A Ilusão do Tempo - Andri Snaer


Seguimos com mais um livro da editora Morro Branco que arrebata o coração com sua beleza gráfica! Neste caso a capa de A Ilusão do Tempo, do autor islandês Andri Snaer Magnason, é uma imagem onde você passa muito tempo se perdendo nos detalhes e sempre enxergando algo novo.

O mundo está em crise, a economia não anda bem e a família da jovem Vitória decide que a melhor atitude a se fazer é esperar até que a crise passe, e para isso eles e o resto da população mundial resolvem entrar em grandes caixas pretas programadas para se abrirem quando tudo melhorar. Muitos anos se passam, e a caixa de Vitória se abre, mas ao contrário do esperado ela se vê sozinha em uma cidade invadida pela natureza. Sem saber o que fazer ela caminha pela cidade em ruínas, até que encontra uma casa repleta de crianças e uma senhora que insiste em contar uma estória de um rei que queria conquistar o mundo e que para isso também queria conquistar o tempo, e como ele fez isso? Utilizou uma certa arca que para o tempo, será que é apenas uma coincidência?

Magnason realizou sua narrativa em terceira pessoa de forma muito original, mas repleta de referências dos clássicos contos de fadas. É original porque conseguiu juntar em uma única estória, uma estória no mundo moderno com questões atuais como crise econômica e comportamento social doente, ao mesmo tempo em que narra através da estória contada pela senhora um universo medieval com características de contos, no caso em especial do conto da branca de neve. Seu enfoque é mais no realismo fantástico do que em uma fantasia propriamente dita, logo o que lemos soa mais verídico do que nunca.

Os trechos sob o ângulo de Vitória são pequenos, não conseguimos estabelecer uma ligação com ela ou os demais personagens que interagem com ela. O foco fica na estória narrada, a de Obsidiana que é uma jovem filha de um rei que perdeu a esposa, e com isso se tornou muito protetor com a filha. Para tentar superar a perda da esposa ele quer ter domínio do mundo e dá-lo para filha. Mas ele constata que ele não pode ter o mundo todo, e ter tempo para usufruí-lo, logo ele precisa conquistar o tempo. E é a partir desta busca que tudo começa dar errado em seu reino e na estória de sua filha.

Obsidiana vive em uma bolha, ela não conhece seu reino e nem o que é viver. Tudo que sabe é o que lhe é contato, e tudo que vê é o que a janela do castelo lhe permitem enxergar. Quando seu pai cria uma plano para burlar o tempo e ela torna-se parte dele surgem diversas críticas ao modo de vida do ser humano moderno. Embora se utilizando de ferramentas não diretas para os temas, quando a trama acaba você consegue assimilar facilmente a moral da estória.

As questões discutidas no livro são de importância vital. A empresa que cria as caixas pretas nos tempos modernos vende-as com o slogan de não ter que "passar mais por dias chuvosos, ou invernos", e apenas nesse trecho podemos pensar o quanto o ser humano deixa de aprender e viver a vida lamentando pelas mudanças de tempo, por exemplo, quando cada dia nos oferece momentos únicos e diferentes com novas lições que não devem ser condicionadas a nada além de nós mesmos.

No caso de esperar a crise passar, acaba vindo muito de encontro ao momento atual de nosso país. Mas é nos momentos de crise que crescemos, mudamos e que a ação é gerada. É muito raro que alguém sem problemas gere movimento, já que o comportamento de quem está bem é o de manter a inércia e gerar o menor esforço possível. No caso do livro os dias melhores não vieram, e nos é mostrado que podem nunca vir se a mudança não vier de dentro de cada cidadão.

Colocar este livro em uma categoria ou gênero é limitá-lo em suas possibilidades. Do ponto de vista literário é uma obra bem executada, com boas amarrações e desfecho. Mas do ponto de vista filosófico e psicológico nos  coloca frequentemente diante de muros que precisam ser transpostos. A leitura claro pode ser feita de forma menos reflexiva, mas fazê-la desta forma seria uma perda de tempo. A leitura deve ser pautada pelo cuidado, porque cada ação dos personagens não visa entreter, mas nos alertar para onde a fome por poder e prazer pode nos levar.

A Ilusão do Tempo é um livro que deve ser lido várias vezes a medida que o tempo passa, para sempre refletirmos nosso papel na roda da vida. Somos o protagonista ou o personagem secundário? Somos nós quem guiamos nossos caminhos ou são os demais? Porque por mais artifícios que possamos ter, o tempo, ah este ninguém pode dominar!, ele continua girando, seguindo, e sendo o senhor de tudo!

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