Não consigo colocar em palavras quanto é gratificante fazer uma leitura que mais do que lhe contar uma boa estória também faça você um ser humano melhor ao fim da leitura. O autor indiano Amish é mestre nessa arte, o segundo volume da Trilogia Shiva- O Segredo dos Nagas, publicado pela N'Versos tem muita sabedoria em suas páginas e causa esse efeito na sua narrativa.
Voltamos a acompanhar a história
de Shiva, o Mahadeva, Neelkanth, que tem como missão acabar com todo mal sobre
a Índia, ele acredita que para conseguir seu intento ele deve buscar os Nagas,
que foram responsáveis pela morte de seu grande amigo Brahaspati. Para
encontrá-los ele viaja para outros reinos, mas mais do que encontrar os nagas
ele encontra verdades e injustiças que ele precisa reparar, mas será que Shiva
é capaz de encontrar a verdade que se esconde? Afinal onde se esconde este mal
que ele deve vencer?
Amish é impecável em sua
narrativa em terceira pessoa, consegue transmitir em suas palavras toda
densidade da cultura hindu repleta de alegorias, metáforas, mitologia e
honestidade. Embora o panteão hindu até seja conhecido, pelo menos as figuras
centrais, aqui ele explora outros deuses e suas histórias, de forma acessível e
linda. A única dificuldade fica por conta dos nomes que podem confundir, já que
a língua não é de nossa familiaridade.
Shiva consegue transcender, tirar
o véu que colocaram nele, e saber além do que os olhos podem ver. Através de
suas conversas com os Vasudevas ele consegue insights de conhecimento que valem
cada página de leitura. Eu disse na resenha anterior da série e volto a afirmar
minha conexão com este deus se fortaleceu, é uma energia tão rara e bonita que
tudo que tive vontade de fazer foi invocá-lo para uma boa conversa. E eis a
beleza da obra, a vontade não é de fazer um altar em seu nome, mas chamá-lo
para vida e poder tê-lo compartilhando seu poder. Trazer essa conexão para fora
das páginas é para poucos.
Sati, a esposa de Shiva é o tipo
de mulher que falta por ai, ela não vive nas sombras do poderoso marido, ela
escreve sua própria história, cumprindo com aquilo que acredita que veio fazer
no mundo, mesmo que isso signifique sua morte. É uma personagem que gera
equilíbrio em Shiva.
Os Nagas tem importância vital na
virada deste livro, não posso revelar muito a respeito pois a grande graça está
nas revelações, mas posso dizer que me apaixonei por eles? Ops! rs! Eles são
personagens com histórias muito interessantes e que se amarram a história
central de forma muito envolvente e inteligente.
Os companheiros de Shiva em sua
jornada são homens em geral muito íntegros, mais do que seguir homens ou
ideias, seguem aquilo que a verdade revela. Parvateshwar, o guerreiro que vai
conhecer o amor; Veerbhadra seu amigo fiel; Nandi a sombra que o protege e
Bhagirath o príncipe leal, todos são ricos em construção e são ótimos na
costura da trama central.
O único problema do livro fica
por conta da própria editora que fez a capa naquela versão econômica, sem
orelhas, o que gera com a leitura pequenas orelhas nas pontas da capa, uma
pena!
Muitas coisas são questionadas ao
longo do livro, sobre por exemplo quanto a tradição e leis devem permanecer com
o passar do tempo. Há pessoas que se apegam a uma verdade mesmo quando até o
autor desta verdade já mudou de caminho. A sabedoria está em reconhecer o erro
e mudar o rumo. E estar constantemente em movimento, transformando e não se
cristalizar em velhas ideias.
O Segredo dos Nagas, mais do que
narrar uma história, nos evoca a reflexão, especialmente sobre o papel do mal e
o que é o verdadeiro mal. Não somos seres bons ou ruins, somos o equilíbrio
dessas polaridades, ser mal é diante de uma escolha se render a esses impulsos,
mas ninguém é mal ou bom por completo. Om Namah Shivaiy!
O ódio é o amor estragado, o
contrário do amor é a indiferença!
Avaliação
Nenhum comentário:
Postar um comentário