olha que foram muitas!) eram ruins, tristes ou negativas. E isso acaba trazendo um peso para quem está lendo (pelo menos é assim comigo, como se eu tivesse ligado a TV no jornal para ver tudo de ruim que está acontecendo ao redor). Quem adora esse tipo de obra, é um prato cheio. Quem se sente esgotado emocionalmente, pode preferir ler mais devagar ou intercalar com outras leituras.
Ainda assim, é uma obra que indico bastante. Primeiro porque vemos o poder do que um ser humano pode fazer quando se dispõe a ajudar o próximo e isso é realmente incrível. Segundo é a sororidade, ver mulheres se apoiando e se ajudando é sempre tocante e maravilhoso. Terceiro porque vemos o poder da leitura e como pode mudar vidas e não tenho nem palavras para definir meus sentimentos com relação a isso, só que meu coração se enche de felicidade e emoção. E quarto, esse livro traz esperança. E esse sentimento é poderoso.


Felicidade Para Sempre – Bliss #3.5 – BJ Harvey


Makenna Lewis havia tomado uma decisão de que não se envolveria romanticamente com nenhum homem e estava feliz com isso. Até conhecer Daniel Winters, que fez seu mundo virar do avesso. Agora, depois de um tempo juntos e grávida de gêmeos, seu Superman faz o pedido que vai mudar a vida dos dois. E vamos acompanhá-los nesse momento tão feliz.
Considero que este livro seja realmente para quem já leu “Felicidade Temporária”, 1º volume da série, por se tratar de um tipo de bônus com cenas dos protagonistas depois do desfecho feliz que tiveram. Então quem não leu, pode ficar perdido com as informações, já que não vai ter conhecido os personagens.
Por outro lado, funciona muito bem para quem leu o começo do relacionamento de Mac e Daniel ainda que tenha sido há muito tempo (li em 2016!), já que a autora faz com que a gente relembre os pontos mais importantes da trama para nos familiarizar com tudo, mesmo depois de tanto tempo.
Além disso, é sempre gostoso rever personagens queridos, ainda mais por nos apresentar um momento tão feliz da vida deles. Então a gente fica com um sorriso no rosto do começo ao fim dessa leitura, que é curtinha, então dá para ser lido de uma só vez. Mesmo pequeno, esse livro traz cenas quentes. Então, para quem curte o estilo, vai gostar.
Nesse volume há esse conto com o final da gravidez de Mac e o pedido e o casamento deles. E ainda há dois bônus no final do exemplar, um com a cena quando eles se conheceram, dessa vez narrada pelo ponto de vista de Daniel, e outro contando em algumas linhas um pouquinho do Natal. E no epílogo temos um vislumbre da história de Noah Taylor e da mulher misteriosa que será seu par.





O Que Aconteceu com Annie – C.J. Tudor


Amo livros de suspense e mistérios. Por esse motivo, assim que li a sinopse desse volume fiquei vidrada com o que parecia ser essa história. Precisava ler o quanto antes para tentar descobrir o que aconteceu com a Annie. Sendo assim, quando tive a oportunidade comecei essa leitura e agora venho compartilhar as minhas opiniões.
Conhecemos Joe Thorne, um homem desempregado, cheio de dívidas e vícios, que após vinte e cinco anos do desaparecimento da sua irmã mais nova, recebe um e-mail anônimo que o faz voltar ao passado. Agora, ele resolve retornar a Arnhill, sua antiga cidade, para ser professor na escola de sua infância e fugir de uma dívida causada pelo vício em jogos.
Vamos acompanhando nosso protagonista e entendendo o que ocorreu com Annie no passado e como tudo tem relação com o que acontece por agora na cidade. Acompanhamos velhas feridas sendo reabertas, o reencontro com pessoas que ele pensava que não veria novamente, além de ameaças para ir embora. Vemos que nem todo mundo é o que parece e vamos descobrindo um pouco mais sobre as pessoas que faziam e fazem parte da vida do nosso protagonista.
Achei essa leitura bem bacana, pois o livro aborda temas importantes como bullying, e a narrativa mistura passado com o presente para nos dar um melhor entendimento sobre todos os acontecimentos. Narrado em primeira pessoa pelo ponto de vista de Joe, conhecemos de forma mais ampla seus pensamentos, medos, anseios e vemos o seu senso de humor ácido. Com uma escrita articulada, essa obra consegue nos conquistar com reviravoltas, segredos e uma mistura de sobrenatural com o real, que consegue nos intrigar.





