O livro é resultado da pesquisa
realizada por Ginzburg sobre a mentalidade de uma sociedade camponesa e suas
atitudes religiosas no século XVI e XVII, abrangendo a história de um núcleo de
crenças populares que diante de pressão ao longo do tempo se viu envolvida à
feitiçaria.
Para alcançar seu objetivo o
autor se utilizou de relatos da igreja dos casos julgados na inquisição nas
regiões do norte da Itália, onde existia uma tradição friulana, os benandantis,
ou andarilhos do bem. Acompanhamos de perto relatos em primeira pessoa tanto
dos acusados quanto dos acusantes, assim como os julgamentos dos integrantes da
igreja.
Através dos relatos a figura do
camponês benandanti se define, esses indivíduos que durante épocas específicas
do ano abandonam seus corpos para uma batalha noturna, onde travam uma luta
contra as bruxas/feiticeiros, e quando vencem a fertilidade vence, já quando
perdem o ano de colheita é ruim. Logo, o que vemos aqui não é um sabá como
tentou afirmar a inquisição, mas um rito agrário. Algumas ligações com a
procissão dos mortos e caçadas selvagens também são feitas, mas não há maior
profundidade a respeito.

O caso mais explorado e que conta
inclusive com os processos transcritos ao final do livro são de Módico e
Gasparutto que contam em detalhes o que ocorre nestes encontros, e como é ser
um benandanti. É apenas benandanti aquele que nasce com o pelico, ou seja,
envolvido na membrana plasmática, e guarda essa membrana consigo. Quando
adolescente ele é chamado a combater durante a noite, e diante disso surgem
diversas histórias sobre as saídas do corpo, que vão desde espíritos que se
perdem até encontros com o diabo.
Acompanhando a linha do tempo é
perceptível que eles deixaram de ser os defensores da terra e tornaram-se uma
ameaça para os que viviam em sua proximidade, já que um dos talentos destas
pessoas é reconhecer enfeitiçados e os responsáveis pelos mesmos. Logo quando
eles passaram a denunciar as pessoas as discórdias começaram nos pequenos
vilarejos. Pois imaginem que eles começam a cobrar para tirar o feitiço das
pessoas, e os indivíduos pobres não podiam pagar, mas estes que não podiam
pagar começam a ver os benandantis como pessoas non gratas, a partir desse
momento cresce o número de denúncias que surgem a partir de picuinhas
particulares e não da realidade.
Ao mesmo tempo podemos perceber
que diante da pressão a estas pessoas que se diziam combatendo o mal para Deus,
a igreja se viu de mãos atadas, já que a figura do diabo ou a negação de Cristo
era rara nos discursos. Poucos foram os casos citados que terminaram em morte,
com o tempo o que surgiu foi um desinteresse da igreja. Não sei se foi um caso
a parte, mas o que ficou foi a impressão que a inquisição nestas regiões foi
menos severa do que nos demais locais da Europa.
Em alguns discursos o lado das
bruxas é relatado, naquela velha versão de comedora crianças e que espalha a
peste pelos locais, mas não ficou claro se de fato era algo que viam ou era
apenas o medo tomando forma diante do escuro. O fato é que os benandantis não
eram vistos como bruxas, se consideram como uma categoria a parte.
Andarilhos do bem é um livro
denso porque não tem uma narrativa fluída, já que é uma sucessão de relatos e
documentos históricos, mas trabalha com a crença e realidade dos indivíduos que
viveram nestas épocas. Sem ser tendencioso, Carlo consegue explicar que seja
através de supertição ou religião o que todos eles queriam era sobreviver.
Avaliação

Gostei da sua resenha e achei muito interessante a forma como vc apresentou o livro. Relatos diversos em várias épocas às vezes torna-se cansativo, por isso não sei se gostarei do livro, mas para isso, primeiro terei que ler, não é mesmo?
ResponderExcluirAchei interessante a abordagem, mas confesso que não sou do tipo leitora que lê essa obra.
ResponderExcluirNão gosto muito desse estilo e por isso não compraria esse livro rs
Gostei de como relatou o tema, parabéns pela resenha.
Beijos,
Caroline Garcia
caarol.garcia@hotmail.com
Conheço esse de História Noturna, mas esse aí não tinha visto. O tema me parece interessante. Gosto de ver/ler coisas desses tempos, o que a religião afetou nas pessoas, os mitos de feitiçaria e todo aquele fanatismo e etc. Achei interessante ter um livro que aborda coisas assim, deve ser bom de ler pra entender esses tempos.
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