Imagina se
você acorda deitada em um trilho de metrô, sem poder se mexer imediatamente, e
quase é atropelada por ele, mas não tem a mínima ideia de como foi parar ali e
muito menos consegue encontrar uma mínima pista em sua mente sobre qual é sua
identidade, afinal sua memória foi apagada. E isso não é tudo, há uma tatuagem
de pássaro acompanhado do código FNV02198 em seu pulso, a qual desconhece o
significado, e você possui uma mochila com poucos pertences e um bilhete com um
número de telefone e um aviso para não chamar a polícia. O que faria caso se
encontrasse nesta situação?
Nossa
protagonista, Sunny (nome que inventou para si mesma, já que não tem ideia do
seu próprio), passa por uma situação exatamente assim. Ela decide ligar para o
número para, talvez, encontrar respostas para as inúmeras perguntas que estão
rondando sua cabeça, mas, no meio do caminho, acaba caindo em uma armadilha,
que a coloca em perigo, tornando-se uma fugitiva e sem ter a quem recorrer ou
ideia de para aonde ir. Porém, o pior de tudo é a descoberta que faz em
seguida: tem alguém querendo matá-la e ela nem mesmo sabe o motivo.
Em meio a
uma corrida pela sobrevivência, Sunny vai precisar confiar em pessoas que não
conhecia, abusar de seus instintos, correr contra o tempo, apurar seu faro
investigativo, se arriscar para encontrar pistas e respostas e usar sua
inteligência para escapar das mais terríveis situações, enquanto tenta
recuperar a memória e busca entender tudo o que está acontecendo. Será que sua
memória vai retornar ou será sempre aquele vazio em sua vida? Ela vai conseguir
encontrar alguém que realmente quer ajudá-la e é digno de confiança? E, mais
importante, será que vai conseguir escapar disso tudo com vida?
Eu sempre me
interessei muito pelo assunto perda de memória e, toda vez que eu vejo alguma
história relacionada com isso, fico com muita vontade de lê-la, independente de
qual formato seja: livro, série, filme, etc. Então, quando descobri esta obra,
fiquei intrigada e quando consegui ter meu exemplar em mãos, comecei a ler
rapidamente.
O que logo chama
a atenção quando abrimos a primeira página é que a narrativa é em segunda
pessoa, então não vamos acompanhá-la com os habituais “Eu fiz tal coisa” ou “Ela
fez aquilo”, mas, sim com “Você fez isso”. Eu sei, parece estranho e no começo
realmente é, mas acho que isso ocorre mais por conta da falta de costume mesmo,
já que, depois de um tempo, a gente nem percebe mais que tem algo diferente
rolando. Eu já tinha tido experiências com obras escritas assim anos atrás, mas
acho que cada vez que lemos desta forma soa diferente. E é intrigante porque
você se sente mais conectada com a história ainda, afinal é como se fosse você
vivenciando aquilo (através de um videogame, por exemplo). E o que torna tudo
mais realista é que, como ela não tem memória sobre quem é, como era sua vida
ou como foi parar ali, não há interferência na ideia do enredo, pois ela vai
descobrindo junto com você.
A história é
curta e dinâmica, a linguagem da autora é ágil e direta e os capítulos são
pequenos, meu tipo preferido, tudo isso junto faz com que a experiência de
leitura seja muito agradável e fluida, e quando percebemos já chegamos ao final
e ficamos desejando por muito mais.
A obra é
repleta de suspense e, assim como o leitor, a protagonista não sabe de
absolutamente nada, pois não consegue se lembrar de sua vida antes daquele
momento no trilho do metrô, ou de sua identidade, nem de como foi parar ali, ou
como sabe fazer tudo aquilo que descobre ser capaz ao longo de sua nova
jornada.
Sunny é uma
personagem totalmente badass e eu a
adorei ainda mais por isso. Ela é corajosa e inteligente, não tem medo de nada,
possui umas reações incríveis, instintos de sobrevivência bem aflorados, e
ainda ótimos reflexos e ideias. Gostaria de ter a metade das habilidades dela,
mas sou apenas uma pessoa bem comum.