A Ilusão do Tempo - Andri Snaer


Seguimos com mais um livro da editora Morro Branco que arrebata o coração com sua beleza gráfica! Neste caso a capa de A Ilusão do Tempo, do autor islandês Andri Snaer Magnason, é uma imagem onde você passa muito tempo se perdendo nos detalhes e sempre enxergando algo novo.

O mundo está em crise, a economia não anda bem e a família da jovem Vitória decide que a melhor atitude a se fazer é esperar até que a crise passe, e para isso eles e o resto da população mundial resolvem entrar em grandes caixas pretas programadas para se abrirem quando tudo melhorar. Muitos anos se passam, e a caixa de Vitória se abre, mas ao contrário do esperado ela se vê sozinha em uma cidade invadida pela natureza. Sem saber o que fazer ela caminha pela cidade em ruínas, até que encontra uma casa repleta de crianças e uma senhora que insiste em contar uma estória de um rei que queria conquistar o mundo e que para isso também queria conquistar o tempo, e como ele fez isso? Utilizou uma certa arca que para o tempo, será que é apenas uma coincidência?

Magnason realizou sua narrativa em terceira pessoa de forma muito original, mas repleta de referências dos clássicos contos de fadas. É original porque conseguiu juntar em uma única estória, uma estória no mundo moderno com questões atuais como crise econômica e comportamento social doente, ao mesmo tempo em que narra através da estória contada pela senhora um universo medieval com características de contos, no caso em especial do conto da branca de neve. Seu enfoque é mais no realismo fantástico do que em uma fantasia propriamente dita, logo o que lemos soa mais verídico do que nunca.

Os trechos sob o ângulo de Vitória são pequenos, não conseguimos estabelecer uma ligação com ela ou os demais personagens que interagem com ela. O foco fica na estória narrada, a de Obsidiana que é uma jovem filha de um rei que perdeu a esposa, e com isso se tornou muito protetor com a filha. Para tentar superar a perda da esposa ele quer ter domínio do mundo e dá-lo para filha. Mas ele constata que ele não pode ter o mundo todo, e ter tempo para usufruí-lo, logo ele precisa conquistar o tempo. E é a partir desta busca que tudo começa dar errado em seu reino e na estória de sua filha.

Obsidiana vive em uma bolha, ela não conhece seu reino e nem o que é viver. Tudo que sabe é o que lhe é contato, e tudo que vê é o que a janela do castelo lhe permitem enxergar. Quando seu pai cria uma plano para burlar o tempo e ela torna-se parte dele surgem diversas críticas ao modo de vida do ser humano moderno. Embora se utilizando de ferramentas não diretas para os temas, quando a trama acaba você consegue assimilar facilmente a moral da estória.

As questões discutidas no livro são de importância vital. A empresa que cria as caixas pretas nos tempos modernos vende-as com o slogan de não ter que "passar mais por dias chuvosos, ou invernos", e apenas nesse trecho podemos pensar o quanto o ser humano deixa de aprender e viver a vida lamentando pelas mudanças de tempo, por exemplo, quando cada dia nos oferece momentos únicos e diferentes com novas lições que não devem ser condicionadas a nada além de nós mesmos.


