Talvez um Dia - Maybe #01 - Colleen Hoover

Sidney adorava ouvir seu vizinho tocar em sua varanda. A forma como ele segurava o violão e fechava os olhos a levavam para um estado de espírito muito melhor, tanto que ela começou a se viciar nesta situação, indo todos os dias no mesmo horário para o local para escutá-lo tocar, desejando poder assisti-lo também num show.
Ela nunca imaginou, mas Ridge também a observava e tocava para ela muitas vezes. Um dia, ele simplesmente a pede, por recados escritos e SMS, para lhe enviar as letras que ela estava compondo enquanto ele tocava, já que o mesmo estava enfrentando um terrível bloqueio criativo. Primeiramente ela reluta, até perceber que suas letras encaixam perfeitamente naquelas melodias e os dois passam a trabalhar juntos.
Não sem antes ela enfrentar uma situação bem difícil: descobriu que seu namorado de longa data estava lhe traindo justamente com sua melhor amiga! Ou seja, uma traição dupla. Sem ter para onde ir, Sidney acaba se mudando para o quarto vago no apartamento de Ridge. E é lá que as coisas realmente vão mudar de uma forma totalmente complicada. E sem volta.
Sidney e Ridge começam a perceber que estão mais ligados do que deveriam e os sentimentos começam a transbordar pela superfície. Porém o relacionamento entre eles não pode acontecer porque há uma terceira pessoa na outra ponta do triângulo, e ela sabe o que é ser traída e não quer, de jeito nenhum, fazer o mesmo com outro alguém. Mas será que os dois vão conseguir resistir por muito tempo? Será que vão poder ficar juntos como querem? Talvez um dia.
Eu sou uma pessoa muito romântica, daquelas que adoram casais, cenas de amor e histórias fofas. Também posso afirmar com toda a certeza de que tenho muitos sentimentos variados dentro de mim, tantos que às vezes sei que não deveria senti-los. Mas algo que eu nunca vou poder mudar é que, apesar destas duas características bem afloradas, meu lado racional também está muito presente e eu não consigo evitar pensar muito. E este meu terceiro lado funciona extremamente em determinadas ocasiões, e uma delas é quando uma situação envolve uma terceira pessoa que não merece aquilo, fazendo com que a razão se sobreponha aos meus outros dois lados.
E é por isso que eu não consigo, de jeito nenhum, amar este livro. Sei que a escrita da autora é sensacional. Eu percebi isso e senti isso, no modo como fiquei ávida por saber o que ia acontecer, por ter meus próprios sentimentos com relação aos personagens e aquela situação que estavam vivenciando, por como meus olhos varreram as linhas e meus dedos viraram rapidamente as páginas. Mas, ao mesmo tempo, eu fiquei com muita raiva. Não consegui apreciar o romance, o carinho, o amor e tudo aquilo que passaram da maneira que eu gostaria, ou da forma como a maioria dos outros leitores consegue, simplesmente porque eu não pude esquecer a outra parte, no que ela estava ganhando sem merecer por conta da covardia de outra pessoa. Porque mesmo que Sidney e Ridge não fizessem tudo o que queriam, o que eles sentiam e como passavam estes sentimentos um para o outro, como passavam tempos juntos, me decepcionou um pouco mais a cada novo momento. Eu queria amá-los, mas simplesmente não pude. Não funciono desta forma. E este sentimento incômodo dentro do meu peito continuou em cada linha que li, até que a resolução foi tomada, mas não passou completamente nem assim.

