Em “Beta”,
primeiro livro da série Annex, conhecemos a ilha paradisíaca Demesne, onde
somente as pessoas mais ricas e privilegiadas do planeta têm a oportunidade e
condição de morar e pouquíssimos outros de visitar. Mas aquela não é uma ilha
normal, ela é perfeita no sentido mais amplo da palavra, com o ar bem puro e
diferente de qualquer outro lugar no mundo, águas tão calmas de cor violeta que
servem para as pessoas se sentirem bem e relaxadas, não existe poluição e só há
gente bonita. Qualquer ser humano que viva ali ou frequente o local nem mesmo
consegue trabalhar ou se esforçar para nada, de tão agradável que é a atmosfera
de lá.
Por conta
disso existem os clones, pessoas sem alma que são criadas a partir de outras que
acabaram de morrer, mantendo sua inteligência, aparência e habilidades, mas sem
a emoção e a memória de sua matriz. A pessoa nasce, ou melhor, emerge com a
idade atual, então não tem recordações de infância e nem experiências
anteriores, começa com aquela idade e precisa aprender tudo a partir daquele
momento. Eles são diferenciados das pessoas normais porque apresentam tatuagens
faciais que representam seus propósitos (em que área precisa trabalhar, por
exemplo). Esses clones não sentem e foram criados com o intuito de servirem aos
seres humanos verdadeiros, trabalhando para eles e fazendo tudo o que lhes é
mandado, sem nem poder reclamar ou desobedecer, já que as consequências seriam
terríveis. Mas não há problema quanto a isso, afinal, eles são clones e,
portanto não possuem alma e nem vontades próprias.
É por isso que
conhecemos Elysia, que é um Beta, um modelo experimental de clone adolescente,
e ninguém sabe ainda como ela vai se comportar porque essa é uma idade bem
difícil de ser controlada. Mas Elysia é uma boa menina que logo é comprada por
uma mulher bem importante na ilha, e vai servir de acompanhante para a sua
família, substituindo a filha mais velha deles que saiu de Demesne para
estudar. Ela precisa fazer tudo o que mandam e obedecê-los qualquer que seja
sua tarefa, e age exatamente assim por um bom tempo, até perceber que ela é
muito mais do que isso já que consegue sentir as coisas, como gostos e
sentimentos, e o mais significativo e aterrorizante segredo: ela tem a
capacidade de recordar as lembranças de sua matriz. Será ela uma defeituosa? E
como ela deveria fazer para escapar, ganhar a liberdade e viver sua própria vida?
Principalmente porque não há em quem confiar e muito menos alguém para
ajudá-la. Será que vai conseguir sobreviver? E o que será dos outros clones que
têm suas vidas condenadas à escravidão até o dia em que não foram mais
necessários?
A base da
história criada por Rachel Cohn foi bem verossímil, já que eu acredito que
realmente poderia existir uma ilha super exclusiva só para pessoas ricas com
tudo de melhor que pode ser encontrado no mundo, inclusive o ar e a água do mar
melhorados, e não duvidaria se realmente fizessem clones para servir de
escravos já que não precisariam de salário e fariam tudo o que fosse mandado,
perfeitamente e sem reclamações, afinal já vi coisas tão ruins quanto vindo dos
humanos, que um absurdo deste poderia ser considerado normal se por algum acaso
já existisse. O que é terrível de se imaginar, mas não duvido de nada de ruim
vindo da humanidade.
Então eu
curti a ideia criada pela autora, porque poderia ser algo real em um futuro, mesmo
que eu não concorde com ele e as atitudes encontradas nas pessoas, e acho que
Cohn foi feliz em criar explicações bem feitas e plausíveis para tudo aquilo
que inventou, transmitindo suas ideias muito bem, de forma leve e bem feita,
não sobrando espaço para dúvidas, mas alimentando a vontade de conhecermos cada
vez mais o mundo que desenvolveu.
A narrativa
no começo é meio lenta, já que acompanhamos o início de tudo na vida de Elysia
e as explicações sobre o local em que vive e sobre o que são os clones. Depois
não há muita coisa acontecendo no quesito ação e adrenalina, mas há o despertar
da protagonista para como as coisas realmente são, que é uma parte de extrema
importância para o desenvolvimento do que Rachel pretende com sua série. E no
final tudo vai ficando mais ágil, com mais ação, romance, questões sobre o
certo e o errado, questionamentos, descobertas, etc. Acho que ficou bom esse
desenvolvimento do ritmo porque combinou com estava sendo dito.
A única
coisa que me incomodou é que, em muitos momentos quando estava chegando ao
final da leitura, a escrita ficou mais superficial, faltou profundidade. Parece
que a autora quis correr para finalizar com um número de páginas exato, como se
ela não pudesse ultrapassá-las, então a narrativa ganhou um ritmo mais
acelerado do que o resto do livro, mas não de uma forma positiva, já que as
ações ficaram meio artificiais, acredito que precisavam ter sido melhor
desenvolvidas, e faltou mais emoção para deixar o leitor ligado aos
acontecimentos, que eram importantes, mas a forma como foram apresentados deixou
tudo bem distante.
