O Jardim Secreto é meu filme favorito de infância, e não fazia ideia até algum tempo atrás que era baseado em um livro, mas uma vez que soube virou desejo de leitura. Ler essa história mágica escrita pela britânica Frances Hodgson Burnett, publicado pela Penguin Companhia foi uma volta no tempo!
Mary Lennox mora na Índia com
seus pais, ela vive uma vida de rainha tendo tudo que deseja e quando deseja,
não precisa nem sequer trocar suas próprias roupas sozinha. Mas depois de um
surto de cólera ela perde seus pais, e é mandada para Inglaterra para viver com
seu tio nas charnecas inglesas.
Em meio aos jardins da propriedade ela descobre os segredos do
lugar como um jardim guardado a sete chaves, um menino que nunca vê a luz do
dia e um outro que sabe encantar os animais. Mas mais do que descobertas sobre
o que a cerca ela vai descobrir como ser
uma criança!
Acho até que sou suspeita para
falar desse livro, essa estória é tão marcante e fez parte da minha história de
forma tão singular que lê-la foi como estar em casa. A narrativa de Burnett é
feita em terceira pessoa, sob diversos pontos de vista, mas em boa parte das
vezes da jovem Mary. Ela escreve como se a magia do dia a dia não fosse algo a
se questionar ou descobrir, mas um fato que apenas não é dito por todos. Tudo é
bucólico, fluido, lírico, e reconfortante.
Mary é uma personagem complexa,
pois embora venha de uma família de muitas posses nunca teve o amor dos pais, e
nem referências do que é ser uma criança, quanto mais uma que sente amor ou
alegria. Ela chega a Inglaterra completamente crua, azeda e sem sal, e assim
como na Índia desperta a antipatia de todos, que a veem como uma menina feia,
mimada e amarelada. Entretanto quando ela começa a frequentar os jardins da
propriedade e conhece um jardineiro e seu Pisco (passarinho) a chama da alegria
se ascende.
Quando ela se depara então com o
jardim secreto toda a sua engrenagem de vida se desencadeia. E ela passa a ter
a capacidade de se ver de forma distante e corrigir os comportamentos estranhos
e ruins que têm, e passa a gostar das pessoas e das coisas. A sua mudança é um
processo lindo porque se dá através de seu contato com a natureza. Embora o
livro seja considerado um infanto-juvenil a autora trabalha com um leque
bastante denso de sentimentos e temas.
"Eu estou me sentindo
sozinha", disse ela. Antes Mary não sabia que isso era uma das coisas que
a faziam se sentir zangada e mal-humorada. Ao que parecia, ela descobriu isso
quando o pisco olhou para ela e ela olhou para o pisco. (pg. 68)
Colin é seu primo doente que
acredita que será corcunda e vai morrer. Mary não conseguiu concordar com ele,
assim como despertou o jardim para vida fez o mesmo com o primo que descobre
com ela seu amor próprio, suas capacidades e a força de viver que têm dentro de
si. Os dois juntos são como espelhos e proporcionam mudanças significativas em
si mesmos. Colin acredita na mágica do jardim de forma muito segura e essa
crença lhe proporciona força para conquistar seus primeiros passos.
Dickon, é o irmão de Martha
empregada da casa. Tem uma relação com a natureza tocante, consegue conversar
com os animais e com as plantas, além de possuir uma calma interna e uma
felicidade que contamina todos que o conhecem. É a parte encantada da trama,
não fica claro se ele é algo fora do
comum ou um menino apenas mais sensível. O fato é que ele é um personagem muito
bom, e que dá forças para transformar não só as roseiras mas os dois primos
mimados.
Essa edição conta com uma
introdução de Alison Lurie, que explora diversos aspectos do livro, acredito
até que quem não conhece a estória deveria lê-la depois do livro, visto que é
repleta de spoilers da trama. Ao final temos o posfácio de Marise Hansen que
trabalha com os significados das palavras empreendidas no livro. Ambos os
textos são ótimos para refletir a cerca do que Frances quis nos contar em sua
estória.
A cada página, a cada palavra é
possível sentir a brisa, o cheiro da grama e o suave pêlo dos filhotes tamanha
é a capacidade narrativa da autora em nos contar uma história de transformação
de duas crianças que se enrijeceram cedo e tinham perdido o gosto pela vida.
O jardim secreto é um convite
para um encontro consigo mesmo e se fazer a pergunta: como vai você ai dentro?
Você se permite correr, pular de corda e observar os pássaros voarem? Ou está
preso dentro de quatro paredes alimentado uma criatura que já não mais
reconhece dentro de si? Você permitiu sua criança interior crescer e
permanecer? Fica aqui o convite para crescer junto a esse jardim que transforma
tudo que toca!
P.s Fazendo uma paralelo do livro
com filme (1993) fico em dúvida se gosto mais do filme ou do livro, o filme tem
ligeiras mudanças, mas consegue colocar em imagens todo o encanto do livro. Ele
respeita a história de forma muito rara, e diria que acaba tendo cenas até mais
tocantes do que o livro. Meu conselho? Leia o livro, e veja o filme cada um
vale cada segundo de tempo empreendido!
Avaliação
Caramba, eu já assisti este filme umas mil vezes, e não sabia que tinha um livro dele. Preciso muitooo.
ResponderExcluirBeijos