Só acho que
em alguns momentos Sunny acreditava com muita facilidade em certas coisas e
isso foi um grande incômodo, afinal, vivenciando uma situação tão terrível
quanto aquela, ela deveria no mínimo desconfiar de absolutamente tudo e todos.
Conhecemos
alguns outros personagens pelo caminho dela, mas só vou citar dois: Ben, um
rapaz bonzinho e solitário que a ajuda muito em alguns momentos, e Izzy, uma
garota meio rebelde que tem boas intenções e age a favor do feminismo. Gostei
muito desta última e preciso desesperadamente do próximo volume para saber o
que vai acontecer com ela (não posso explicar melhor porque seria spoiler).
Confesso que
desconfiei de um personagem e fiquei com medo de estar errada, porque algumas
coisas teriam sido forçadas caso isso ocorresse. Mas agora, depois de terminada
a leitura, fico me perguntando se a pessoa realmente é digna de minhas
suspeitas (e de uma revelação que acontece neste exemplar) ou vai haver um plot
twist aí no meio e fazê-la se revelar quem a protagonista acreditou a princípio.
Só preciso ler a sequência para saber.
Algumas descobertas
foram feitas e são coisas totalmente absurdas, mas não num sentido de trama
ruim, e, sim, do tipo: seres humanos são realmente tão cruéis e terríveis a
este ponto de fazer coisas abomináveis assim. Estas revelações acabam nos
deixando com o coração apertado, e ainda mais nervosos para saber como as
coisas irão se resolver.
Apesar de
toda a correria, ameaças e perigos que nossa protagonista enfrenta, ainda há
espaço para o romance em sua vida e ele ganha algumas páginas da história. Mas,
antes que alguém que não curte romance fique chateado porque este não deveria
ser o foco do livro, as cenas são bem curtas e não atrapalharam a trama
principal, então não há motivos para preocupação com relação a isso.
Este livro
faz parte de uma duologia, e ambos os volumes já foram publicados pela V&R
Editoras em 2015 mesmo. Como há uma continuação, ficamos sem muitas
explicações, e não vejo a hora de poder pegar “Deadfall: A Caçada” em mãos para
saber as respostas para minhas várias perguntas e descobrir o desfecho desta
história fantástica.
Eu já
conhecia a autora porque li dois livros de uma trilogia escrita por ela, ambos
publicados no Brasil (o último volume ainda é inédito): “Eva” e “Uma Vez”
(clique nos títulos para ler as resenhas), e tinha adorado, então estava bem
empolgada para ler mais alguma de suas obras. E ela não escreveu muitos livros
ainda (o que eu espero que faça mais logo), somente esta duologia, a trilogia
que acabei de citar e mais uma duologia, só que esta última é do gênero
infantojuvenil e também já teve seus dois exemplares publicados aqui no país,
mas eu não li.
A edição
nacional está simplesmente maravilhosa demais! Amo esta capa (lá fora também há
outra opção, que por sinal é horrível, e fico mais do que imensamente feliz da
escolha certeira da V&R ao ter optado por esta). A versão impressa
tem verniz localizado no alvo rosa com o pássaro, as bordas das folhas estão na
cor rosa (!!!), que combina com os detalhes da capa e da parte de trás da capa
– a continuação segue o mesmo estilo, só que na cor azul. Todo início de
capítulo tem um alvo ilustrado e as divisões dentro dos capítulos possuem um
pássaro preto, também igual ao da capa.
“Blackbird:
A Fuga” é um thriller jovem adulto eletrizante, que não fica um minuto parado,
nos enche de perguntas e mexe com nossas expectativas, fazendo-nos criar
teorias enquanto torcemos pela sobrevivência da protagonista, além da
recuperação de sua memória para entendermos exatamente tudo o que aconteceu até
então. Não vejo a hora de ter a sequência, “Deadfall: A Caçada”, em mãos, para
poder devorá-lo o quanto antes.
Avaliação
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