“Rainha da
Moda”, como a capa já nos apresenta muito bem, traz a história de vida de Maria
Antonieta, que foi esposa de Luís XVI e rainha da França no século XVIII, e
como ela mudou a moda de sua época – e da nossa também – nos anos em que viveu
na França, desde sua chegada, em 1770, como a prometida ao delfim Luís Augusto,
herdeiro do trono Bourbon, até sua morte na guilhotina como rainha da França,
em 1793.
Enquanto
vemos como Maria Antonieta modificou a moda da França e também do mundo, vamos
acompanhando todos os momentos históricos importantes que ela foi vivenciando
com o seu tão importante papel: do julgamento do povo por ela ser uma estrangeira,
já que nasceu na Áustria e iria conquistar o papel de futura rainha da França,
passando por preconceitos com sua forma de vestir e sua incapacidade de dar
filhos ao delfim quando, enfim, se casaram, mesmo que era ele quem não
conseguia cumprir com seus deveres sexuais, como a julgavam depravada, adúltera
e lésbica, afirmavam que a fome do país era devido a seus gastos, inventavam
inúmeras calúnias a seu respeito, a culparam pelo caso do colar de diamantes,
mesmo quando ela nada teve a ver com o acontecido diretamente, a julgaram como
culpada por todos os crimes, alguns que nem mesmo existiram, até que fosse
condenada e levada à morte pela guilhotina em praça pública.
Ao mesmo
tempo em que Maria Antonieta está nos holofotes, também acompanhamos o país
passar por mudanças de vestiário, dificuldades financeiras, pela fome, pela pobreza,
pelas Revoltas da farinha, a queda da Bastilha, a Revolução Francesa, a queda
da monarquia e do Ancien Régime e ascensão da república.
Esse livro
sensacional reúne duas coisas que eu gosto muito: moda e história, e posso
afirmar que merece estar na estante de todas as pessoas que gostam desses dois
assuntos, ou pelo menos um deles, também. Caroline Weber é uma escritora incrível, que sabe muito sobre
Maria Antonieta, o que pode ser comprovado por conta das inúmeras notas que
compõem este livro, e da lista de todas as bibliografias (e são muitas!) que a
autora utilizou para a sua pesquisa, e em minha opinião esse exemplar não poderia
ter sido melhor escrito.
Confesso que
eu sabia muito por cima da história de Maria Antonieta, os poucos detalhes que
eu conhecia era que ela revolucionou a moda com seus penteados extravagantes,
era a rainha da França e esposa de Luís XVI, e que morreu na guilhotina, então
essa obra teve um significado ainda maior para mim porque eu pude entender e
acompanhar tudo o que aconteceu naquela época, tanto com Maria Antonieta quanto
com o país, e agora conheço a história dessa mulher, que de um jeito ou de
outro, foi revolucionária em sua época. E acho que a leitura é válida tanto
para quem já conhece essa história quanto para quem quer conhecê-la.
Minha
leitura não foi tão rápida, até por conta da densidade do livro, e eu lia
prestando bastante atenção para não perder nenhum detalhe ou deixar algum ponto
esquecido, mas a narrativa de Weber é maravilhosa, ela sabe contar tudo de
maneira leve e que prenda o leitor para saber o que sempre vem a seguir, sem
deixar cansativa mesmo com tantas informações.
A vida de
Maria Antonieta foi bem aproveitada no começo de sua vida na França, ela soube
se divertir bastante, desafiava a tudo e todos, principalmente quando o assunto
era moda, fez amigos, festas e gastou bastante nos anos em que pôde usufruir
dessa vida, mas acabou se tornando bem complicada em alguns momentos quando
estava chegando ao fim, próxima de sua morte.
Nos momentos
de glória, ela foi a responsável pelas mais notáveis mudanças de vestiário e penteados,
além de criar diversas cores, que acabaram se tornando populares, assim como formas
de se vestir e tecidos que ela escolhia para usar em determinados momentos e
que logo eram desejados por todos.
