A designer
de interiores Elizabeth Egan leva uma vida pacata e previsível. Ela não gosta
de cores vibrantes, emoções fortes, bagunças, brincadeiras, ou qualquer coisa
imaginária, já que é prática, controladora, preza por coisas seguras e prefere
elementos palpáveis ou comprovados de alguma forma.
Com trinta e
quatro anos de idade, morando numa grande casa e com sua carreira indo muito
bem, Elizabeth tem lados que não gosta de sua vida: sua família e seu passado.
Quando criança, sua mãe abandonou o lar (o marido e as duas filhas), sua irmã
mais nova é uma alcóolatra que nem mesmo cuida do seu filho, uma criança
adorável que fica sob a responsabilidade de nossa protagonista, e seu pai é
turrão e muito fechado, não demonstrando sentimentos por ninguém. Talvez tenha
sido com ele que ela aprendeu a agir assim e também não consegue mostrar
qualquer tipo de afeto pelo pequeno Luke, que mesmo sem amor evidente de
ninguém ao seu redor, continua sendo um menino ótimo.
Mas sua vida
vai dar uma virada de cento e oitenta graus quando Ivan entra na vida de Luke,
seu sobrinho, por conta de sua profissão de amigo imaginário, e, por tabela,
acaba sendo visto por Elizabeth também. Só que ninguém mais além dos dois (e
mais uma pessoa, que não vou comentar para vocês descobrirem) e seus outros
amigos com profissões parecidas, parece tomar conhecimento de sua existência.
Aos poucos,
Ivan vai quebrando barreiras e mostrando que a vida pode ser diferente e, mesmo
assim, ótima. Elizabeth passa a de abrir mais, se divertir mais e até começa a
ter sentimentos nunca antes conhecidos. Mas será que ela está preparada para
aceitar o inimaginável? Será que ela vai acreditar na existência de Ivan, mesmo
que praticamente ninguém mais o veja?
Este foi o
segundo livro que li da autora, e, depois de me decepcionar com “Simplesmente
Acontece”, estava com minhas expectativas dividas. De um lado, estava um pouco
empolgada e torcendo para curtir uma das obras desta autora tão querida por
tanta gente, já que só ouço maravilhas sobre ela, inclusive de pessoas próximas
a mim com as quais eu concordo no gosto literário muitas vezes. Por outro lado,
havia um certo receio de que eu fosse me decepcionar novamente com um de seus
livros, e eu com certeza odeio esperar muito de algo e ele não alcançar minhas
expectativas. Então posso dizer que estava com boas esperanças para este livro,
ao mesmo tempo em que refreava minha empolgação. Mas, para meu alívio e
alegria, adorei esta leitura!
Sabe aquelas
obras que são fofas e inspiradoras, daquele tipo que nos faz suspirar e ficar
com um sorriso no rosto? “Se você me visse agora” é exatamente assim.
Emocionante, triste e feliz ao mesmo tempo, a autora soube desenvolver uma
história encantadora, através de uma narrativa gostosa, sensível, bastante
reflexiva e com pitadas de comédia, que nos mostra o verdadeiro valor do amor e
da amizade e no final ainda nos deixa com uma mensagem muito bonita.
"– A vida é feita de
encontros e despedidas. Pessoas entram na nossa vida todos os dias, a gente dá
bom dia, dá boa noite, algumas permanecem por alguns minutos, algumas
permanecem por alguns meses, algumas por um ano e outras por toda a vida.”
Considero
este exemplar bastante criativo, afinal Cecelia inovou com o tema amigos
imaginários em um romance para adultos, o que eu nunca antes tive o prazer de
conhecer, e mesmo assim não soou chato ou forçado. Além disso, ela escreve sobre o imaginário
tão bem e de forma tão crível, que parece ser mesmo real.
A narrativa
deste volume é intercalada, ora em primeira pessoa por Ivan, ora em terceira
acompanhando Elizabeth. Não há qualquer indicação de quem irá contar seu ponto
de vista naquele instante, então era uma pequena surpresa a cada início de
capítulo. Através das partes narradas por ele, também pudemos conhecer outros
personagens importantes em sua jornada, que são essenciais neste seu mundo de
amigos invisíveis. Enquanto nas dela, soubemos muito mais sobre seu passado e
sua forma de pensar, e a vemos evoluindo conforme Ivan vai começando a fazer
parte de sua vida, derrubando barreiras e construindo confiança. E, na de
ambos, vemos seus relacionamentos, um com o outro e com as pessoas do mundo
normal.
Uma das
características que percebi de Ahern, tanto por conta dos dois livros dela que
li, quanto por ter lido as outras resenhas que as meninas escreveram aqui no
blog, é que ela não gosta de focar muito no romance. Pode até haver uma pitada
romântica em suas obras, mas ela é tão sutil que, quem busca livros fofos e não
liga para a parte amorosa, vai gostar bastante. E, mesmo quem procura por este
delicioso sentimento, vai encontrar algo, mesmo uma pequena faísca. Só que, em
vez do romance, ela prefere desenvolver questões reflexivas e de amadurecimento
pessoal em seus protagonistas e, isto, pode ter certeza de que você irá
encontrar em qualquer um de seus exemplares.
A escrita da
autora muitas vezes acaba sendo bastante cansativa, principalmente para que não
curte histórias muito detalhadas ou busca algo mais ágil. Isto ocorre porque
ela é bastante minuciosa em absolutamente todas as partes, ou seja, a gente
conhece cada detalhe a fundo, desde o passado dos personagens até o presente,
passando por ações, cenários, aparências, sentimentos, desejos, aspirações,
tudo. Não tem como você terminar a leitura e sentir que não conheceu alguma
coisa ou alguém, porque ela não deixa margens para dúvidas ou deixa de
construir bases para tudo.
