Diretamente da série "eu não imaginava que o livro era assim" veio a leitura do livro O Construtor de Pontes, do autor australiano Markus Zusak, publicado pela editora Intrínseca, já que o livro não foi nada o que eu esperava, ou sequer imaginava!
Após a morte da mãe, os irmãos Dunbar seguem suas vidas como uma matilha de lobos, com suas próprias regras e comportamentos. Um dia eles se veem diante daquele que gerou uma de suas maiores dores, e com um pedido de ajuda para construir uma ponte. A resposta a esse pedido gera desequilíbrio entre eles, e é para narrar o que aconteceu a eles que o primogênito, Matthew, resolve compartilhar suas memórias e a de seus pais.
Acho que pela experiência de
leitura que tive com A menina que Roubava Livros eu tinha em mente que a
narrativa desse livro seria de alguma forma próxima, mas Zusak não seguiu os
mesmos caminhos que seu livro anterior. Narrado em primeira pessoa através do
irmão mais velho Matthew que passa a ser um narrador onisciente, conhecemos em
detalhes toda a saga da família Dunbar, que começa com Matthew mais velho, mas
que alterna entre o passado de seus pais e o momento em que o pai deles aparece
na casa dos filhos para pedir ajuda para construir uma ponte no local em que
mora. O enfoque sempre tenta ser no irmão Clay que é tido como o mais
diferente.
Os primeiros capítulos do livro é
focado apenas nos irmãos, e tem bastante testosterona, com uma narrativa mais
direta e agressiva, já que estes irmãos carecem de delicadeza e educação, sendo
agressivos uns com os outros e com os que estão próximos. Essas primeiras
páginas pareciam prerrogativa de um livro que não ia me agradar, mas aos poucos
com o primeiro capítulo dedicado a mãe, Penélope, a narrativa vai ganhando
sentimento e densidade, e saindo da crueza inicial.
Após se acostumar ao modo de ser
dos irmãos o leitor começa a criar laços com os meninos que têm suas próprias
características, Matthew parece ser o mais sério já que com apenas dezoito anos
acabou com a responsabilidade de criar os irmãos mais novos, e o fez de maneira
não muito tradicional. Rory é o mais rebelde desde muito pequeno, Henry têm
maus bocados após suas bebedeiras, Clay é um jovem introvertido que tem um
mundo gigante dentro de si, por fim Tommy o mais novo é quem me despertou mais
afinidade com seus inúmeros animais que incluem uma cachorra, um gato, um
pombo, um peixe e uma mula.
Penélope a mãe tem uma
personalidade muito jovial, é uma estrangeira na Austrália, que estava determinada
a vencer já que era um desejo de seu pai. Seu amor pelo piano é um fio condutor
que manteve entre os filhos, e seu modo de agir com eles não era dos mais
comuns. Michael o pai despertou muita empatia, mesmo quando ainda não tinha
ficado clara sua culpa na trama, ele é um homem muito sensível que não sabe
lidar com suas perdas.
Carey é uma jovem com quem Clay
tem intimidade e que faz com que Clay tenha ânimo para viver seus dias. Ele
estabelece por muito tempo uma relação um tanto platônica com ela de muita
intimidade mas ao mesmo tempo de certa distância física.
No início eu simplesmente não
tive interesse em saber os rumos que a estória tomava, a trama não despertava
minha atenção, mas de repente estava totalmente envolvida e querendo saber
porque estes irmãos chamavam o pai de assassino, e passei a criar teorias
óbvias a respeito. Passei a compreender detalhes que no começo estavam soltos e
sem propósitos e ganharam explicação. Destaque para o amor pela leitura que
Clay tem e que é compartilhado por ele e Carey todo o tempo. Os livros são
usados como modo de organizar suas vidas e as compreender.
O Construtor de Pontes é um
romance sobre perda e lutos, e como cada um lida com isso, alguns infelizmente
se esquecem que a sua forma de agir não está apenas ligada a você, mas a outras
pessoas, e acabam por tomar atitudes que geram um efeito dominó, outros
conseguem transformar suas dores como podem. Mas o fato é que estamos todos
tentando sobreviver as dores que nos causam, e é importante lembrar que não
podemos gerar dor no próximo porque fomos machucados.

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