No Silêncio dos Claustros – Eulália Bueno


Somos apresentados a Maria Isabel, uma criança que foi abandonada nas portas do Mosteiro de Santa Clara-a-Velha, no Século XIV, em Portugal. Essa menina foi criada com muita dedicação pela Rainha Isabel de Aragão, protetora dos pobres. Com o tempo, ela adquire a posição de Abadessa. Depois, seu temperamento ruim vem à tona, esquecendo-se de tudo que aprendeu com sua protetora, e tornando-se uma pessoa revoltada e negativa porque não aceitava que sua mãe tinha lhe abandonado, mas nunca soube o motivo de ela ter feito isso.
Já no Século XX, conhecemos a jovem Luísa no interior de São Paulo, aqui no Brasil. Ela é uma boa pessoa que deseja sempre ajudar o próximo a seguir pelo caminho do bem, inspirando amor e caridade através da mediunidade para, assim, seguirem com suas vidas levando características positivas e bondosas. Porém, acaba descobrindo que estava envolvida numa trama de vingança e crueldade por alguém que nutria ódio por ela. O que essas duas têm em comum? Leia e descubra!
O que mais me chama a atenção nessas obras mediúnicas é o envolvimento com passagens de época, muitas vezes distantes, em contraste com a atual realidade de seus personagens. Esse livro tem grande foco no espiritismo, com ações, reuniões, resoluções, etc. Ainda que muitos livros do gênero possam ser lidos por qualquer pessoa independente da religião, acredito que este seria mais apreciado e compreendido por quem acredita na doutrina espírita.



O Mágico de Oz – L. Frank Baum


Dorothy é uma menina órfã que vive no Kansas com seus tios e Totó, até que um ciclone chega e, antes que dê tempo de se esconder no abrigo com os tios, carrega a casinha com ela e Totó pelos ares até chegar a uma terra diferente.
Querendo voltar para casa, mas sem saber como, descobre que o único que pode ajudá-la é o magnífico Mágico de Oz. Para encontrá-lo, ela sairá em uma jornada longa e por vezes perigosa. No caminho conhece um Espantalho que deseja um cérebro, um Lenhador de Lata, que quer muito ter um coração, e um Leão Covarde que almeja ter coragem. Juntos, enfrentam muitos perigos e seus próprios medos, mas também conhecem gente bondosa e vivem coisas incríveis. Mas no final todos conseguirão o que desejam?
De uns anos para cá tenho lido vários Clássicos e o gênero se tornou um dos meus favoritos. De todos do subgênero Infantil que tive o prazer de ler até agora, O Mágico de Oz virou meu preferido. Sabe o tipo de história fofa que deixa um quentinho no coração? A amizade entre esses personagens logo cresce e vemos que se tratam como iguais, como eu gostaria que os seres humanos da realidade se tratassem. Eles se ajudam, se apoiam e trabalham em conjunto utilizando o que cada um tem de mais forte para benefício de todos. Foi realmente muito bonito acompanhar tudo isso, a jornada deles e como lidavam com cada situação que surgia.


Foi tão legal vê-los em busca de coisas que já tinham dentro de si (ou perto), sem que eles nem notassem (mas nós percebemos), enquanto partem nessa aventura com muito aprendizado e autoconhecimento. Esse já foi considerado o 1º livro infantil de cunho feminista, já que Dorothy é forte, determinada e nada passiva.
As lições de moral embutidas sutilmente no texto foram bem agradáveis. E também as reflexões e críticas que só adultos entendem. Não tenho crianças por perto para ler esse livro, mas certamente vou guardá-lo com carinho para quando tiver meus filhos, já que quero ver suas reações com essa história, que é simples, mas grandiosa ao mesmo tempo.
Achei bem bacana que o autor fala na Introdução sobre Contos de Fadas e como foram importantes para as gerações. Os tradicionais, com cenas assustadoras e sinistras para chegar a uma moral, já estavam sendo classificados como históricos. E naquele momento (1900) poderiam dar lugar aos novos Contos Maravilhosos e Modernos, com histórias Fantásticas voltadas para o prazer da criança, trazendo alegria e admiração no lugar dos pesadelos e sofrimentos de outrora.