Dentre os
maiores, mais chamativos e populares momentos, podemos citar: Maria Antonieta
usando roupas de montaria de estilo masculino, ou seja, calças justas e casaco
de montaria masculino e montando “como um homem”, com uma perna para cada lado;
quando ela se recusou a usar o corps
(espartilho) de barbatana de baleia, porque apertava demais, até finalmente
voltar a utilizá-lo; os vestidos que expunham o tornozelo; as vestimentas
informais que ela usava no Petit Trianon*,
como o “vestido chemise conhecido como
gaulle. Feito de musselina vaporosa
franzida (geralmente branca) e estruturado por uma longa faixa na cintura e
“braceletes” de fita combinados nos cotovelos”.
*“um pequeno, mas primoroso palacete
neoclássico situado a apenas uma légua de Versalhes. [...] Solidário com a
aversão da mulher pela vida regulada da corte, o novo rei parece ter
reconhecido a necessidade que ela tinha de seu próprio refúgio, e deve ter
visto no palácio desocupado um meio disponível de fazer seu desejo. [...] o
Petit Trianon havia sido projetado com uma sensibilidade delicada, alegre, que
parecia enfatizar a distância física e espiritual que o separava de Versalhes.
Enquanto a arquitetura e a decoração deste último tinham o efeito de intimidar
as pessoas que transpunham suas portas e de lembrar-lhes a glória
inconcebivelmente superior do soberano, o Trianon destinava-se a encantar os
visitantes e pô-los a vontade.”
E, talvez o
mais importante de todos, o toucado inovador pouf, que “era construído sobre uma armação feita de arame, tecido,
gaze, crina de cavalo, cabelo falso e os cabelos da própria mulher que usava,
eriçados alto acima da testa. Após empoar profusamente todo o edifício, seu
arquiteto instalava entre os seus meandros uma rebuscada natureza-morta em miniatura,
destinada a expressar um sentimento ou a comemorar uma circunstância
significativa para a cliente”. Para quem não sabe, são aqueles penteados ENORMES
que ainda hoje em dia são usados quando falam ou representam Maria Antonieta em
desfiles, campanhas de moda, etc.
Para falar a
verdade, Maria Antonieta sempre esteve fadada a seu fatídico fim, afinal não
importava o que fizesse ou como agisse, o povo francês sempre encontrava
motivos para criticá-la: se aparecesse muito em público, se confraternizasse
com pessoas menos ricas, se tentava evitar as aparições e ficava hospedada no
Petit Trianon; se usava roupas caras estava gastando o dinheiro do povo, se
usasse coisas mais simples e baratas estava indo contra a sua posição social e
parecendo uma criada, entre muitas outras críticas.
Não estou
dizendo que ela era uma santa ou cem por cento correta em suas atitudes, só
acho que foi um exagero desnecessário toda a repercussão a respeito de seu modo
de vestir e algumas de suas atitudes. E também acredito que poderiam ter lidado
com o assunto de modo diferente, mas quem sou eu para pensar assim, e ainda
mais de forma tão distinta aos costumes da época?
Ser uma
pessoa pública é realmente desconcertante, você pode agradar às pessoas e viver
uma vida ótima, mas a partir do momento em que seu conceito com todos cai, a
vida fica bem complicada de ser vivida.
O povo
francês daquele século mostrado nesse livro era atemorizante e tinha costumes sanguinários. Fiquei realmente
consternada com as atrocidades que faziam, que beiravam o absurdo. Sério, fiquei
com raiva e muito triste em ver como as coisas eram tratadas e fico contente de
viver em um tempo diferente daquele.
Além da
barbaridade pública que sua família enfrentava, Maria Antonieta também sofreu
bastante em sua vida, com a perda de seus filhos, marido, família, melhor amiga
(que foi espancada e teve sua cabeça arrancada para ser levada até Maria
Antonieta, que teve que vê-la nesse estado deplorável), e ainda estava muito
doente, com perda de cabelo, magreza notável e hemorragias frequentes antes de
morrer.
