Beta – Annex #01 – Rachel Cohn

Em “Beta”, primeiro livro da série Annex, conhecemos a ilha paradisíaca Demesne, onde somente as pessoas mais ricas e privilegiadas do planeta têm a oportunidade e condição de morar e pouquíssimos outros de visitar. Mas aquela não é uma ilha normal, ela é perfeita no sentido mais amplo da palavra, com o ar bem puro e diferente de qualquer outro lugar no mundo, águas tão calmas de cor violeta que servem para as pessoas se sentirem bem e relaxadas, não existe poluição e só há gente bonita. Qualquer ser humano que viva ali ou frequente o local nem mesmo consegue trabalhar ou se esforçar para nada, de tão agradável que é a atmosfera de lá.
Por conta disso existem os clones, pessoas sem alma que são criadas a partir de outras que acabaram de morrer, mantendo sua inteligência, aparência e habilidades, mas sem a emoção e a memória de sua matriz. A pessoa nasce, ou melhor, emerge com a idade atual, então não tem recordações de infância e nem experiências anteriores, começa com aquela idade e precisa aprender tudo a partir daquele momento. Eles são diferenciados das pessoas normais porque apresentam tatuagens faciais que representam seus propósitos (em que área precisa trabalhar, por exemplo). Esses clones não sentem e foram criados com o intuito de servirem aos seres humanos verdadeiros, trabalhando para eles e fazendo tudo o que lhes é mandado, sem nem poder reclamar ou desobedecer, já que as consequências seriam terríveis. Mas não há problema quanto a isso, afinal, eles são clones e, portanto não possuem alma e nem vontades próprias.
É por isso que conhecemos Elysia, que é um Beta, um modelo experimental de clone adolescente, e ninguém sabe ainda como ela vai se comportar porque essa é uma idade bem difícil de ser controlada. Mas Elysia é uma boa menina que logo é comprada por uma mulher bem importante na ilha, e vai servir de acompanhante para a sua família, substituindo a filha mais velha deles que saiu de Demesne para estudar. Ela precisa fazer tudo o que mandam e obedecê-los qualquer que seja sua tarefa, e age exatamente assim por um bom tempo, até perceber que ela é muito mais do que isso já que consegue sentir as coisas, como gostos e sentimentos, e o mais significativo e aterrorizante segredo: ela tem a capacidade de recordar as lembranças de sua matriz. Será ela uma defeituosa? E como ela deveria fazer para escapar, ganhar a liberdade e viver sua própria vida? Principalmente porque não há em quem confiar e muito menos alguém para ajudá-la. Será que vai conseguir sobreviver? E o que será dos outros clones que têm suas vidas condenadas à escravidão até o dia em que não foram mais necessários?

A base da história criada por Rachel Cohn foi bem verossímil, já que eu acredito que realmente poderia existir uma ilha super exclusiva só para pessoas ricas com tudo de melhor que pode ser encontrado no mundo, inclusive o ar e a água do mar melhorados, e não duvidaria se realmente fizessem clones para servir de escravos já que não precisariam de salário e fariam tudo o que fosse mandado, perfeitamente e sem reclamações, afinal já vi coisas tão ruins quanto vindo dos humanos, que um absurdo deste poderia ser considerado normal se por algum acaso já existisse. O que é terrível de se imaginar, mas não duvido de nada de ruim vindo da humanidade.
Então eu curti a ideia criada pela autora, porque poderia ser algo real em um futuro, mesmo que eu não concorde com ele e as atitudes encontradas nas pessoas, e acho que Cohn foi feliz em criar explicações bem feitas e plausíveis para tudo aquilo que inventou, transmitindo suas ideias muito bem, de forma leve e bem feita, não sobrando espaço para dúvidas, mas alimentando a vontade de conhecermos cada vez mais o mundo que desenvolveu.
A narrativa no começo é meio lenta, já que acompanhamos o início de tudo na vida de Elysia e as explicações sobre o local em que vive e sobre o que são os clones. Depois não há muita coisa acontecendo no quesito ação e adrenalina, mas há o despertar da protagonista para como as coisas realmente são, que é uma parte de extrema importância para o desenvolvimento do que Rachel pretende com sua série. E no final tudo vai ficando mais ágil, com mais ação, romance, questões sobre o certo e o errado, questionamentos, descobertas, etc. Acho que ficou bom esse desenvolvimento do ritmo porque combinou com estava sendo dito.
A única coisa que me incomodou é que, em muitos momentos quando estava chegando ao final da leitura, a escrita ficou mais superficial, faltou profundidade. Parece que a autora quis correr para finalizar com um número de páginas exato, como se ela não pudesse ultrapassá-las, então a narrativa ganhou um ritmo mais acelerado do que o resto do livro, mas não de uma forma positiva, já que as ações ficaram meio artificiais, acredito que precisavam ter sido melhor desenvolvidas, e faltou mais emoção para deixar o leitor ligado aos acontecimentos, que eram importantes, mas a forma como foram apresentados deixou tudo bem distante.