O Médico e o Monstro e Outros Experimentos – Robert Louis Stevenson


Como fã de clássicos, sempre tento incluir um nas leituras mensais. Sendo assim, resolvi ler esse de mistério e horror, que se tornou uma das mais célebres histórias de horror da literatura mundial e apresenta a dualidade do humano, onde ninguém é 100% bom ou mal.
Na história que empresta o título ao livro, conhecemos o Sr. Utterson, um advogado com poucas amizades, que vai atrás de Mr. Hyde, único herdeiro no testamento de um dos seus amigos, Dr. Jekyll, para tentar entender o motivo de um homem bom deixar sua herança para alguém tão detestável.
Descobrimos que Dr. Jekyll, por meio de várias experiências científicas, tentou separar sua natureza boa da má. E fez experimento em si mesmo, e assim nasceu o pavoroso Edward Hyde, o lado ruim do médico. Sempre que essa personalidade surge, suas características conhecidas de boa pessoa e médico respeitável, somem.
O tempo vai passando e com cada vez mais frequência esse seu outro lado desperta. Por esse motivo, vemos que o médico sabe que a sua cidade não vai ser um local seguro se seu outro lado ficar à solta, então resolve tomar algumas medidas.

Com uma boa dose de suspense e mistério, esse volume nos conquistar do início ao fim com uma leitura envolvente, rápida e cheia de críticas, que nos faz refletir um pouco mais sobre nós, humanos.


A escrita do autor é maravilhosa! Ele conseguiu analisar o ser humano, nos mostrando uma luta interna entre o bem e o mal, o que pode ser aplicado para todo mundo em inúmeros sentidos. Os personagens são ótimos, e, cada um com seu jeito de ser, despertam no leitor diversos tipos de sentimentos.






Do Outro Lado do Oceano – Laís Rodrigues ⠀


No presente, Cathy Murray é uma jovem tímida e muito talentosa, que sempre amou escrever e criar histórias. Vivendo numa cidadezinha da Califórnia e sem muito dinheiro, mantém um site com seus contos de amor e aventura, que encantam leitores de todos os lugares. Quando uma grande editora da Europa lhe oferece uma oportunidade incrível que inclui viver um ano na Inglaterra, ela vê sua vida mudar completamente. Mesmo não tendo grande habilidade no campo do coração, ela acaba se encantando por um brasileiro, mas não imaginava que também teria que lidar com os segredos e mistérios que envolvem sua família.
Em 1815, Lady Catherine nunca seguiu as regras. Sendo uma jovem rebelde, sempre fez o que queria e não poderia ser considerada uma perfeita dama. Ainda que o objetivo de todas as damas de sua idade seja se casar, ela não tem essa vontade, afinal só conhece homens enfadonhos que nada lhe interessam. Até encontrar o estrangeiro Henrique, que mexe com suas estruturas mesmo quando ela não quer. Quando um possível crime está rondando pessoas muito queridas, ela precisa fazer de tudo para encontrar a verdade antes que seja tarde demais.

Amo releituras! Adoro quando autores contemporâneos criam novas tramas e personagens inspirados em obras que amei, assim sinto o carinho por todo aquele universo novamente e um quentinho no coração quando reconheço cenas e referências do original. Principalmente dos clássicos, já que os autores não estão mais entre nós para nos presentear com livros inéditos. Jane Austen é uma das minhas preferidas para servir de inspiração para novos enredos, já que AMO seus livros – ela é uma das minhas autoras favoritas, e deixou apenas 6 romances completos publicados.
Ainda que tenhamos diversas opções de releituras de seus livros mais famosos, “Abadia de Northanger” é meio que esquecido. E não sei o motivo, já que acho esse livro incrível. Quando soube que Laís Rodrigues tinha se inspirado nessa obra para construir um novo romance, fiquei empolgadíssima para conferir.

E nunca tinha visto uma releitura dessa obra de Austen, o que a torna ainda mais especial! Acho muito gostoso conhecer esse novo olhar de uma história que eu amo! Agora que finalmente tive meu exemplar em mãos, o escolhi como minha primeira leitura da década e mergulhei nesse delicioso universo, já que mistura Jane Austen com Romance Contemporâneo e de Época. Senti o carinho por todo aquele universo novamente e um quentinho no coração quando reconheci cenas e referências do original.






