Linha M - Patti Smith


Algumas vezes como por encanto algum livro cai nas minhas mãos, normalmente eu não o compraria e provavelmente não participaria de um sorteio dele, porque a sinopse não me convenceu ou a capa me desconvenceu (sim as capas tem uma atração forte sob mim!). No evento da Companhia das Letras ganhei o livro, Linha M, da conhecida Patti Smith. Quando falaram a respeito dele no evento eu imaginei que tratava-se um livro contando histórias malucas dentro da cena musical, e eu nunca estive mais enganada!

Smith é uma criatura singular! Em seu livro ela narra em primeira pessoas memórias de sua vida do passado e do momento presente que está escrevendo o livro. Mas mais que isso ela narra aquilo que não pode ser nomeado e apenas pode ser sentido através de suas ações inusitadas! A narrativa começa com um sonho, ela encontra com um vaqueiro que a desafia e a partir disso ela se sente impelida a escrever. Ele volta em alguns trechos do livro como para regular seu consciente.

Patti é obcecada por café, ela toma todo tempo e em qualquer lugar do mundo que vá, tanto que seus escritos foram feitos em sua maioria no café que frequentava em New York, o Café 'Ino. Seu amor por café a leva a lugares estranhos e a situações diferentes, é como se ela só funcionasse quando tivesse uma xícara em suas mãos.

Outro traço marcante de sua personalidade é sua companheira de viagens, uma máquina polaroid. As fotos que ela tira durante suas inúmeras viagens podem ser encontradas ao longo do livro, e são muito ricas para ilustrar suas histórias. Apaixonada por livros elas o tem a mão constantemente, e claro isso cria uma ligação forte no leitor que como ela alimenta a mesma paixão.

Os seriados policias, que aqui são constantes na tv a cabo, são outra paixão da autora que os cita a todo tempo. Mesmo em locais mais exóticos ela os assiste como distração, e as vezes faz paralelos com sua vida.

Suas histórias são também viagens, ela passa por locais como Guiana Francesa, Islândia, Alemanha, Inglaterra, México e Japão. Um traço interessante em seus passeios é o costume de visitar túmulos de escritores e realizar de alguma forma uma vontade que o escritor não pode ter em vida. No Japão, por exemplo, ela vai junto com os amigos até os túmulos, os limpa e coloca flores para eles, é uma atitude um tanto diferente não?

Patti tem uma personalidade muito rica e interessante, mas marcada pela morte prematura do marido, Fred. Parece que não importa o que ela faça (como por exemplo a compra de seu bangalô na praia tão desejado) sempre existe a sombra da tristeza de sua ausência. Nos pequenos detalhes ela se lembra dele, de suas falas e de seus atos. Parecia um casal que compartilhava um cumplicidade, e podemos perceber nitidamente isso na concepção deles do relógio sem ponteiros, época em que viveram intensamente o que desejavam sem se importar com as horas do dia.

Esperava que ela fosse falar de música, mas ela não a cita, não sei se ela evoca lembranças, já que seu marido era guitarrista. E ela também pouco fala sobre de onde provém seu dinheiro, já que ela viaja muito e parece passar mais tempo passeando e tirando fotos do que ganhando dinheiro ( ela cita em um momento algum dinheiro de diretos autorais).

Dado curioso a cerca dela também é que ela tem um talento muito forte para perder e esquecer coisas, e não são coisas pequenas ou desimportantes, ela consegue esquecer uma câmera (sim sua polaroid!) e o livro que está lendo no momento. E o que para muitos seria falta de sorte para ela é uma lembrança que pode até virar uma possível história do destino que o objeto teve, como um casaco que ela ganhou.

Linha M é um livro de memórias de uma mulher simples que vive a vida sem seguir as linhas. Ela tem vontades e as segue. Ela vê riqueza nas pequenas coisas, e valoriza as pessoas. É sensível e encantadora. E é o tipo de pessoa que eu gostaria de passar algum tempo por perto porque parece ter aprendido alguma coisa sobre o significado da vida. Seu livro é delicioso, é uma viagem pelo mundo, mas também pelos meandros do inconsciente da escritora que as vezes evoca sua poesia para falar daquilo que não se nomeia. Embora a tristeza seja uma constante companheira, o livro fala sobre esperança e aquilo que a vida lhe deu de bom desde que saibamos tirar isso dela. Leiam, porque tenho certeza que será uma boa surpresa como foi para mim!

Avaliação






 







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2 comentários:

  1. Somos duas, as capas tem um poder enorme de persuasão para mim, compro várias livros pela capa rsrs.
    E não compraria esse livro também.
    Mas pela sua resenha, a história parece ser bastante interessante. Gostei :)
    Beijos,
    Caroline Garcia
    caarol.garcia@hotmail.com

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  2. Também não é um livro que me chamaria atenção. Nem de capa e sinopse e acho que pra ler teria que ganhar...
    Mas se ele surpreende é bom né. É gostoso quando pegamos um livro que nem queríamos ler e temos uma ótima leitura com ele, bons momentos e etc. Só que esse não chama muita atenção mesmo =/

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