Não acredito em coincidências,
acredito em sincronicidade: atraímos aquilo que vibramos, repelimos aquilo que
é oposto ao que vibramos. Depois de ler O 12º Planeta, e mergulhar nas
hipóteses de criação de vida na Terra, esbarrar com Os Demônios de Deus, do
brasileiro Alexander Mackenzie, pelo selo Madras Teen, alimentou muito das
teorias que eu estou construindo sobre o que somos e para onde vamos!
Rodrigo Mazal é um famoso psicólogo
clínico que tem a vida que deseja na pequena cidade Victoria, no Canadá. Feliz
por estar com a mulher que ama e apaixonado pela filha, ele não têm grandes
ambições em sua carreira. Paciente após paciente nada soa fora do esperado até que
um senhor de cabelos brancos o procura, nada estranho se o paciente em questão
não fosse ninguém menos do que Deus!
Reclamando de solidão Deus desafia
Rodrigo a não só colocar sua experiência em questão como tudo aquilo que
aprendeu como verdade ao longo de sua vida. E pior do que fazer a terapia
'mestre' é que quando menos espera entra no olho do furacão de uma batalha
milenar envolvendo sua família e o destino da Terra. Será que o Sr. Mazal será
capaz de enfrentar as forças de Deus e do demônio e sair sem grandes feridas?
Mackenzie narra sua trama em terceira
pessoa em boa parte do tempo sob o ponto de vista de Rodrigo. Seu ritmo é
contínuo e bem trabalhado, entretanto o tempo não aparece de forma linear, o
passado e o presente se misturam de forma inteligente para nos apresentar a história
sob diversos ângulos. Essa falta de linearidade vai de encontro a uma discussão
de Deus com Rodrigo sobre a ausência de tempo, que apenas existe para facilitar
a vida do ser humano, mas que não existe do ponto de vista da criação.
O tema central embora possa soar
clichê não tem nada de repetido, primeiro é genial a ideia de colocar Deus no
divã, embora ele não tenha de fato sido analisado suas falas são excelentes e
trazem bons questionamentos sobre a bíblia. Não sei ao certo quanto o autor
usou de ficção quanto foram teorias reais trazidas para trama, mas tudo soou
verdadeiro e honesto. Segundo a forma como o demônio surge também é de grande
perspicácia. E terceiro embora seja uma história que possa soar polêmica ele a
amarra de forma bem realista quando trás para o palco a esposa e a filha do
psicólogo.
Claro que eu sendo psicóloga me
diverti com as falas e teorias evocadas pelo autor. E mais ainda quando ele
trouxe a luz os nefilins, criaturas que tem aparecido com frequência nos meus
estudos espirituais. Mas o que é o grande destaque do livro é a maneira que ele
consegue amarrar tantas áreas de conhecimento sem soar perdido. Filosofia,
Psicologia, Psicanálise e outros são citados e me trouxeram boas lembranças da
faculdade.
Quanto aos personagens Rodrigo é um
psicólogo talentoso que poderia ter o mundo em suas mãos, mas que quer e se
contenta com bem menos do que qualquer um gostaria. Ele quer poder viver sua
vida pacificamente. Tem um ego grande que é alimentado pelas suas pacientes que
viajam de longe para as consultas. Acredita piamente que nenhum ser humano
oferece desafio, tudo é passível de leitura, assim Deus em sua vida o faz rever
sua postura na vida.
Como esperado embora ele seja ótimo
nos atendimentos perde de vista sua relação com a esposa, que procura se
realizar longe dele. Petra, sua esposa é uma mulher decepcionada com sua vida,
mas ao invés de procurar por sua felicidade passou muito tempo guardando
segredos e descontente com o casamento. É uma esposa fria e uma mãe distante. E
honestamente nutri antipatia por ela desde o início.
Jane, a filha, é uma jovem sonhadora,
mas que tem a mesma capacidade analítica do pai. Diante dos problemas e
decepções arregaça as mangas e tem no pai seu porto seguro e referência do que
é certo. Embora seja adolescente não tem o discurso da menina carente, sabe o
que quer, mas ainda tem a inocência de quem ainda não descobriu a vida.
O Deus que temos como personagem é
irônico e ardiloso, fala na cara de Rodrigo as verdades mesmo que este não seja
capaz de compreendê-las. Conduz o terapeuta a todo tempo a modo de manipular
sua visão. Já o demônio aparece como um ser de duas faces que culpa Deus por
crimes que são atribuídos a ele. Não soa cruel ou mal como de costume, mas sem
dúvidas assim como Deus tem suas intenções bem delimitadas ao encontrar
Rodrigo, que nada mais é do que um peão neste jogo.
O livro seria excelente se não
houvesse uma pequena corrida em suas últimas páginas, o desfecho é de dar nos
nervos, e não é esse o problema, mas a forma acelerada como ele se dá. Apenas
algumas páginas poderiam resolver isso, e não deixar a sensação de que perdeu
alguma coisa na história. A ação de Jane no fim foi muito rápida e nada
explicada, e aceitação de Rodrigo muito prática. Diante do ocorrido era
esperado um pouco mais de sentimento de ambos os lados. Mas esse pequeno
problema não compromete em nada o livro, é apenas um desejo meu de obter mais
detalhes do desfecho, visto que todo o livro foi muito bem explorado.
Os Demônios de Deus, poderiam chamar
os demônios da humanidade, já que coloca em cheque as verdade exploradas pelas
religiões, e até o modo como nos relacionamos com o sagrado. Que o bem e o mal
não são polos isolados e bem delimitados isso é claro, mas este livro pode ser
um bom exemplo disto. De maneira inteligente e precisa, Alexander nos
presenteia com um convite a reflexão, o que acha de falar mais sobre isso?!
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