A medida que lemos certos autores
não só podemos passar a gostar mais deles, mas também podemos passar a
compreender a escrita do mesmo. Na narrativa de Haruki Murakami desde suas
primeiras páginas tiveram um forte impacto em mim, mas é na medida que leio
suas obras é que percebo cada um dos traços que estabeleceu as afinidades em
mim. O terceiro livro que li do autor foi O Incolor Tsukuru Tazaki e seus anos
de Peregrinação, publicado pelo selo Alfaguara.
Tsukuru Tazaki é um solitário
morador da cidade de Tóquio, que embora trabalhe com o que mais gosta, estações
ferroviárias, é constantemente perseguido pelo seu passado. Após conhecer um
mulher que está interessado ele se vê bconfrontado com os fantasmas do passado.
Para tentar conseguir ir em frente Tsukuru vai revisitar cada um dos amigos do
grupo que fazia parte quando adolescente para descobrir porque repentinamente
foi expulso do grupo. A busca o levará mais longe do que imagina e a verdade o
transformará.
O que mais gosto da narrativa de
Murakami é a capacidade de narrar estórias que soam simples, mas que ganham
tantas camadas e cores que nos levam para lugares não esperados, soando sempre
únicas. Sua narrativa em terceira pessoa acompanha de perto os passos de
Tsukuru compartilhando não só suas ações, mas se demorando nos sentimentos e
pensamentos do mesmo. Com trechos no passado e trechos no momento atual do
protagonista, ele constrói de forma muito rica o caminho que levou Tsukuru a
depressão. Como em seus demais livros referências musicais são abundantes, aqui
o enfoque fica nas músicas clássicas, embora o jazz não deixe de ser
mencionado.
O autor ainda adiciona a trama
trechos que soam com o realismo fantástico, quando Tsukuru têm sonhos que
parecem gerar repercussões na realidade. No fim não sabemos se é delírio do
personagem, ou se de fato foram mais que sonhos.
Tsukuru Tazaki soa como o típico
japonês inteligente que é tímido e isolado, pelo menos ele se vê dessa forma,
como alguém desinteressante e incolor (isso porque seus amigos têm nomes que
traduzidos se referem a cores, menos Tsukuru que significa construtor). A dor
que ele carrega é muito densa e profunda, e ele se menospreza tanto que ele é
incapaz de pensar que o problema do grupo não foi gerado por ele. A medida que
a verdade vem a tona ele tem que lidar com a dor novamente, ao mesmo tempo em
que se percebe mais e melhor do que pensava.
Cada um de seus amigos vermelho,
azul, branca e preta tem suas personalidades descritas por Tazaki, mas é na
medida que ele encontra cada um deles é que percebemos quem cada um deles era
no grupo. O fato que fez com que o grupo tomasse a atitude de expulsar Tazaki é
forte, mas é somente na reta final do livro que isso se explica melhor.