De todos os
personagens, a que eu mais consegui me conectar foi a Elysia, principalmente
porque acompanhamos seus pensamentos com a narrativa em primeira pessoa, mas
também porque todos os outros personagens não foram assim tão explorados.
Talvez isso tenha acontecido porque a maior parte do tempo Elysia se sente
afastada psicologicamente e emocionalmente dos demais por ser um clone, já que foi
explicado a ela que era assim que deveria agir. Mas acho que essa foi a
intenção da autora porque, como o primeiro livro da série, acompanhamos a vida
da protagonista vivendo como tal, então pareceu mais real todo esse
afastamento.
Além do
mais, podemos acompanhar o crescimento dela, de uma pessoa inocente e sem pretensão
de nada além da servidão e da submissão, e podemos até entendê-la, afinal ela é
uma vida nova, acabou de ser criada com dezesseis anos, e ainda não sabe de
nada, só as coisas que lhe foram ditas. Até que ela se transforma em alguém que
não deseja aceitar mais nada daquilo, que quer lutar, viver e ser livre.
De qualquer
maneira, fiquei curiosa para conhecer uma personagem que só foi citada neste
volume, e quero conhecer alguns que aparecem mais para o final, assim como outros
que tiveram uma participação mais constante na vida de Elysia, mas que ainda
não conhecemos tanto assim, e que possuem um potencial para significar algo
importante mais para frente.
Há um tipo
de um triângulo amoroso, mas ainda não sei muito o que pensar dele porque os
sentimentos não foram tão bem transmitidos ao leitor, inclusive por conta de
uma revelação no meio da história sobre um deles, e o outro não tem uma grande presença,
então não deu tempo de conhecê-lo tanto. E, apesar de ter criado uma simpatia
um pouco maior por esse segundo, duvido que ela fique com ele mais para a
frente, só se as coisas mudarem bastante, mas também não gostaria que ela
escolhesse o outro por motivos que não posso citar, então vou torcer para que
apareça um terceiro carinha.
Gostei
bastante do final porque acabou em cliffhanger
(aquele tipo de finalização que te deixa de boca aberta com algo que acontece e
cheia de ansiedade para conferir o que vem em seguida, mas tem que esperar o
próximo livro para saber), e eu gosto muito quando esse recurso é utilizado
porque nos deixa com mais vontade de ler o volume seguinte, e eu, claro, já
fiquei louca para ler a continuação “Emergent”, que infelizmente só será
lançado em outubro lá fora, então ainda vai demorar bastante para chegar ao
Brasil.
Confesso que
também me surpreendi em algumas partes, principalmente nas quais pensei que uma
das explicações seria uma coisa parecida com o que houve, mas acabou sendo
outra, apesar de também haver horas que a gente já sacava o que iria acabar
sendo revelado muito antes de isso acontecer.
Adorei esta
capa e fico feliz que a Editora iD tenha escolhido manter essa aqui no Brasil
ao invés da outra edição que fizeram lá fora, porque esta daqui é bem mais
legal e passa totalmente a ideia do livro, por conta da protagonista com um ar
de distância, como os clones são, mostrando seus olhos violetas sem emoção e a
tatuagem no rosto. O fundo também é muito bonito, com tons de roxo e verde,
dando um efeito bem maneiro. Só espero que os próximos volumes brasileiros
sigam esse padrão do primeiro e não o lá de fora, que mudou totalmente para
acompanhar a nova versão.
A
diagramação está muito bem feita como em todos os livros da iD. A fonte e os
espaçamentos estão ótimos para uma leitura por mais tempo sem cansar a vista,
com detalhes gráficos do mesmo desenho da tatuagem da capa, e ainda contando
com páginas amarelas.
A leitura é
válida para quem gosta de possíveis futuros que poderíamos vivenciar, com
clones e um lugar exclusivo à beira da perfeição. Esse primeiro volume
conseguiu cumprir sua meta e nos apresentou a história e seu propósito muito
bem, deixando o leitor curioso para o que vem a seguir. Gostei muito desta
experiência de leitura e quero muito continuar acompanhando a série. Super
recomendado!
Avaliação
Olá!
ResponderExcluirPrimeiramente achei a capa encantadora, não sei.. Me despertou algo dentro de mim *o* Eu fiquei bem curiosa e me deu uma extrema vontade de comprar agorinha. Enfim, foi para a listinha de desejados.
Beijos!
www.diariodostreze.blogspot.com
Eu tenho um certo pavor desta capa.... Acho ela tão esquisita, mas não deixa de ser bonita! rsrsrsrsrrs
ResponderExcluirBem, a ideia me agrada, nunca li nada parecido, e gostei muito da sua resenha!
bjo bjo^^