Blackbird: A Fuga - Blackbird #01 - Anna Carey

Imagina se você acorda deitada em um trilho de metrô, sem poder se mexer imediatamente, e quase é atropelada por ele, mas não tem a mínima ideia de como foi parar ali e muito menos consegue encontrar uma mínima pista em sua mente sobre qual é sua identidade, afinal sua memória foi apagada. E isso não é tudo, há uma tatuagem de pássaro acompanhado do código FNV02198 em seu pulso, a qual desconhece o significado, e você possui uma mochila com poucos pertences e um bilhete com um número de telefone e um aviso para não chamar a polícia. O que faria caso se encontrasse nesta situação?
Nossa protagonista, Sunny (nome que inventou para si mesma, já que não tem ideia do seu próprio), passa por uma situação exatamente assim. Ela decide ligar para o número para, talvez, encontrar respostas para as inúmeras perguntas que estão rondando sua cabeça, mas, no meio do caminho, acaba caindo em uma armadilha, que a coloca em perigo, tornando-se uma fugitiva e sem ter a quem recorrer ou ideia de para aonde ir. Porém, o pior de tudo é a descoberta que faz em seguida: tem alguém querendo matá-la e ela nem mesmo sabe o motivo.
Em meio a uma corrida pela sobrevivência, Sunny vai precisar confiar em pessoas que não conhecia, abusar de seus instintos, correr contra o tempo, apurar seu faro investigativo, se arriscar para encontrar pistas e respostas e usar sua inteligência para escapar das mais terríveis situações, enquanto tenta recuperar a memória e busca entender tudo o que está acontecendo. Será que sua memória vai retornar ou será sempre aquele vazio em sua vida? Ela vai conseguir encontrar alguém que realmente quer ajudá-la e é digno de confiança? E, mais importante, será que vai conseguir escapar disso tudo com vida?
Eu sempre me interessei muito pelo assunto perda de memória e, toda vez que eu vejo alguma história relacionada com isso, fico com muita vontade de lê-la, independente de qual formato seja: livro, série, filme, etc. Então, quando descobri esta obra, fiquei intrigada e quando consegui ter meu exemplar em mãos, comecei a ler rapidamente.
O que logo chama a atenção quando abrimos a primeira página é que a narrativa é em segunda pessoa, então não vamos acompanhá-la com os habituais “Eu fiz tal coisa” ou “Ela fez aquilo”, mas, sim com “Você fez isso”. Eu sei, parece estranho e no começo realmente é, mas acho que isso ocorre mais por conta da falta de costume mesmo, já que, depois de um tempo, a gente nem percebe mais que tem algo diferente rolando. Eu já tinha tido experiências com obras escritas assim anos atrás, mas acho que cada vez que lemos desta forma soa diferente. E é intrigante porque você se sente mais conectada com a história ainda, afinal é como se fosse você vivenciando aquilo (através de um videogame, por exemplo). E o que torna tudo mais realista é que, como ela não tem memória sobre quem é, como era sua vida ou como foi parar ali, não há interferência na ideia do enredo, pois ela vai descobrindo junto com você.
A história é curta e dinâmica, a linguagem da autora é ágil e direta e os capítulos são pequenos, meu tipo preferido, tudo isso junto faz com que a experiência de leitura seja muito agradável e fluida, e quando percebemos já chegamos ao final e ficamos desejando por muito mais.
A obra é repleta de suspense e, assim como o leitor, a protagonista não sabe de absolutamente nada, pois não consegue se lembrar de sua vida antes daquele momento no trilho do metrô, ou de sua identidade, nem de como foi parar ali, ou como sabe fazer tudo aquilo que descobre ser capaz ao longo de sua nova jornada.
Sunny é uma personagem totalmente badass e eu a adorei ainda mais por isso. Ela é corajosa e inteligente, não tem medo de nada, possui umas reações incríveis, instintos de sobrevivência bem aflorados, e ainda ótimos reflexos e ideias. Gostaria de ter a metade das habilidades dela, mas sou apenas uma pessoa bem comum.
