Em “Cowabunga!”
(caso você esteja se perguntando, essa palavra se lê assim: Cau-a-ban-ga)
conhecemos a história do ex-surfista Ricardo Avelar, mais conhecido por Zimbo,
que, quando jovem, tinha um futuro promissor no esporte quando um acidente
acabou com seu pé e sua carreira.
Agora,
quarenta anos depois, ele vive amargurado e não entra mais no mar por diversos
motivos, mas não deixa de ir à praia passar seus dias observando a imensidão do
mar e os jovens surfistas praticando por horas a fio. Sempre sentindo uma
vontade imensa de entrar na água para mostrar a eles como se surfa direito,
Zimbo sempre desiste no último momento, indo para casa frustrado mais uma vez.
Então só
resta ao surfista reviver os momentos de glória através das boas memórias da
época, viajando por pensamentos e lembranças até tempos melhores em sua vida.
A escrita de
Ana Paula, que é envolvente e gostosa, além de leve e despretensiosa, apresenta
uma história bem realista e personagens igualmente reais, e ela consegue nos
transmitir a vida de Zimbo de uma forma bem agradável, parece até um papo contado
por alguém que conhecemos numa tarde ensolarada na praia.
A narrativa
é em terceira pessoa e, em alguns momentos, é intercalada entre o presente e o
passado de Zimbo, através de recordações da época mais feliz de sua vida. E ele
é o foco de tudo, já que o acompanhamos o tempo todo, com suas histórias a
contar.
O protagonista
é sincero, acomodado, se importa mais do que deveria com a opinião dos outros, é solitário, apesar de estar rodeado de pessoas o tempo
inteiro, até porque ele passa boa parte do tempo em praias, que estão, quase
sempre, cheias, mas nenhum é seu amigo ou alguém muito próximo a ele. Ele também mantém uma ótima aparência apesar da idade (ele já passa dos
sessenta anos), com seus cabelos brancos quase da mesma cor do loiro natural,
olhos claros e corpo sarado, afinal não come nada que possa afetar seu físico
perfeito.
Mas,
infelizmente, não consegui gostar de Zimbo, que é dono de uma personalidade difícil,
além de muito arrogante, característica que me incomoda muito, não apenas em
personagens de livros, mas principalmente na vida real, então minha simpatia por
ele foi por água abaixo.
Acho que a
maior característica do livro, e também a mais evidente, é o saudosismo. Zimbo
está preso ao passado e a sua época de auge do surfe, quando vivia em cima de
uma prancha, praticando, concorrendo e ganhando competições. Então estamos
sempre rodeados de recordações e devaneios sobre seu passado, e encontramos
muitas referências dos anos 60 e 70.
Zimbo tem
uma ótima condição financeira e vive em uma boa casa com uma mulher muito mais
jovem do que ele, Letícia. Mas esse relacionamento amoroso entre os dois é
regado a segundas intenções de ambas as partes. Ele, por gostar de se envolver
com uma linda mulher muito mais nova, que tem um corpão, e a quem ele pode
exibir por aí como uma namorada troféu. Ela, por estar com alguém com uma ótima
condição monetária, mas não se importa nada com Zimbo, saindo o tempo todo com
os amigos e indo a diversas baladas. Só não entendo muito o propósito dela
ainda estar com ele se poderia estar com alguém de quem gostasse mais, já que
ali ela precisa aturar o mau humor e as grosserias de Zimbo e ainda arrumar a
casa, lavar suas roupas, fazer a comida, etc. Além de tudo, é constantemente
traída por ele e sabe disso, já que as mulheres mais novas vivem dando atenção
a Zimbo que, mesmo estando em um relacionamento sério com Letícia, não perde a
oportunidade e faz sexo com todas.
Achei uma
cena totalmente desnecessária e meio irritante no livro, que foi quando Zimbo
quase mata um menino enforcado e afogado, o garoto é até levado, mas não merece
ser assassinado, ele só precisa de educação da parte dos pais. E depois dessa
cena absurda que quase se concretiza, o povo da praia fica ao lado de Zimbo e
não do pai da criança que estava desesperado porque seu filho quase foi morto
por um velho maluco dentro do mar.
Alguns
termos utilizados por surfista foram explicados, outros não, o que foi
complicado porque eu não entendo essa linguagem. O subtítulo, “Desventuras de
um ex-surfista”, representa muito bem a história e complementa o título, que
também combina com o texto, já que Cowabunga! era um grito de guerra utilizado
pelos surfistas americanos na década de sessenta antes de uma manobra radical
ou de levarem um caldo de alguma onda, e também o nome dado à prancha de Zimbo.
