Mr. Mercedes - Stephen King


Em todos esses anos de leitura eu sempre dizia a mim mesma: preciso ler Stephen King!, mas nunca surgia a oportunidade, desconfiava que iria gostar de seus trabalhos pelo pouco que conhecia através de suas adaptações cinematográficas. Surgiu a chance de ler Mr. Mercedes, e finalmente conheci a narrativa desse queridinho, publicado pela Suma de Letras.

É madrugada, uma fila de pessoas aguarda, repleta de sonhos de dias melhores... ao amanhecer uma feira de empregos promete resolver o problema de muitos desempregados. Mas para alguns esses dias estava contados, do meio da névoa surge um motorista atropelando quem estava na fila com uma Mercedes. Alguns se foram, outros ficaram marcados para sempre, mas o culpado nunca foi punido.

Alguns meses depois o policial aposentado responsável pelo caso recebe uma carta do criminoso. Repleta de dados do crime, um convite e pistas, esse assassino desperta a vontade deste aposentado de voltar a ativa e capturar o criminoso antes que ele resolva voltar a agir. Hodges conseguirá encontrar esse indivíduo que se esconde onde menos se espera?

Embora a narrativa de King feita em terceira pessoa não trabalhe com seus temas mais famosos como terror e sobrenatural, uma estória que soa até simples tem um ar pesado e bizarro já que acompanhamos não só as ações do policial, mas também do assassino. Em muitos momentos eu simplesmente queria parar de ler porque receava que ele conseguisse fazer o que pretendia, as vezes o fez, as vezes não, mas essa apreensão de qual será a atitude insana que ele vai tomar contamina a leitura, tornando cada página com forte dose de apreensão. As descrições de King também chamaram minha atenção, ele não só descreve as pessoas pelas suas características físicas, mas por suas ações, permitindo um panorama mais abrangente logo no início dos personagens.

Hodges, o ex-policial, tem o famoso perfil do homem aposentado que nunca investiu em si mesmo, apenas no trabalho e de repente se vê sem família e tendo que lidar o vazio que criou em si mesmo. Suas reflexões e pensamentos sobre o que fez com sua vida são importantes porque retratam a realidade de muitas pessoas ao redor do mundo que se perdem sem seus empregos. O trabalho que executamos é um meio de vida, ou até para poucos um lazer, mas não pode ser um fim, temos que existir antes deles.

Brady Hartsfiled, um jovem transtornado dono de uma estória de vida muito perturbadora. É agressivo por dentro e sorridente por fora, é normal por fora e sombrio por dentro.  Embora o chamem de serial killer na trama não sei se ele se encaixa no perfil visto que cometeu um único crime com muitas vítimas. O interessante em sua personalidade é que ele não está no lugar comum do psicopata que não sente, ao contrário ele nutre muito carinho pela mãe e uma relação de amor/ódio pelo irmão que se foi. A raiva que surge da interação com Hodges também o faz agir por impulso, outro fator que foge ao perfil psicopata.
Não há dúvidas que trata-se de um homem que teve na sua infância um severo comprometimento causado pelo comportamento da mãe em relação ao filho, mas a reação e modo de existir de Brady é bem delineada e diferenciada do esperado. Eis a perturbadora riqueza do personagem. 

Jerome é o vizinho que ajuda com o jardim e com a tecnologia que Hodges ainda não domina. É inteligente e muito amigável, é um das pontas fundamentais para resolução do crime, junto com Holly prima de Janelle (irmã da dona da Mercedes), outra personagem com perfil comprometido mas que ao invés de agredir o mundo se volto para si mesma, regredindo e não crescendo.  Embora ela surja na trama do meio para o final da estória é uma personagem carismática que causa empatia no leitor, já que é muito sensível, visceral e honesta. Sua mãe nunca a permitiu ter um lugar no mundo, quando Hodges e Jerome validam seu lugar ela cresce e começa a se transformar de menina da mamãe para mulher que quer ter seu espaço.

Tramas policias normalmente nos prendem com o chamariz da descoberta de quem é o assassino, aqui com ele desvelado chegamos a desejar que ele não fosse revelado já que é pesado o acompanhar.

O desfecho da trama é satisfatória até que a última página chega, e você desacredita que os fantasmas vão repousar! É o típico fim que dar margem a continuação ou a imaginação. Mr Mercedes é parte da Trilogia Bill Hodges, o segundo livro Achados e Perdidos chega ao Brasil em julho, e volta a trazer o trio em uma nova investigação. O terceiro livro, O Último Turno, saiu no último dia 07 de junho, mas não tem data para sair por aqui.

Avaliação








Comente com o Facebook:

Nenhum comentário:

Postar um comentário