E ela gosta
de recorrer a uma pitada de fantasia em suas histórias. De vez em quando, como
no caso de “Se você me visse agora”, ela encontra alguma coisa relativamente
real, pelo menos na imaginação de diversas crianças pelo mundo, e transforma em
algo como se fosse mesmo verdadeiro, só para nos fazer acreditar no impossível
ou, pelo menos, no improvável. A autora também utilizou alguns outros elementos
de lendas para acrescentar “veracidade” à história de Ivan, como pedidos para jinny
joes, e para estrelas cadentes.
É claro que
torci para o casal ficar junto, isto é inevitável para mim, mas, em dado
momento, eu percebi que isso provavelmente não iria acontecer (não vou contar
se estava enganada ou certa, leiam para saber!). Então ficava curiosa para
saber se ia acertar ou errar, e na hora do acontecimento, meu coração se encheu
de coisas boas e lágrimas nos olhos também. Há um certo tipo de sacrifício de
um dos personagens em prol da felicidade do outro, e isso foi tão bonito,
altruísta e corajoso, que fiquei realmente encantada e emocionada com todas
aquelas cenas.
Posso
afirmar que meu personagem preferido foi, sem sombra de dúvidas, Ivan. Gostei
dele desde a primeira página e meu carinho só foi aumentando conforme ia
avançando na leitura. No final, queria poder conhecê-lo também e abraçá-lo
apertado. Sua personalidade é encantadora, divertida, alto astral, ele é um
amor de pessoa e se preocupa com o próximo. E é muito fofo quando percebe que
está sentindo coisas que nunca antes havia tido a oportunidade de experimentar,
e o quanto isto acaba fazendo com que ele cresça um pouquinho mais também.
Elizabeth
começou o livro sendo uma mulher difícil, fria, perfeccionista além da conta,
incapaz de lidar com emoções, mas que no fundo tinha um coração de ouro. Foi
incrível poder acompanhar seu florescimento, sua força de vontade, a forma como
ela era toda cética e depois passou a acreditar na magia da situação, e como
deixou-se ser mais leve, passou a se enxergar e a tudo ao seu redor de outra
forma e, principalmente, ficou mais feliz depois de o amor entrar em sua vida.
A gente
compreende a protagonista e o motivo de ela ser e agir assim, e vamos
percebendo as mudanças em sua forma de pensar e se comportar de maneira
bastante sutil, o que também ocorre de forma gradual. Não é de uma hora para a
outra que ela muda, mas vamos percebendo cada etapa de sua evolução e
sentimo-nos felizes de poder vê-la experimentando sensações e emoções, e se
abrindo para a vida.
Outro
personagem muito adorável é seu sobrinho, Luke. Sabe aqueles meninos pequenos
que tem um encanto dentro deles que nada mais pode tirar? Quando tudo à sua
volta está ruim ou poderia abalar suas estruturas, ele continua firme, forte,
compreensível, guarda aquela inocência infantil, e ainda ajuda a tia, fazendo-a
enxergar o que ela não conseguia.
“Quando você
deixa um copo ou um prato cair no chão, provoca um ruído alto de coisa
quebrando. Quando uma janela se estilhaça, um pé de mesa se quebra ou um quadro
cai da parede, tudo isso faz barulho. Mas quando se trata do coração, quando
ele se parte, é completamente silencioso. Seria de se pensar que, sendo ele tão
importante, provocaria o ruído mais alto do mundo, ou mesmo alguma espécie de
som cerimonial, com o soar de um címbalo ou o badalar de um sino. Mas o coração
é silencioso e você quase deseja que haja algum som que o distraia da dor.”
Um livro que
não trata do mesmo tema que este, mas que não pude deixar de me lembrar
enquanto estava lendo por ter algumas semelhanças (a protagonista da versão
cinematográfica até tem o mesmo nome! Hahaha), é “E Se Fosse Verdade...”, do
Marc Levy. Naquele caso, o personagem masculino vê e fala com esta moça, por
quem acaba se apaixonando, mas ele é o único que pode enxergá-la, então passa
por algumas situações inusitadas e algumas pessoas acreditam que “ele tem
alguns parafusos a menos”. Aqui, o motivo para Elizabeth ser uma das únicas a
enxergar Ivan é outro, mas eles também começam a se envolver, quase
romanticamente, enquanto outros adultos não o veem.
Adoro a capa
nacional e até acho que é uma das edições mais bonitas desta história (em
comparação com outras pelo mundo, e você pode ver diversas AQUI). Inclusive
porque o Ivan é exatamente aquele ali fotografado, e depois de ter lido, eu
olho para a capa e imagino-o fazendo exatamente aquela cena, fofa e divertida.
A diagramação
é simples, com capítulos começando na mesma folha que o anterior acaba, a fonte
e os espaçamentos não são muito grandes, o que pode incomodar alguns leitores,
mas foi tranquilo para mim. As páginas são brancas.
Terminei a
leitura com os olhos marejados, mas com um sorriso no rosto bem neste mesmo
instante. Desejo que todos possam sentir o mesmo que senti naquele momento,
então não poderia dizer palavras melhores do que: Recomendo muito “Se você me
visse agora”.
“Ela era melhor do que pizza, melhor do que
azeitonas, melhor do que sextas-feiras, melhor do que ficar girando, [...] – e
eu não deveria dizer isso – de todos os meus amigos, Elizabeth Egan foi, de longe, a minha preferida.”
Avaliação
Show.
ResponderExcluireu li poucos livros dessa autora,mas me apaixono por ela a cada resenha maravilhosa e emocionante que leio....
ResponderExcluirQuero muito ler esse livro!!