Expurgo:
Expurgo (português brasileiro) ou purga (português europeu) é o processo de
expurgar, expelir, expulsar, exilar ou eliminar algo, no sentido de desfazer-se
de um problema e colocar para fora um objeto com conotação negativa. Em política, a palavra descreve recursos utilizados por entidades
(principalmente partidos políticos, sindicatos e movimentos) para remover de seus quadros os militantes que firam as
regras ou os princípios do grupo, que tenham ferido normas internas ou que
contrariem a orientação coletiva. Às vezes, mas não por via de regra, os
expurgos podem resultar de perseguições e injustiças cometidas por líderes
políticos contra seus adversários ou dissidentes. Muitos militantes e teóricos contestam a legitimidade do
expurgo como forma de garantir a coesão interna do partido, principalmente
aqueles prejudicados por este processo. Para estes críticos, o expurgo é uma
tática violenta para reprimir a oposição interna. Para os defensores deste
recurso, no entanto, o expurgo é necessário para punir traidores e renovar os
quadros do partido. Embora rara, a restauração (às vezes póstuma) da
legitimidade de pessoas expurgadas pode ocorrer e é um processo conhecido como reabilitação.
Eu não me lembro se em alguma
resenha ou lugar do blog eu já expus minha paixão pela Finlândia, mas ela foi a
única responsável para que eu chegasse ao livro Expurgo, da autora Sofi Oksanen
, publicado pela editora Record. Afinal Sofi é finlandesa e muito reconhecida
por seu trabalho. E a louca aqui queria desesperadamente alguma narrativa de
autor finlandês (e como é difícil!) e que falasse do país (o que não foi o caso rs!).
Em Expurgo acompanhamos a
história de duas mulheres, primeiro conhecemos Aliide, moradora da pequena
região rural da Estônia, Läänemma, que vive perturbada pelas lembranças de seu
passado, erros e acertos de uma época política conturbada. E depois Zara uma jovem russa que aparece de maneira
inesperada e perturbada no jardim de Aliide.
Zara não consegue falar sobre o
que a levou a fugir e aparecer toda machucada no jardim, Aliide por sua parte
vê na garota marcas que lembram de seu passado. Mas será que Zara conseguirá
falar do que está fugindo? Afinal do que ela se esconde? E Aliide conseguirá
ajudar a garota mesmo não desejando?
Oksanen tem uma narrativa bem
peculiar, direta e com o dedo na ferida ela consegue ter momentos de leveza
alternados com cenas de violência e crueldade. Flui de maneira rápida sem que
para isso lhe falte os detalhes. Por vezes me sentia no meio da Estônia, me
escondendo na floresta, e com raiva de Hitler ou Stalin. Ela conseguiu passar
de maneira muito realista os momentos que as mulheres sofreram na história da
Estônia, ao mesmo tempo que trabalha o comércio sexual que existe nos dias de
hoje.
É muito revigorante sair da
mesmice literária que os livros que chegam ao Brasil dos impõe, sempre nos
Estados Unidos, com o mesmo círculo. Fugir para um lugar distante, nada
conhecido pelos brasileiros, e com detalhes históricos que pouco são comentados
em aulas de história me fez perceber o quanto a globalização é uma palavra
vaga. Temos a falsa ideia de acesso a informação, mas se não sabemos que ela
existe não há como ir atrás dela. E não sabia que a Estônia havia sofrido tanto
na mão de russos e alemães, e menos ainda que só teve sua independência em 1992.
Por essas e outras espero poder ler mais livros europeus, e que as editoras nos
permitam isso.
Falando um pouquinho das
protagonistas, Aliide é uma senhora com uma forte dose de problemas
psicológicos, que são por sinal muito bem apresentados e trabalhados. Ela desde
muito cedo rivaliza com sua irmã mais velha, e não consegue compreender as
habilidades da irmã e menos ainda aceita o fato de ela ter conseguido o homem
que Aliide desejava. Passa a todo custo querer Hans para si. Para isso tem
atitudes digamos nada fraternais passando por cima da irmã sem culpa. Sua
inveja a consome, mesmo quando acreditamos que já tinha se esquecido de Hans,
ela surge explicando suas atitudes que visam apenas uma coisa: Tê-lo!
Zara é uma jovem muito inocente e
sonhadora, e esse mal a fez cair nas mãos erradas. Iludida por emprego é mais
uma garota que não teve o que lhe foi prometido. Age todo tempo como um animal
que apanhou por muito tempo, se retrai, se fecha e desconfia de tudo que a
circunda. Quando vê a chance de fugir consegue reunir forças para fazê-lo, mas
não tem em mente qual será seu próximo passo, age ainda de maneira infantil.
É muito interessante o espelho
que uma personagem faz para a outra. Pequenas atitudes de cada uma para com a
outra faz com que a narrativa volte no tempo na vida de ambas, nos contando
sobre a vida de cada uma delas. A narrativa é feita em terceira pessoa sob o
ponto de vista de ambas personagens em um tom de suspense já que não sabemos o
que esperar do desfecho de Zara. O livro se divide em cinco parte, onde as
quatro primeiras partes recebem em seu inicio frases de Paul-Eerik Rummo, poeta
e político estoniano.
Um personagem secundário, mas que
é o fio condutor sutil na trama é a mosca. Em diversas cenas e momentos ela surge
como se nos jogando na cara como somos nada no mundo. Um nada em que uma mosca pousa e
ninguém se importa ou nota.
Expurgo fala sobre um momento na
história que nunca vivemos, e pouco sabemos. Trabalha com a violência que a
mulher sofre em diversos momentos da história, ao mesmo tempo em que tem uma
trama psicológica bem amarrada. É um livro profundo, complexo, e que vale cada
aflição, tristeza e esperança! Sai do quadrado, venha para o frio e se aventure
por terras desconhecidas.
CURIOSIDADE: Sofi Oksanen é uma das mais importantes revelações da
literatura mundial. Um fenômeno de vendas nos países escandinavos, Expurgo, sua
mais premiada obra, foi o primeiro romance a ganhar os dois prêmios mais
prestigiados da Finlândia — o Finlandia Award (2008) e o Runeberg Prize (2009).
Em 2010 ganhou o Nordic Council Literature Prize e o Le Prix Du Roman FNAC,
prêmio francês que pela primeira vez contemplou um autor estrangeiro.
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