De todos os personagens, a que eu mais consegui me conectar foi a Elysia, principalmente porque acompanhamos seus pensamentos com a narrativa em primeira pessoa, mas também porque todos os outros personagens não foram assim tão explorados. Talvez isso tenha acontecido porque a maior parte do tempo Elysia se sente afastada psicologicamente e emocionalmente dos demais por ser um clone, já que foi explicado a ela que era assim que deveria agir. Mas acho que essa foi a intenção da autora porque, como o primeiro livro da série, acompanhamos a vida da protagonista vivendo como tal, então pareceu mais real todo esse afastamento.
Além do mais, podemos acompanhar o crescimento dela, de uma pessoa inocente e sem pretensão de nada além da servidão e da submissão, e podemos até entendê-la, afinal ela é uma vida nova, acabou de ser criada com dezesseis anos, e ainda não sabe de nada, só as coisas que lhe foram ditas. Até que ela se transforma em alguém que não deseja aceitar mais nada daquilo, que quer lutar, viver e ser livre.
De qualquer maneira, fiquei curiosa para conhecer uma personagem que só foi citada neste volume, e quero conhecer alguns que aparecem mais para o final, assim como outros que tiveram uma participação mais constante na vida de Elysia, mas que ainda não conhecemos tanto assim, e que possuem um potencial para significar algo importante mais para frente.
Há um tipo de um triângulo amoroso, mas ainda não sei muito o que pensar dele porque os sentimentos não foram tão bem transmitidos ao leitor, inclusive por conta de uma revelação no meio da história sobre um deles, e o outro não tem uma grande presença, então não deu tempo de conhecê-lo tanto. E, apesar de ter criado uma simpatia um pouco maior por esse segundo, duvido que ela fique com ele mais para a frente, só se as coisas mudarem bastante, mas também não gostaria que ela escolhesse o outro por motivos que não posso citar, então vou torcer para que apareça um terceiro carinha.

Gostei bastante do final porque acabou em cliffhanger (aquele tipo de finalização que te deixa de boca aberta com algo que acontece e cheia de ansiedade para conferir o que vem em seguida, mas tem que esperar o próximo livro para saber), e eu gosto muito quando esse recurso é utilizado porque nos deixa com mais vontade de ler o volume seguinte, e eu, claro, já fiquei louca para ler a continuação “Emergent”, que infelizmente só será lançado em outubro lá fora, então ainda vai demorar bastante para chegar ao Brasil.
Confesso que também me surpreendi em algumas partes, principalmente nas quais pensei que uma das explicações seria uma coisa parecida com o que houve, mas acabou sendo outra, apesar de também haver horas que a gente já sacava o que iria acabar sendo revelado muito antes de isso acontecer.
Adorei esta capa e fico feliz que a Editora iD tenha escolhido manter essa aqui no Brasil ao invés da outra edição que fizeram lá fora, porque esta daqui é bem mais legal e passa totalmente a ideia do livro, por conta da protagonista com um ar de distância, como os clones são, mostrando seus olhos violetas sem emoção e a tatuagem no rosto. O fundo também é muito bonito, com tons de roxo e verde, dando um efeito bem maneiro. Só espero que os próximos volumes brasileiros sigam esse padrão do primeiro e não o lá de fora, que mudou totalmente para acompanhar a nova versão.
A diagramação está muito bem feita como em todos os livros da iD. A fonte e os espaçamentos estão ótimos para uma leitura por mais tempo sem cansar a vista, com detalhes gráficos do mesmo desenho da tatuagem da capa, e ainda contando com páginas amarelas.

A leitura é válida para quem gosta de possíveis futuros que poderíamos vivenciar, com clones e um lugar exclusivo à beira da perfeição. Esse primeiro volume conseguiu cumprir sua meta e nos apresentou a história e seu propósito muito bem, deixando o leitor curioso para o que vem a seguir. Gostei muito desta experiência de leitura e quero muito continuar acompanhando a série. Super recomendado!
Avaliação



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2 comentários:

  1. Olá!
    Primeiramente achei a capa encantadora, não sei.. Me despertou algo dentro de mim *o* Eu fiquei bem curiosa e me deu uma extrema vontade de comprar agorinha. Enfim, foi para a listinha de desejados.
    Beijos!
    www.diariodostreze.blogspot.com

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  2. Eu tenho um certo pavor desta capa.... Acho ela tão esquisita, mas não deixa de ser bonita! rsrsrsrsrrs

    Bem, a ideia me agrada, nunca li nada parecido, e gostei muito da sua resenha!

    bjo bjo^^

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