Mas, mesmo
assim, ela se ateve à sua definição de moda, usando roupas pretas de luto
quando perdeu seu marido (também na guilhotina), a qual acabou sendo proibida
de usar; e o branco, que “talvez tenha sido realmente a mais brilhante
declaração de moda de toda a sua carreira”, como a última e impecável roupa que
usou em vida, um traje que, junto com seus cabelos sem cor e sua palidez, a
tornou uma “figura de pura e radiante brancura”, “uma mulher não coberta de
joias, não coroada com plumas; uma mulher que não estava vestida com
extravagante ostentação e nem exibia uma negligência defensiva”, levando o povo
a uma reação de “pasmo por ver sua figura vestida de branco, tão simples e no
entanto tão grandiosa em seu desamparo”.
Weber
construiu uma narrativa gostosa de acompanhar, os capítulos levam nome de algum
acontecimento importante na vida de Maria Antonieta que será explorado naquele
momento, e foram apresentados em ordem cronológica, o que ajuda bastante a nos
deixar bem situados na história de maneira correta.
Adoro a
capa, que acho linda, e afirmo que a Zahar fez um ótimo trabalho nela já que as
capas internacionais são bem feias, e fiquei apaixonada pela lombada desse
livro, que é rosa e tem uma imagem que parece uma textura de roupa antiga,
linda! A diagramação está bem feita, com fonte e espaçamento em tamanhos
confortáveis para a leitura, com algumas ilustrações em preto e branco
espalhadas em algumas páginas, e uma parte do miolo em papel couché (aquele
tipo folha de revista, só que mais grosso) com imagens coloridas de pontos importantes
que ela citou no texto. Depois de finalizar a história, há uma parte de notas,
seguida de bibliografia e terminando no índice remissivo.
A escolha
das páginas brancas com certeza foi proposital, como vocês podem notar através
do trecho abaixo, um dos últimos do livro, e que eu achei interessantíssimo.
“...o guarda-roupa famosamente elegante,
infalivelmente controverso desaparecera para sempre. Antes mesmo que ela
chegasse à guilhotina, esse aspecto de sua história, de seu corpo, de seu ser
havia sido apagado, deixando-a uma única cor: o branco.
(...)
Branco, a cor do martírio, do céu, da vida eterna.
Branco, a cor de um fantasma belo demais, ou pelo menos obstinado demais, para
morrer. Branco, a cor das páginas em que sua história foi – e será – escrita.
Muitas e muitas vezes.”
Esta é uma
obra singular, interessantíssima e muito bem escrita por Caroline Weber, onde
conhecemos a vida de Maria Antonieta minunciosamente apresentada desde o
momento em que foi escolhida como futura esposa do delfim Luís Augusto, e depois
passo a passo, roupa a roupa, ano a ano até sua morte. Também é muito triste
porque sabemos que tudo o que é contado ali realmente aconteceu. Indico MUITO a
leitura para todos que têm interesse em conhecer a história de Maria Antonieta
sob uma perspectiva nunca antes apresentada. Estou tremendamente apaixonada por
esse livro e tenho certeza de que você, assim que o ler, também ficará.
- Livro
Notável pelo New York Times e Melhor Livro do ano pela Washington Post Book
World.
Avaliação
Olá meninas!
ResponderExcluirEu não sou fã d moda, mas adoro história! rsrsrsrsrrs
Não conhecia muito sobre Maria Antonieta, só o que aprendemos na escola, mas adorei sua resenha e fiquei bem curiosa! Coitada, deve ter sofrido horrores neh??? rsrsrsrrsrsr
bjo bjo^^
Mas gente, que resenha linda! Nunca tinha lido nada sobre esse livro, na verdade nem conhecia ele, mas eu gosto muito muito de história e sou apaixonada por moda, então eu quero ele para ontem! Muito legal que a autora tenha escolhido explorar o lado da moda, além dos fatos históricos. Amo o filme com a Kirsten Dunst, você já viu? E já conhecia a vida de Maria Antonieta, mas um livro é sempre melhor do que um filme, então vou correndo comprar agora mesmo. Muito obrigada por nos apresentar essa obra magnífica e parabéns pela resenha maravilhosa! Você tem um dom com as palavras e sabe usá-lo muito bem!
ResponderExcluirBeijinhos
Sou alucinada por história e pela Maria Antonieta! Já foi pra lista de desejados.
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