Os Antiquários - Pablo De Santis

Sem querer querendo eu acabei descobrindo através das minhas leituras que dentro do gênero fantástico o que mais tem me agradado é o realismo fantástico, ou seja, livros que têm a fantasia de forma tão realista que acabamos olhando para os lados e procurando por aquelas criaturas e situações descritas. Os Antiquários, do argentino Pablo De Santis, publicado pela Alfaguarda é um exemplar deste gênero.

Santiago Lebrón é um jovem que saiu de sua cidade do interior para morar em Buenos Aires na década de 50, e em uma sucessão de oportunidades estranhas acaba por trabalhar em um jornal da cidade fazendo palavras cruzadas e posteriormente como informante do ministério do oculto.

Era mais uma missão, ir a uma encontro de especialistas em superstições presidida pela Professor Balacco prometia apresentar evidências da presença dos antiquários, e Lebrón deveria ir, assistir e relatar ao seu chefe o que ouviu, mas quando se deu conta sua vida nunca mais seria a mesma depois do que presenciou no hotel do evento.

De Santis tem uma narrativa deliciosa em primeira pessoa sob o olhar de Santiago, narrativa esta que é tão real que cria uma atmosfera nebulosa única entre as ruas de Buenos Aires. Ele consegue transmitir detalhes, carregar suas palavras de sentido sem que para isso sua história se demore ou se enrosque. 


Os vampiros são seres muito explorados em livros, e já li um bocado deles por ai, mas os antiquários são criaturas vampíricas criadas com muita autenticidade! O fato do autor explorar a imortalidade aliada ao trabalho com antiguidades é bastante inteligente, já que ele explica que estes por terem muitos anos de vida são seres que acabam por viver no passado, parados no tempo, e não precisamos nem ser antiquários para compreender tal verdade não é?

"As palavras são feitas para o erro, tudo o que dizemos com palavras sempre estará equivocado" (pg.22)

Santiago é um personagem bastante ingênuo, mesmo depois da grande virada de seu personagem ele continua com um grande flerte com essa simplicidade. Prático ele lida bem com a sucessão de eventos que o atravessam tentando tirar melhor proveito do que pode, pelo simples fato de querer sobreviver e ponto final.

Calisser que acaba por ser tutor de Santiago é um homem de poucas palavras, mas é o que não diz que acaba transmitindo as maiores lições. Carregado de história é um personagem que deveria ganhar um livro só dele! Balacco, o professor que acaba sendo o médico e o monstro na trama é tão obcecado com sua busca que não consegue ver a verdade nem que ela esteja grudada na sua frente.

Os demais antiquários que vão surgindo nas páginas tem peculiaridades bastante bizarras, desde ser um padre até  colecionar bonecas, e todos são muito reais, você não consegue enxergar o impossível neles, mesmo que muita coisa soe estranho. Mesmo os personagens humanos tem um toque de bizarro, com costumes e interesses muito diferentes do que corriqueiro.

Um destaque é que o autor explora muito os livros, já que Calisser e Santiago trabalham com livros em um sebo, e eles são bastante utilizados na narrativa. Livros que falam de livros já ganham estrelas não? Sim, mas aqui eles dão um toque especial a aura de mistério do livro que conta inclusive com um livro especial que acaba por ser uma obsessão de Santiago mais tarde juntamente com sua paixão por Luisa, filha do professor Balacco.

Os Antiquários é uma pérola, repleta de toda a densidade que a imortalidade causa sem deixar de colocar algumas das questões que esta coloca. A névoa, a melancolia, o êxtase e profundidade do vampiro vistos sob o ângulo não do predador, mas da vítima que luta para continuar entre as sombras. Leiam e apreciem o que pode ser tornar um clássico!




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