Acabei de terminar a leitura do
livro Nossas Noites do autor Kent Haruf, da editora Companhia das Letras, e
estou me perguntando se um livro é bom porque nos gera prazer durante sua
leitura, ou se ele é bom porque mesmo depois que terminamos ele fica dentro de
nós revirando, trazendo questões que talvez nem estivessem no consciente. Faz
apenas uma hora que terminei o livro, e me senti na necessidade de transmitir a
sensação que ainda ecoa depois de seu término.
Louis e Addie são dois viúvos que
moram na mesma rua na pequena cidade de Holt, no Colorado. Suas noites são
solitárias e muitas vezes eles não conseguem dormir. Addie decide superar seus
receios, e em uma visita a casa de Louis propõe a ele que passe suas noites na
casa dela, para que assim ambos tenham com quem conversar durante a noite.
Surpreso Louis aceita, e passa a frequentar a casa desta doce senhora, mas o
que eles não esperavam é que a felicidade alheia incomodaria tantos as pessoas.
Haruf criou sua narrativa em
terceira pessoa, onde os diálogos não tem marcação como aspas e travessão, no
início isso pode atrapalhar, mas a medida que esta leitura progredi isso acaba
desaparecendo. A leitura flui muito suave e doce, como as palavras do autor que
tem delicadeza de nos trazer fatos tristes e marcantes da vida destes dois
idosos sem que isso soe pesado. Mesmo no desfecho da trama que é triste, e foi
o que me fez tirar um ponto de sua nota não só pelo conteúdo, mas pela rapidez
dos fatos, onde uma situação muda o rumo da estória ele consegue transmitir a
tristeza sem drama ou peso.
Louis é um professor aposentado
que tem consciência dos erros que cometeu em seu passado e que inclusive marcam
sua reputação até seu momento atual, e embora mais velho acredite que tenha
feito escolhas erradas não é uma pessoa amarga, ao contrário, desde o momento
em que se decide por aceitar a proposta de Addie ele se dedica a ela em suas
atitudes e no seu coração. Ao longo do tempo ele se torna uma pessoa melhor, o
tipo de homem que soa como um ótimo avó, que tem o que transmitir e ensinar aos
netos.
Addie perdeu não só o marido,
como uma filha quando esta era ainda uma criança, mas o fato não a torna uma
pessoa triste, mas sábia. Ao contrário do que é esperado ela não se fechou para
vida, tem vida de sobra e vontade de ter seus dias de velhice bem aproveitados,
por isso ela busca Louis sem medo do que qualquer um pense de sua atitude. Ela
soa até engraçada as vezes de tão prática que ela é, sem meias palavras ou
atitudes dúbias.
Louis e Addie como casal são a
coisa mais fofa! Eles se conhecem a medida que o tempo passa e as noites de
conversa evoluem, pois embora sejam vizinhos, e a esposa de Louis tenha sido
amiga de Addie, eles não tinham uma amizade anterior. Foi lindo ver a evolução
do sentimento, da confiança e da atitude destes dois. O amor que nasce da
convivência e da rotina é mais maduro e profundo do que aquele que passa pela
paixão, e que logo pode se apagar.
Embora tenha apenas 160 páginas o
livro é repleto de mensagens, sendo a principal a esperança. Já que o casal não
acreditava que poderia viver uma relação novamente na idade deles. Quando eles
assumem a relação ouvem outras pessoas na cidade que gostariam de ter a mesma
oportunidade. Infelizmente nem todos tem a mesma opinião, e a pior deles fica
por conta de Gene, o filho de Addie, traumatizado na sua infância, tornou-se
uma pessoa amarga que não consegue ver a beleza das pequenas coisas da vida. A
aparência é o mais importante, e ele não consegue ter uma boa relação com a
mãe, menos ainda com o filho e a esposa.
Eu espero que cada um que leia
guarde a principal mensagem do livro que é que não importa a idade que você
tenha, o que você já tenha feito. Sempre é tempo para recomeçar, para fazer o
que se gosta, para conhecer novas pessoas, e o amor novamente, seja por alguém
com quem você divide uma cama, seja inclusive por um novo animal de estimação.
Envelhecer não é acumular dor, amargura e passado. É tornar-se mais sábio, mais
seguro e porque não até mais ativo?!
Nossas Noites é um poema com
forte dose de realidade, nos acalenta a alma ao mesmo tempo que revira tudo. É
uma conversa entre solidões e desamparos, e um luz para os que não veem mais
caminho. Pois a solidão bate em nossas portas diariamente cobrando nossas
escolhas, se você não as fizer bem vai acabar suas noites em claro desejando
mais um dia para ter a coragem de simplesmente ser você!
Avaliação
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