Sombra e Ossos - Grisha #01- Leigh Bardugo

Desde a minha adolescência quando tive meu primeiro contato com a cultura russa fiquei apaixonada por esse país de pequenos detalhes, entre Matrioshkas e pratos típicos eu acho esse país gelado encantador! Quando vi então a capa de Sombra e Ossos, da autora Leigh Bardugo pela editora Gutenberg com uma referência a arquitetura russa já quis ele na minha estante, sem nem saber do que se tratava o livro (sim eu me apaixono por capas antes de saber da história!).

Nessa obra acompanhamos a saga de Alina Starkov uma orfã que trabalha como cartógrafa no regimento militar de Kavka e está prestes a realizar uma missão que deve passar pela dobra das sombras - uma faixa terra repleta de escuridão e criaturas conhecidas como volcras. Ela sabia que enfrentar a escuridão iria mudar sua vida, mas jamais imaginou que depois disso seria outra pessoa quando um volcra ameaça a vida de seu melhor amigo Maly. Depois de descobrir uma luz interior ela é enviada para Os Alta onde esperam que ela desenvolva seu poder, e ajude Ravka a retomar para luz este território de sombras. Alina conseguirá vencer suas próprias sombras e espalhar luz?

Alina é uma jovem que cresceu em um orfanato, assim ela tem o discurso clássico de quem teve privações e boas memórias com seu companheiro de orfanato. O primeiro e único amor é utópico e faz seus dias serem menos monótonos. Ela já estava bem inserida na rotina militar, então quando sua visita a dobra muda tudo ela passa boa parte das páginas seguintes negando sua verdade interior. Sua autoestima é muito baixa, assim ela não acredita ser digna e portadora de qualquer poder. Ela se acha feia e desinteressante.

A forma como ela conquista seu poder pode facilmente ser uma metáfora para o auto conhecimento, quantos de nós somos capazes de alcançar as estrelas e nos contentamos com apenas seu brilho distante? Quando Alina percebe sua verdade ela ganha não só o poder mas o amor próprio que se reforça no final da trama.

Maly, seu amigo e paixão, é um jovem talentoso que consegue rastrear qualquer coisa. Dono de um belo semblante ele desperta atenção de diversas garotas que Alina consideram mais interessantes que ela. Ele embora seja fiel a sua amizade com ela não deixa de aproveitar dos flertes e garotas que surgem no seu caminho. Sua virada na trama também muda a vida de Alina e toda direção da história.

O Darkling é um homem poderoso capaz de manipular as sombras, dono de um charme poderoso ele também é capaz de forma sutil manipular o reinado em Os Alta, e todos que cercam o reino. Se aproxima muito de Alina, e apresenta um mundo mais requintado a ela. Ele oferece um mundo aos seus pés, mas sem dar dicas ele me surpreendeu quanto a suas intenções.


Nossas Noites - Kent Haruf


Acabei de terminar a leitura do livro Nossas Noites do autor Kent Haruf, da editora Companhia das Letras, e estou me perguntando se um livro é bom porque nos gera prazer durante sua leitura, ou se ele é bom porque mesmo depois que terminamos ele fica dentro de nós revirando, trazendo questões que talvez nem estivessem no consciente. Faz apenas uma hora que terminei o livro, e me senti na necessidade de transmitir a sensação que ainda ecoa depois de seu término.

Louis e Addie são dois viúvos que moram na mesma rua na pequena cidade de Holt, no Colorado. Suas noites são solitárias e muitas vezes eles não conseguem dormir. Addie decide superar seus receios, e em uma visita a casa de Louis propõe a ele que passe suas noites na casa dela, para que assim ambos tenham com quem conversar durante a noite. Surpreso Louis aceita, e passa a frequentar a casa desta doce senhora, mas o que eles não esperavam é que a felicidade alheia incomodaria tantos as pessoas.

Haruf criou sua narrativa em terceira pessoa, onde os diálogos não tem marcação como aspas e travessão, no início isso pode atrapalhar, mas a medida que esta leitura progredi isso acaba desaparecendo. A leitura flui muito suave e doce, como as palavras do autor que tem delicadeza de nos trazer fatos tristes e marcantes da vida destes dois idosos sem que isso soe pesado. Mesmo no desfecho da trama que é triste, e foi o que me fez tirar um ponto de sua nota não só pelo conteúdo, mas pela rapidez dos fatos, onde uma situação muda o rumo da estória ele consegue transmitir a tristeza sem drama ou peso.

