O Fim da Infância - Arthur C. Clarke


Dei um certo 'azar' e peguei dois livros seguidos bons, mas que me fizeram sofrer com seus conteúdos! O inconsciente prega dessas peças e só ele sabe as conversas que teve com esses conteúdos rs! O Fim da Infância, do autor Arthur C. Clarke, publicado pela editora Aleph, não parecia ser o tipo de livro que me daria mal estar, mas eis que eu fiquei bastante mexida com seu desenvolvimento!

Durante a Guerra Fria na disputa espacial entre Rússia e Estados Unidos surgem nas principais capitais do mundo diversas naves. O homem não estava mais só, e mais do que isso deixou de ser dono de sua liberdade, os senhores supremos agora que guiam os próximos passos da Terra. O sofrimento, a violência e outras desigualdades deixam de existir, mas a pergunta que não é respondida é qual a intenção destes seres? Porque eles não se mostram? O objetivo deles converge com o bem estar da população terrestre?

Clarke tem uma narrativa feita em três partes peculiar e imprevisível, não é rebuscada, mas também não soa comum e coloquial, é feita em terceira pessoa e narra os acontecimentos do ponto de vista da humanidade, ou seja, não acompanhamos um personagem, mas sim a humanidade ao longo do tempo. O fato do foco se dar na Terra e não apenas em um personagem é novidade para mim, mas parece que é característica da ficção científica (sou novata, mas aprendo!). A identificação do livro não se dá assim por um protagonista, mas conosco mesmo habitantes da mesma Terra.

Karellen é um senhor supremo o único personagem que aparece ao longo de todos os anos da trama, já que é o supervisor do projeto na Terra, e é quem trata com os seres humanos. Sua resignação quanto a sua missão e sua condição de vida é bem alien mesmo, qualquer ser humano em seu lugar estaria gritando pelas galáxias. Eis que ai reside uma sabedoria de compreender os fatos e não discutir com aquilo que está acima de nossas capacidades de mudar.

Os conceitos abordados são bastante densos e complexos, os senhores supremos falam de maneira enigmática e vaga boa parte do tempo, ao mesmo tempo em que apontam a incapacidade humana de seguir com as próprias pernas e descobrir o espaço. O objetivo destes seres embora explicado é um pouco subjetivo e diria maluco, para não dizer angustiante! Esse objetivo é que nos cola até o fim, é o que nos faz permanecer mesmo diante do incomodo. Então na reta final quando eles o revelam é desesperador de pensar, ou melhor claustrofóbico! Embora deva dizer não impossível e dai vem a angústia porque se fosse absurdo não afetaria e ficaria no campo das ideias.

O que mais me encantou no livro foi a psicologia humana escrachada. A Terra se torna um lugar perfeito, logo esperamos que todos estejam satisfeitos já que não existem problemas correto? Mas não é o que acontece já que diversos indivíduos não aceitam ter sua liberdade tolida. E ai surge uma questão estamos preparados para abrir mão de um quinhão de liberdade por um quinhão de felicidade? Eis uma questão psicanalítica muito abordado por todo o livro.

O trato dos senhores supremos com a população seguia no sentido de acostumarem as futuras gerações para mudanças, inclusive de conhecer as figuras deles. Acredito que nesse sentido Clarke foi vanguarda já que na minha opinião este contato vai se dar e precisa dessa preparação. O autor é tão vanguarda que se não eu não soubesse que era um livro antigo (1953) eu acreditaria que foi feito recentemente tamanha identificação com a atual realidade, não sei se isso é uma visão dele, ou significa que o ser humano caminha a passos muito lerdos e já era assim desde quando ele escreveu e permaneceu!

Essa edição conta com dois extras, o primeiro uma versão alternativa para o primeiro capítulo, cujo qual prefiro a original, e segundo o conto que deu origem ao livro (Anjo da Guarda 1946) que não trás novidade já que aparece todo ao longo do livro, mas que não deixa de ser interessante já que ele era inédito até ser publicado por aqui.


O fim da Infância é uma obra que mexe com nossos sentimentos e perspectivas para o futuro. Desde a ideia do que aconteceria com um contato final até o que tipo de coisa poderíamos de fato aprender e também compartilhar com eles. É o livro que nos esvazia, nos suga e nos questiona quem somos, o que queremos e porque queremos. É um convite para deixar a infância não como fase de desenvolvimento física, mas como condição mental perante o todo, você está preparado?!

P.s o canal SyFy fez um seriado com três episódios sobre o livro e teve sua estréia em dezembro de 2015.

Avaliação









Comente com o Facebook:

Nenhum comentário:

Postar um comentário