Só acho que em alguns momentos Sunny acreditava com muita facilidade em certas coisas e isso foi um grande incômodo, afinal, vivenciando uma situação tão terrível quanto aquela, ela deveria no mínimo desconfiar de absolutamente tudo e todos.
Conhecemos alguns outros personagens pelo caminho dela, mas só vou citar dois: Ben, um rapaz bonzinho e solitário que a ajuda muito em alguns momentos, e Izzy, uma garota meio rebelde que tem boas intenções e age a favor do feminismo. Gostei muito desta última e preciso desesperadamente do próximo volume para saber o que vai acontecer com ela (não posso explicar melhor porque seria spoiler).
Confesso que desconfiei de um personagem e fiquei com medo de estar errada, porque algumas coisas teriam sido forçadas caso isso ocorresse. Mas agora, depois de terminada a leitura, fico me perguntando se a pessoa realmente é digna de minhas suspeitas (e de uma revelação que acontece neste exemplar) ou vai haver um plot twist aí no meio e fazê-la se revelar quem a protagonista acreditou a princípio. Só preciso ler a sequência para saber.
Algumas descobertas foram feitas e são coisas totalmente absurdas, mas não num sentido de trama ruim, e, sim, do tipo: seres humanos são realmente tão cruéis e terríveis a este ponto de fazer coisas abomináveis assim. Estas revelações acabam nos deixando com o coração apertado, e ainda mais nervosos para saber como as coisas irão se resolver.
Apesar de toda a correria, ameaças e perigos que nossa protagonista enfrenta, ainda há espaço para o romance em sua vida e ele ganha algumas páginas da história. Mas, antes que alguém que não curte romance fique chateado porque este não deveria ser o foco do livro, as cenas são bem curtas e não atrapalharam a trama principal, então não há motivos para preocupação com relação a isso.
Este livro faz parte de uma duologia, e ambos os volumes já foram publicados pela V&R Editoras em 2015 mesmo. Como há uma continuação, ficamos sem muitas explicações, e não vejo a hora de poder pegar “Deadfall: A Caçada” em mãos para saber as respostas para minhas várias perguntas e descobrir o desfecho desta história fantástica.
Eu já conhecia a autora porque li dois livros de uma trilogia escrita por ela, ambos publicados no Brasil (o último volume ainda é inédito): “Eva” e “Uma Vez” (clique nos títulos para ler as resenhas), e tinha adorado, então estava bem empolgada para ler mais alguma de suas obras. E ela não escreveu muitos livros ainda (o que eu espero que faça mais logo), somente esta duologia, a trilogia que acabei de citar e mais uma duologia, só que esta última é do gênero infantojuvenil e também já teve seus dois exemplares publicados aqui no país, mas eu não li.
A edição nacional está simplesmente maravilhosa demais! Amo esta capa (lá fora também há outra opção, que por sinal é horrível, e fico mais do que imensamente feliz da escolha certeira da V&R ao ter optado por esta). A versão impressa tem verniz localizado no alvo rosa com o pássaro, as bordas das folhas estão na cor rosa (!!!), que combina com os detalhes da capa e da parte de trás da capa – a continuação segue o mesmo estilo, só que na cor azul. Todo início de capítulo tem um alvo ilustrado e as divisões dentro dos capítulos possuem um pássaro preto, também igual ao da capa.
“Blackbird: A Fuga” é um thriller jovem adulto eletrizante, que não fica um minuto parado, nos enche de perguntas e mexe com nossas expectativas, fazendo-nos criar teorias enquanto torcemos pela sobrevivência da protagonista, além da recuperação de sua memória para entendermos exatamente tudo o que aconteceu até então. Não vejo a hora de ter a sequência, “Deadfall: A Caçada”, em mãos, para poder devorá-lo o quanto antes.
Avaliação



Comente com o Facebook:

Nenhum comentário:

Postar um comentário