Em uma passagem do livro Sidney inclusive fala sobre sentimentos, que uma pessoa não pode controlá-los, e eu concordo completamente com isso. Mas a forma como lidamos com eles só depende de nós mesmos. E nossa maneira de agir, também. Uma pena que quase ninguém realmente consiga se afastar da situação de forma racional e acabe fazendo exatamente o pior: alguém sofrer mais do que deveria. Muitas vezes todos os envolvidos sofrem, mesmo que tudo aquilo poderia ter sido menos doloroso com um esforço maior. Ela acha que Ridge controlou suas ações. Eu não concordo.
Além do mais, não posso dizer que eu tenha gostado do Ridge. Sei que muitas pessoas vão discordar totalmente de mim, mas no meu ponto de vista ele foi babaca em inúmeras situações. Em uma das primeiras, logo no comecinho do livro, ele tem uma fala que me irritou profundamente: “Eu: Ele escreveu: “Está trepando com ela?” [...] Eu: Escrevi: “Por que você acha que estamos aqui para buscar a bolsa dela? Paguei com uma nota de cem e agora ela me deve o troco”.
Precisava disso? Poderia ter o mesmo efeito, sem ofender a garota respondendo algo como: “Por que você acha que estamos aqui para buscar a bolsa dela? Ela me procurou porque você não dava conta do recado, agora precisa pagar pelos meus serviços”. Mas em outras cenas ele também falou ou agiu de uma maneira que me dava vontade de dar um soco na cara dele.
Outro ponto que me incomodou foi o fato de Sidney defender tanto as atitudes dele. Ela encontrava justificativas ao invés de simplesmente dizer: ele está errado, não importa que seja uma pessoa boa em outros aspectos. Ninguém é tão perfeito e não precisa ser, ela não precisa encontrar fundamentos em cada atitude negativa que Ridge tenha. Ele pode ter agido de má fé e ponto, não tem que ver os lados positivos, porque, se for assim, as outras pessoas, que ela também julga, também teriam justificativas e ela precisaria aceitá-las. 
Não vou dizer que concordo com cada uma de suas atitudes, mas eu gostei da personagem. Claro que eu acho que ela poderia ter saído de lá muito antes, mas pelo menos não era quem tinha algum relacionamento, e ainda acreditava que viria a será escolhida por Ridge porque ele queria, não porque outra pessoa tomou esta decisão.
A parte musical da trama foi completamente sensacional e fiquei encantada pelo trabalho do músico Griffin Peterson e sua parceria com Hoover. As letras das músicas são lindas (teria gostado ainda mais com outros significados, como vocês entendem por conta dos meus argumentos anteriores) e apaixonantes, e sua voz em contato com a melodia é sensacional, daquele tipo que nos faz viajar enquanto apreciamos o que estamos ouvindo. E achei incrível esse projeto sair das páginas do livro, principalmente porque eu não sou uma pessoa musical, então sempre que eu leio letras de músicas nas obras, elas saem com o mesmo som na minha cabeça, o que não é o ideal, já que perco todo aquele sentimento que a música passa. Mas, neste caso, eu pude fazer tudo isso e foi realmente muito gostoso.
Uma das melhores partes desta obra é, definitivamente, a forma como a autora trabalhou com a questão da falta de audição de um dos personagens, já que foi a parte que mais gostei nele, pois o deixou mais sensível e adorável. Curti que ela mostrou como algumas pessoas agem perto de outras que não escutam, e nos apresentou, de forma sutil, uma maneira mais correta de agir. Espero, inclusive, que muitos leitores abram seus olhos para isso, porque a forma como alguns indivíduos tratam os outros a respeito desta ou de outras questões semelhantes, é muito decepcionante.
O final, como eu já esperava, foi fofo. Mas, como comentei um pouco acima, não consegui apreciar da maneira que gostaria porque não consegui esquecer tudo o que aconteceu até aquele momento chegar. E continuo achando que a resolução poderia ter sido ainda melhor, porque queria que o próprio Ridge tomasse a decisão sozinho, o que não aconteceu. Pelo contrário, outra pessoa decidiu por ele e ele só aproveitou depois. Entendo suas explicações, mas ainda não me convenceram, porque o que ele fez podia ter causado muito mais mal à menina do que se ele simplesmente tivesse dito a verdade a ela.
Só mesmo uma escritora sensacional para fazer com que eu leia até o final um livro em que a trama principal não me agradou, e ainda por cima muito rápido. Se fosse outro tipo de escrita eu provavelmente teria abandonado a obra e minha nota final teria sido muito menor. Mas Colleen tem esse jeito de nos prender, de nos inserir na trama, desejando por mais, que a gente segue em frente e ainda gosta de outros pontos.
Ela escreveu uma sequência, “Maybe Not”, que não é uma continuação deste primeiro, mas, sim, uma trama curta sobre o melhor amigo de Ridge, Warren, que é alguém muito carismático e realmente merecia uma história protagonizada por ele e seu par romântico, Bridgette, que conhecemos pouco neste volume, mas que nos deixa com vontade de saber mais sobre ela e seu relacionamento com ele. Ainda não há previsão de lançamento deste exemplar aqui no Brasil, mas acredito que deva ser publicado aqui no ano que vem. Só acho que seria ainda melhor se a Maggie também ganhasse uma obra só sua, o que infelizmente não aconteceu, apesar de a autora ter escrito um epílogo de poucas páginas, denominado "Maggie's Epilogue" no original, me fazendo desejar por mais.
Posso dizer que este livro despertou em mim muitos sentimentos, e tenho certeza de que fará o mesmo por qualquer outro leitor, mesmo que não sejam as melhores emoções. É uma trama bem escrita, com um ótimo desenvolvimento e personagens cativantes, que flui maravilhosamente bem.
“Talvez um Dia” é um dos livros mais queridos pelos leitores de Hoover, tanto que eu só ouvia boas indicações a respeito dele e estava ansiosa para lê-lo o quanto antes. Só que não funcionou para mim porque não gostei do triângulo amoroso e de como as coisas foram desenvolvidas pelo casal principal. Mas, se tanta gente amou, talvez você esteja incluso neste grupo, que consiste na maioria. Então leia e tire suas próprias conclusões, como eu fiz, que vou estar aqui torcendo para que seja um resultado melhor para você do que foi para mim.
Avaliação



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