Essa capa é
sensacional e passa totalmente a ideia da obra, principalmente porque tem
aquele ar de surfe nos anos 60, que tem relação com o conteúdo da história.
Também achei as cores lindas e harmoniosas, e é uma capa que chama a atenção
mesmo se vista de longe. A diagramação é simples, mas bem feita. A fonte e o
espaçamento não estão muito grandes, mas não incomodaram minha leitura, e as
páginas são amarelas.
O final é
extremamente triste e bem chocante, confesso que não esperava por esse
desfecho, mas entendo que a autora quis finalizá-lo assim, não que eu concorde
com a atitude de Zimbo, pelo contrário, acho que ele deveria ter pensado melhor
e ido atrás de uma solução menos definitiva e mais sensata, mas se fosse assim
não seria Zimbo.
O livro é
fininho, tem apenas 160 páginas e a leitura é rápida. Repleto de diálogos e com
um texto original, que foge dos padrões do que estou acostumada a ler, a leitura
é válida para quem gosta de um texto reflexivo, com um tom mais dramático, mas
também há bastante cenas engraças, como uma de um garotinho que cisma em
perturbar Zimbo com suas bagunças. Recomendo!
Um dos melhores nacionais que li este ano! Não sou muito fã de praia, mas este livro me conquistou pela presença de muitos sentimentos. Comecei o livro querendo matar Zimbo, fiquei com muita raiva da cena do menino que vc citou, mas depois de terminar a leitura, me coloquei um pouco no lugar dele, e até consegui nutrir uma certa simpatia pelo mesmo! rsrsrsrsrrsr
ResponderExcluirAdorei sua resenha, me deu vontade de ler o livro novamente!
bjo bjo^^
rockanapcm1@gmail.com
https://www.facebook.com/rockanapcm/posts/670905709613903?stream_ref=10
ExcluirAAAAAH! Já vi muita gente falando desse livro, mas nunca me interessei, mas agora que li sua resenha mudei de opinião, pois a história parece ser bem legal, eu nunca li nada sobre surfistas, então esse livro já aguçou um pouco a minha curiosidade, ver que o sonho dele foi destruído por causa de um acidente, fez com que eu quisesse mais ainda ler o livro, pois acredito que no final terá uma bela mensagem. Quanto a ele ser arrogante, eu acho que entenderia o motivo dele, afinal, ele teve a vida meio que destruída depois que o sonho dele foi interrompido. E aaah, ele me lembrou Will do livro Como eu era antes de você, pois no começo ele é beeem arrogante e chato, mas depois não há como não amar ele kkkk Fiquei super curiosa com o final, pelo o que eu li na resenha, deve ser um final imprevisível e que irá surpreender, enfim, eu adorei a resenha, não estou podendo comprar livros, caso contrário estava indo agora no submarino comprar esse livro kkkk
ResponderExcluirBeijos :*
Larii.rock@gmail.com
https://twitter.com/Larii_Telles/status/466642279269019648
ExcluirNossa, nunca tinha ouvido falar desse livro!
ResponderExcluirAdorei a ilustração da capa e as cores tb, tudo combina demais com o surf!
Pelo jeito parece que eu ficaria bem irritada com o Zimbo tb, mas só lendo para saber né!
beijos,
Aninha
Leitora X
Adorei a resenha e fiquei mega curiosa!
ResponderExcluirPreciso MUITO ler esse livro.
Já encomendei o meu no site da Saraiva..
#ansiosa #chegalogolivro
A capa é muito maneira e tem uma ideia mesmo que remete ao conteúdo, mas este protagonista parece ser muito chato! Eu não fiquei com vontade de ler. E que péssima essa cena do Zimbo quase matando um menino e as outras pessoas ficando do lado dele, o que elas tem na cabeça? Eu hein! Mas obrigada pela resenha incrível, bem elaborada e sincera! Estamos precisando mais delas na blogosfera.
ResponderExcluirBeijoks
Alice Gabriella
alice-gabriella@outlook.com
O livro é lindo, e o único defeito dele, para mim, foi que podia ser beeem mais longo. Adorei a historia. O Zimbo é o que eu posso chamar de "ranzinza carismático"... Ele é cheio de personalidade e manias (tipo qualquer ser humano), mas acompanhando sua narração, vamos nos identificando com seus dramas.
ResponderExcluirA cena que Zimbo quase afogou o pirralho do João eu chorei de rir... muito cômica. Engraçado e imprevisivel (sem contar que o muleque mereceu...rsrsrs).