Mistério na Festa da Padroeira - Sereia de Vidro #03 - Marcelo Antinori

Os últimos dias em nosso país têm sido de ânimos alterados, o gigante adormecido parece ter se dado conta que na calada da noite seu destino fora traçado pelo vilão da história (não da estória porque infelizmente não trata-se de ficção =/!). Em meio a panelas, luzes apagadas e uma revolta interna que sempre foi inerente a minha pessoa recebi mais um pequeno para minha coleção, o terceiro volume da série Sereia de Vidro, Mistério na Festa da Padroeira, do autor Marcelo Antinori, lançado pela Bússola Pocket. Este veio para alimentar um pouco mais minha ideias a cerca de tudo que já discorri acima.

Neste volume o escritor, nosso velho conhecido, segue sua vida satisfeito, sua família está nos eixos, e ele vive seus dias de aventura com a amante, entretanto quando ele menos se dá conta toda a estabilidade se acaba! Sua esposa, Luciana resolve trabalhar fora como produtora de eventos, seu primeiro trabalho? A festa de Nossa Senhora da Achiropita, no Bixiga. Estaria tudo bem se o empresário por trás da tal festa não fosse Coutinho, o traficante de drogas que o escritor conhece bem.

Tentando fazer com que sua esposa não descubra seu envolvimento com Coutinho, e nem que ela conheça Ana Pérsia, sua amante, ele passa por alguns apuros, ao mesmo tempo em que se envolve em uma investigação sobre travestis mortos e espancados no centro da cidade juntamente com Carmen e Ana Pérsia, será que o escritor vai conseguir escapar desta enrascada?

Diferente do volume anterior o livro não se foca na linha investigativa de solucionar os crimes, existem sim trechos onde ele é explorado, mas ele é mais um dado que aparece como pano de fundo da trama. O foco fica mais na natureza dos personagens, o inconsciente destes parece conversar bastante com a ação que surge, o que acaba deixando o protagonista sem saber o que esperar dos que o cercam, e até sua esposa torna-se uma surpresa para ele.

O escritor (será que o nome dele um dia aparece?!) alimenta agora de maneira mais consciente seu fetiche pelo submundo de crimes e rejeitados pela sociedade, quanto mais escuso e inescrupuloso mais ele acaba animado. Entretanto ele não é um malandro, e sua inocência ainda lhe custa caro, assim ele serve de bandeja a esposa para quem menos deseja.

Luciana, a esposa, mostrou-se mais do que uma mulher rica e mãe de família, ela é do tipo que quando decide e quer alguma coisa passa por cima dos desejos alheios, e até flerta com a imoralidade. Ela também mostra atração pelo mundo do crime, mas focado em coisas como máfias, este traço aparece quando ela se derrete com a ideia de usar a máfia italiana como tema da festa. Isso também alimenta a fantasia do marido que tem uma noite de amor com ela depois de ver a determinação e transgressão da esposa na montagem da festa.

Carmen, a travesti, "tia" de Ana Pérsia tem um espaço maior na narrativa, mas seu jeito espalhafatoso e vibrante não aparece quase, já que suas amigas travestis que estão sofrendo pelas ruas sem investigação policial. Ela aparece muito séria, preocupada e rabugenta. Senti falta de suas falas animadas e que traziam leveza a narrativa. Carmen também aparece mais apagada, auxilia nas investigações, mas está retraída, e pouco se relaciona com o escritor, talvez pelo segredo que carrega.

Entendo que o livro não foque os crimes, mas ainda espero um pouco mais de densidade na parte que estes surgem, gostaria de saber mais do criminoso, natureza, explicação e loucura deste, isso traria mais reflexões, característica já marcante de Antinori em sua narrativa em primeira pessoa.

Fazer escolhas diferentes do que é considerado normal ( e que fique claro que eu não suporto a palavra normal) quanto ao que ser e quem amar é fruto de muitos traumas para quem as opta, exige elaboração e fortalecimento do ego. Isso fica claro na ações do livro, mas não é explorado. A ideia do crime, quem o fez é muito interessante, mas um pouco mais sobre isso corroboraria para a construção do inconsciente do escritor, que se alimenta e muito de todo este caldo caótico ao seu redor.

Um pensamento recorrente durante a leitura foi: poxa isso daria uma excelente série na HBO! Já que não seria mais uma sobre crimes e suas investigações, seria também sobre comportamento humano e críticas sociais, daquelas diretas e espinhosas. Fica a dica hein?! rs!

Agora Antinori que final foi esse? Como assim você joga aquela informação e termina o livro? Fiquei de boca a aberta, eu esperava pela quietude do final, e tudo que tive foi inquietação! Então o jeito é esperar pelo quarto volume, já que Mistério na Festa da Padroeira já me deixou mais curiosa pela vida do escritor! E continuo dizendo, não se engane este livro como os demais é pequeno, mas tem mais do que muitos livros grandes se propõe por ai, porque é visceral, honesto e fala daquilo que nós não queremos que o consciente diga, nossos instintos e desejos secretos!

Avaliação






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Um comentário:

  1. Não conhecia e achei a história interessante, mas é uma continuação de série. Como ainda não li os outros livros, fico na expectativa de vir a ler todos os livros da série e entender melhor o que se passa. Gostei da resenha.

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