Sofia Stanton-Lacy
é uma moça à frente de seu tempo, que não teve uma educação formal como outras garotas
de sua classe social ou com condições financeiras semelhantes, porque seu pai,
Sir Horace, sempre viajou pelo mundo por conta de suas missões diplomáticas e a
levava com ele desde pequena. Mas, depois da morte de sua governanta, o pai
decide pedir para sua irmã, Lady Ombersley, hospedá-la em Berkeley Square, na sua
casa, enquanto ele vai ao Brasil.
Mas ninguém
poderia nem chegar perto de prever que Sophy era bem diferente do que
esperavam. Com uma personalidade ousada, impulsiva, alegre e franca, a moça,
que tem muitos conhecidos e admiradores, logo chama atenção por onde passa,
causando bastante frisson pela alta sociedade.
Além de tudo,
ela gosta de se meter na vida alheia quando acha necessário, claro que com o
intuito de melhorar as coisas para todos os envolvidos – o que ela com certeza
consegue fazer, mas não sem antes desenvolver diversos planos e mexer com a
cabeça dos envolvidos das mais variadas formas.
E é
justamente seu primo, Charles Rivenhall, que mais vai ficar incomodado (ou
seria admirado?) com as atitudes de Sophy. Afinal, ela chegou mudando tudo ao
seu redor e virando as vidas de todas aquelas pessoas de cabeça para baixo, inclusive
a dele próprio, que precisava lidar com sua noiva insuportável Srta.
Wraxton, e manter todos os familiares afastados das confusões da prima ao mesmo
tempo. Mas será que por trás de todas aquelas discussõezinhas entre eles não
existe uma faísca que vai conseguir alcançar o coração deste homem?
Quando vi
este exemplar na lista de solicitações da Editora Record, fiquei bastante
interessada pela capa (que é o que me chama atenção para ler), e resolvi
procurar mais informações sobre a autora, que eu ainda não conhecia. E fiquei
admirada, já que Georgette possui uma extensa lista de romances de época em seu
currículo, o que me deixou ainda mais empolgada para conhecer um de seus livros,
afinal, ela com certeza deveria entender do assunto.
Essa obra
trata muito de relações interpessoais e também familiares, e Sofia tem uma
grande participação em todas elas, modificando-as sempre para melhor, e isso é
realmente sensacional. Tudo que tem algum problema, que ela percebe que é ruim
ou que está afetando diretamente aqueles por quem nutre um carinho ou alguma
consideração, Sophy busca uma forma de solucionar a questão para ajudar a
pessoa que está diretamente ligada àquilo, ou então aos que receberão alguma
parcela se for concretizado. E ela forma planos elaborados para chegar ao
resultado desejado, algumas vezes sozinha e em outras utilizando alguns indivíduos,
mas sem nunca se deixar abalar ou sentir medo. E tudo isso é realmente bem
admirável, principalmente em uma mulher naquele tempo.
Sofia é uma
personagem ardilosa e completamente divertida! Peguei-me rindo de todas as suas
armações, e senti admiração por ela ser ela mesma, sem se deixar levar por
comentários ou ser reprimida pelo comportamento considerado ideal no século
XIX. A moça se comporta como lhe convém e não como acham que deve ser. E gostei
muito de conhecer sua família, com quem ela ficou um período hospedada, com
destaque para Charles Rivenhall, o primo com quem ela teve um relacionamento de
altos e baixo, cheio de provocações, Cecilia, a prima com idade semelhante e
com quem teve uma relação mais próxima, e a tia, Lady Ombersley, irmã de seu
pai.
Outro
personagem que merece um comentário, apesar de não ter tido muita participação,
é justamente seu pai, Sir Horace. Claro que a personalidade de Sophy já tem uma
inclinação para ser mais espevitada, mas com certeza foi a educação dele que
lhe permitiu ser o que gostaria, por conta do modo como ele sempre a tratou e a
deixou fazer o que queria e o que precisava, mesmo quando não era o esperado de
uma moça.
