No ano passado comecei meus
contatos mais diretos com publicações de investigação policial, quando surgiu a
oportunidade da leitura de Deixada Para Trás, do autor Charlie Donlea, publicado
pela Faro Editorial, eu entrei de cabeça na leitura.
É o fim do verão em Emerson Bay,
uma festa no lago é a celebração do fim da estação e todos estão presentes,
assim como Nicole e Megan. Seria apenas mais uma festa, mas estas duas
adolescentes somem sem deixar vestígios. Após semanas de buscas e sem mais
esperanças de encontrá-las vivas, Megan consegue fugir de seu cativeiro. Um ano
se passa, Nicole nunca é encontrada, mas Megan se transforma em uma celebridade
após lançar um livro sobre seu sequestro. Lívia, a irmã de Nicole, estudante de
patologia forense, não se conforma com a perda da irmã, e após a autópsia de um
corpo suspeito de homicídio ela encontra a ponta de um fio que pode levar a
estória do desaparecimento da irmã e começa a investigar.
Parece que cada dia mais os livros se tornam
previsíveis ou perdidos dentro de suas estórias, e ao ler Deixada Para Trás eu
me surpreendi dando cinco estrelas para o livro. A narrativa de Donlea é ótima,
e ele consegue através de capítulos alternados entre o tempo presente e o passado
nos apresentar uma trama que instiga e nos prende do começo ao fim. Todos os
capítulos terminam em descobertas, o que nos faz não querer parar a leitura.
Feita em terceira pessoa, a
narração é dinâmica e pontuada com muitos diálogos. Os capítulos no passado são
em sua maioria através do olhar das adolescentes, e mais para o fim da trama
começam a ter o olhar do criminoso em questão. Já no presente é essencialmente
os olhares de Lívia e Megan que predominam, com alguns capítulos breves sob a
ótica do criminoso.
Ter estes poucos capítulos onde
conhecemos os pensamentos do criminoso é muito rico para compreender todo o
contexto dos crimes, e doentio também já que algumas vezes ele está com uma
vítima. O autor também foi bastante feliz em mostrar como Megan foi
profundamente marcada pelo sequestro, mas não de uma maneira clichê, que seria
por exemplo ter medo de ficar sozinha ou sair, mas através de uma garota que
tenta arduamente ser normal para os pais e o mundo que a cerca. Para quem gosta
de personagens femininas de poder Megan e Lívia são assim.
Megan conseguiu escapar do bunker
que era mantida presa, mas embora curada fisicamente sua mente ficou presa no
local, já que diversos lapsos sobre o que ocorreu ficaram em sua mente. E é
através de sessões de hipnose que ela começa a desvendar o crime, e resgatar a
si mesma do escuro. É uma jovem forte em vista de tudo que passou, e não foge
de procurar respostas e punição para quem a manteve presa, mesmo quando ela se
lembra de fato quem o fez.
Lívia sofre uma transformação
grande e visível ao longo da trama, de estudante dedicada a patologia que
visava ser a melhor, passou a pessoa sensível ao drama familiar dos parentes da
pessoas que realiza autópsia. Não mede esforços para encontrar a irmã, ela só
queria poder através do corpo da irmã descobrir o que aconteceu a ela. E o
melhor nada de romance para ela, apenas investigação e empoderamento feminino.
Normalmente a vítima não é alguém
ruim, mas Nicole é a garota insuportável da turma. Sofrendo por conta das
questões de sua adolescência acaba por se envolver com um grupo de pessoas
(devo acrescentar que esse grupo é muito peculiar e bizarro, e espero que não
haja paralelos em nosso mundo real), onde conhece um jovem que é sua ruína. Ele
só alimenta os aspectos ruins de sua personalidade, e acaba trazendo o desfecho
ruim para Nicole. No fim por ela ser esta pessoa que ninguém gosta não torcemos
por ela, mesmo sua irmã ao longo da busca percebe que sua irmã não era o que
pensava.