Louis é um professor aposentado que tem consciência dos erros que cometeu em seu passado e que inclusive marcam sua reputação até seu momento atual, e embora mais velho acredite que tenha feito escolhas erradas não é uma pessoa amarga, ao contrário, desde o momento em que se decide por aceitar a proposta de Addie ele se dedica a ela em suas atitudes e no seu coração. Ao longo do tempo ele se torna uma pessoa melhor, o tipo de homem que soa como um ótimo avó, que tem o que transmitir e ensinar aos netos.

Addie perdeu não só o marido, como uma filha quando esta era ainda uma criança, mas o fato não a torna uma pessoa triste, mas sábia. Ao contrário do que é esperado ela não se fechou para vida, tem vida de sobra e vontade de ter seus dias de velhice bem aproveitados, por isso ela busca Louis sem medo do que qualquer um pense de sua atitude. Ela soa até engraçada as vezes de tão prática que ela é, sem meias palavras ou atitudes dúbias.

Louis e Addie como casal são a coisa mais fofa! Eles se conhecem a medida que o tempo passa e as noites de conversa evoluem, pois embora sejam vizinhos, e a esposa de Louis tenha sido amiga de Addie, eles não tinham uma amizade anterior. Foi lindo ver a evolução do sentimento, da confiança e da atitude destes dois. O amor que nasce da convivência e da rotina é mais maduro e profundo do que aquele que passa pela paixão, e que logo pode se apagar.

Embora tenha apenas 160 páginas o livro é repleto de mensagens, sendo a principal a esperança. Já que o casal não acreditava que poderia viver uma relação novamente na idade deles. Quando eles assumem a relação ouvem outras pessoas na cidade que gostariam de ter a mesma oportunidade. Infelizmente nem todos tem a mesma opinião, e a pior deles fica por conta de Gene, o filho de Addie, traumatizado na sua infância, tornou-se uma pessoa amarga que não consegue ver a beleza das pequenas coisas da vida. A aparência é o mais importante, e ele não consegue ter uma boa relação com a mãe, menos ainda com o filho e a esposa.


Cinco Júlias – Matheus Souza


Quando li a sinopse desse volume fiquei bem interessada na leitura, que parecia trazer uma história diferente e incrível. Fiquei curiosa para saber mais sobre essas cinco Júlias, então por passei ele na frente na minha lista de leituras e agora venho compartilhar as minhas opiniões.
Na trama vemos que todas as mensagens enviadas, seja por e-mail ou por redes sociais, vazaram na internet, fazendo com que qualquer um tivesse acesso a todas conversas já trocadas por alguém. É nesse cenário que conhecemos um pouco mais sobre nossas protagonistas. E em uma noite bastante chuvosa no Rio de Janeiro, vários acontecimentos fazem com que elas acabem se conhecendo e resolvem viajar juntas para São Paulo, em um carro de autoescola, para lidar com tudo o que estavam passando.
Conhecemos um pouco mais de cada uma das Júlias. A 1ª é bastante criativa, ela quer rever seu pai depois de anos, a 2ª está tentando fugir de tudo, já que teve os seus nudes vazados, a 3ª traiu o namorado que ama, a 4ª é uma fofa que é fã de Taylor Swift e não se sente especial em nada, e por último a 5ª Júlia, que está passando por um momento depressivo, já que não teve o apoio de sua família em relação a sua sexualidade e isso fez com que ela ficasse bem mal.
Foi incrível poder conhecer um pouco mais sobre essas meninas tão diferentes, que acabaram se completando. Gostei bastante da narrativa rápida e leve, que consegue nos conquistar com personagens maravilhosos. Vemos também que o autor conseguiu trazer temas importantes como sexualidade, gordofobia, saúde mental, racismo, feminismo, aceitação, entre outros assuntos muito importantes que devem ser abordados e discutidos. E, apesar de ele não ter conseguido se aprofundar mais, achei bem legal a presença de todos eles.