Eu gosto
bastante de quadrinhos e Mafalda é uma personagem que me encantou desde que a
conheci alguns anos atrás. Nunca antes havia lido tantas tirinhas dela de uma
vez, mas curti bastante a experiência com este volume integral publicado pela
WMF Martins Fontes, que une todas as tirinhas escritas e ilustradas por Quino
durante todos os dez anos em que elas foram publicadas.
Este álbum é
dividido em treze temas e acredito que os quadrinhos dentro de cada um são
apresentados na ordem cronológica do tema, ou seja, as primeiras tiras do
segundo capítulo não ocorreram necessariamente depois da última do primeiro
capítulo, e assim sucessivamente. E mesmo que alguma tirinha apresente mais de
um assunto, o mais importante ou que ganhe maior destaque dentre eles é que vai
ser o tema do capítulo onde vamos encontrá-la.
E são eles,
na ordem em que aparecem: A família, A rua, A escola, Assim vai o Mundo,
Mafalda e a sopa, Férias, TV, Guile, Susanita, Felipe, Manolito, Miguelito e
Liberdade. O interessante de ter sido separado desta maneira é que, quando há
tiras sequenciais, elas ficam próximas umas das outras, trazendo bastante
sentido já que lemos na ordem diretamente, mesmo que não tenham sido publicadas
assim cronologicamente falando (uma história e sua continuação terem sido
publicadas em datas sequenciais). E também, caso você queira procurar alguma
específica, é muito mais fácil de encontrar assim.
Adorei poder
ler este exemplar e me peguei rindo alto várias vezes! Mafalda, seus amigos e
familiares são incríveis, bastante preocupados com o mundo e o bem estar social,
e sempre apresentando temas pertinentes e reflexivos de uma forma leve e
gostosa de ler e ainda divertidos no processo.
A leitura é
muito fluida, principalmente levando em consideração que são pequenas
histórias, então a gente acaba lendo muito rápido e, quando percebemos, já
chegamos ao final com aquela sensação de que queríamos mais.
Além das
tirinhas sobre questões mundiais e sociais, me identifiquei muito com seu
protesto contra spoilers, que aparece em uma das primeiras historinhas do livro
e provavelmente da existência da personagem. É bastante engraçada e me senti
como a protagonista naquele momento.
Acredito que
o sucesso de Mafalda e sua turma se deva a esta combinação da inocência dos
personagens principais com as percepções e críticas pertinentes que eles fazem
sobre o mundo e a sociedade. Isso se deve ao fato de que todos são crianças e
ainda estão aprendendo mais sobre o mundo, como ele realmente funciona, e as
questões sociais, e ainda apresentam pontos importantíssimos e de forma
inteligente, já que realmente ficam indignados com o jeito como o ser humano
age de maneira geral e as consequências destes atos para o planeta ou para o
próximo.
Antes do
começo dos quadrinhos em si, há uma entrevista de algumas páginas de Rodolfo
Bracel com Quino, realizada em abril de 1987, vinte anos após sua primeira
entrevista com o quadrinista, que havia sido feita em 1967, quatro anos depois
da primeira aparição pública de Mafalda. Com as respostas de Quino depois de
ter vivido em função da personagem por dez anos inteiros, e passado quatorze
desde sua última publicação, pudemos conhecer como é sua relação com a
protagonista e alguns dos outros personagens, e também entender o que mudou em
sua visão de mundo. Achei realmente muito interessante podermos ter essa
possibilidade de conhecer uma opinião tão franca de um criador sobre sua obra
tanto tempo depois e perceber como as coisas realmente mudaram ao longo destes
anos.
“ – Acho que vamos parar no espaço.
- Porque explodiremos em estilhaços ou porque voaremos em foguetes?
- Porque
voaremos em foguetes. Eu era muito pessimista. Agora acredito que a inteligência
humana saberá sobrepor-se a todos os perigos.”
A parte
gráfica está bem bonita, com uma ilustração da Mafalda fofa e colorida na capa,
mas o miolo é inteiramente em preto e branco, acho que teria ficado mais bacana
se fosse colorido também. A fonte do texto está bem confortável para a leitura,
as folhas são bem grossas, amarelas, e de um material de alta qualidade, a
impressão está muito boa, no início de cada capítulo há o título e uma
ilustração do tema central bem grande, ocupando a página inteira, e cada folha
dentro do capítulo apresenta quatro tiras. E na parte da entrevista, no começo
do livro, há algumas fotos do autor, também em preto e branco.
Este
exemplar de 192 páginas é de um tamanho maior que o padrão de livros nacionais,
e tem 27,50 cm x 20,00 cm, mas, infelizmente não tem orelhas, o que é ruim
porque acaba amassando as pontinhas da capa com facilidade, que é mole e eu
teria curtindo ainda mais se fosse capa dura.
Quino é
realmente genial e consegue trazer toda sua engenhosidade para o papel, com
personagens bem construídos, de personalidades definidas e socialmente
responsáveis, que transmitem reflexões, questionamentos e concordâncias nos
leitores com facilidade, principalmente por tratar de questões importantes com
muito humor, ironia, leveza, seriedade e ainda toda a inocência que as crianças
têm. Fabuloso e mais do que recomendado para pessoas de todas as idades!
Avaliação
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