O que eu
mais gostei foi o clima leve e descontraído da trama, que me deixava com um
sorriso bobo no rosto a cada virada de página e me fazia gargalhar em diversas
situações, e também as críticas sutis à sociedade da época e todo o seu
comportamento, principalmente com relação às mulheres.
Confesso que
estava esperando uma narrativa mais lenta, do tipo que a gente gosta, mas que demanda
mais tempo para avançarmos na leitura por conta da linguagem ou da forma de escrita,
etc. Mas estava totalmente enganada! A escrita da autora é uma delícia, fácil,
envolvente e fluida, fazendo com que as folhas sejam rapidamente terminadas.
Ainda sobre
a narrativa, gostei muito dos diálogos que, em sua maioria, são perspicazes, e
também porque em diversos deles podemos acompanhar a forma de pensamento de
Sophy e suas intenções, mesmo que sutilmente ou quando ninguém mais as note,
exceto os leitores. Mas também curti bastante os demais trechos, pois podemos
adentrar com facilidade na sociedade da época, com seus costumes, cenários e visuais
(roupas, acessórios, meios de transporte, etc.).
Achei que
seria bacana comentar que a escrita de Heyer segue uma linha mais comportada,
como os romances de época realmente escritos em séculos passados, e isso se
difere bastante dos atuais, que geralmente possuem cenas mais quentes bem
narradas. Pelo menos em comparação com todos os que li, que não foram muitos,
mas um número considerável, visto que este está se tornando um dos meus gêneros
preferidos. E também o romance não tem muito foco, nós sabemos que
provavelmente o casal vai ficar junto num futuro, inclusive por conta da
maneira que se tratam, mas não há essas declarações super apaixonadas e envolventes,
é uma coisa mais corriqueira, sem tanto destaque, apesar de ter sido bem fofo.
A única
parte que eu desejei de todo meu coração que fosse de certa forma diferente foi
o final, mas não porque foi ruim, pelo contrário, como o resto do livro, foi
maravilhoso. Porém, foi muito curto. Depois de tudo o que aconteceu, de todas
as coisas que eu desejei que acontecessem, esperava algumas páginas a mais para
desenvolver melhor certos detalhes, que me fizeram ficar bastante felizes.
Porque, logo quando algo que desejamos muito finalmente acontece, a história é
finalizada e não sabemos o que vem depois. Podia haver pelo menos um epílogo,
já que não tem continuação (o que eu realmente gostaria que tivesse).
Fiquei total
e simplesmente encantada por este livro e desesperada para ter as outras obras
da autora na minha estante. No Brasil, além deste, recentemente foram
publicados (ou relançados) os romances dela do Período Regencial: “Casamento de
Conveniência” (2008), “Ovelha Negra” (2010), “A Boa Moça” (2011) e “Venetia e o
Libertino” (2013). Porém, outros já haviam sido lançados anteriormente (as
edições não devem existir mais ou são quase impossíveis de serem encontradas),
como alguns dos já citados, inclusive “A Grande Sofia”, título quando foi
publicado em 1950, "O Amor de Penelope" (1940), "A Viúva
Indecisa" (1946) e "Fantasmas do Passado" (1995) – (Encontrei
estas informações no Skoob, então pode ter outros livros que não foram
cadastrados lá). Estou torcendo para que a editora publique novas edições
destes ou títulos dela inéditos por aqui, que são vários.
Acho essa
capa linda, inclusive por conta do jogo de cores utilizadas nela, as páginas
são amarelas, e a diagramação interna está bem confortável para uma leitura
mais fácil devido ao tamanho da fonte e aos espaçamentos.
Todas as
pessoas que gostam de romances de época com certeza devem dar uma chance para
esta obra de Georgette Heyer, pois
tenham certeza de que não se
arrependerão. Nascida no começo do século XX, a autora não fica devendo nada em
comparação a escritoras do século XIX, como Jane Austen, nem a atuais, como
Julia Quinn, duas das minhas preferidas. Estou apaixonada e desejo que vocês
possam sentir o mesmo que eu.
Avaliação
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