Anne Winter
não é quem diz ser. Por conta de um passado ruim, ela teve que recomeçar a vida
com uma nova identidade, mas luta bravamente para se manter de pé e de cabeça
erguida. Em seu atual emprego, seu preferido até o momento depois do fatídico
acontecimento que mudou tudo, ela cuida de três meninas de uma família
importante da alta sociedade. E está indo tudo bem, até que um certo conde
surge em seu caminho para atrapalhar tudo e mexer com suas estribeiras.
Daniel Smythe-Smith
é o conde de Winstead e estava longe de sua família há anos, desde que
participara de uma situação perigosa que teve resultados lamentáveis. Por conta
disso, ele ganhou um grande inimigo, que jurou matá-lo, e precisou se exilar.
Agora que tudo passou, Daniel está de volta. E, logo no dia de seu retorno, vê
a jovem Anne tocando no concerto anual de sua família e fica instantaneamente
apaixonado por ela. E fará de tudo para colocar sua presença na vida da moça,
mesmo que tenha que ser impertinente e participar de tudo que ela esteja
presente, incluindo passeios com suas jovens priminhas e peças de teatro
desastrosas.
Mas, por
conta de toda a bagagem emocional de Anne, que não lhe permite confiar nos
homens, muito menos nos que têm algum poder em mãos, além do fato de ele ter um
título de nobreza, o que pode ser um ótimo argumento para as más línguas, ela
quer e precisa mantê-lo afastado. Para seu próprio bem, o de seu emprego e de
sua reputação, que não pode ser arruinada novamente. Só que Daniel não vai
desistir até fazê-la ceder às suas vontades. E, no meio do caminho, eles acabam
enfrentando alguns perigos que achavam estar adormecidos. Agora, Daniel
precisará fazer de tudo para salvá-la de uma possível situação terrível e não
vai hesitar em usar o que estiver ao alcance para isso.
Quem
acompanha o blog sabe que eu sou apaixonada por Julia Quinn e suas obras. Tanto
é que ela foi a principal responsável por meu amor e vício por romances de
época, que hoje em dia se tornou meu gênero favorito. Por conta disso, todos os
livros da autora que são publicados no Brasil automaticamente entram para a
minha lista de desejados e, assim que consigo, começo minhas leituras.
Então fiquei
em êxtase quando a Editora Arqueiro, sua casa em território nacional, anunciou
a publicação das quatro obras que compõem a série “Quarteto Smythe-Smith” de
forma simultânea e logo que pude comecei minhas leituras. Adorei o primeiro
volume e estava com altas expectativas para o segundo, mas, infelizmente, elas
não foram atingidas. E, pela primeira vez desde que comecei a ler títulos da
autora, eu não gostei tanto do resultado final, chegando a uma leitura boa, mas
não no nível das demais no meu ponto de vista. Não que isso tenha me feito
desgostar de sua escrita ou ter tirado um pouco da minha vontade de continuar
lendo seus exemplares, pelo contrário, já estou contando os dias para o
próximo! Mas nesta resenha vou dizer o que não me conquistou tanto assim em “Uma
Noite Como Esta”.
Acho que meu
principal problema com este livro é que faltou uma química entre o casal
protagonista. E isso me incomodou porque essa é sempre uma das melhores partes
de suas histórias. Não senti faíscas, meu coração não se alegrou ou se empolgou
e eu nem mesmo estava contando os segundos para ver os dois se acertarem e
viverem um lindo romance.
O pior é que
eu realmente, realmente adoro casais,
a construção deles, o modo como vivem um amor bonito e que nos faz suspirar,
então fiquei triste porque não encontrei essas características em Daniel e
Anne. Além disso, não sou nem um pouquinho fã de amor instantâneo e o desse
livro é assim. Se tivesse sido trabalhado de uma forma que me fizesse ficar
apaixonada, eu poderia até gostar, só que não foi o caso. Achei chato,
apelativo e rápido demais.
E devo dizer
que não gostei da insistência obsessiva e inconveniente de Daniel, que queria
fazer com que Anne o aceitasse em sua vida e também os seus sentimentos por ela
(que foram fortes desde o primeiro momento em que a viu, sem nem ter trocado
uma palavra com a moça). E considero até forçada a aproximação dos dois e o
modo como ele se inseria na vida dela e em suas atividades. Não achei
bonitinho, mas revoltante e inoportuno. Ainda mais levando em consideração o
fato de que ela lhe pedia para não fazer isso, pois, por mais que sentisse algo
de leve por ele, queria manter distância. Achei enervante e sufocante sua
perseguição, além de indelicada.
Claro que a
gente sabe que tudo vai dar mais do que certo entre os dois em algum momento,
afinal eles são protagonistas de um livro de romance de época, mas senti que o
relacionamento deles foi forçado só para ser diferente. Afinal, naquele tempo, as
pessoas tinham um olhar diferente do que temos hoje e logo pensariam e
tratariam a moça muito mal só porque ela é governanta e cativou a atenção de um
conde. Isso era totalmente inadequado e, claro, a culpa sempre cairia na
mulher, que, além de ser do sexo “frágil”, ainda era uma mera empregada,
enquanto ele tinha um título importante e dinheiro. Ou seja, sua reputação com
certeza iria sair ferida, ainda que eles realmente ficassem juntos no final, e
quase ninguém aceitaria isso de bom grado. Mas aqui foi supertranquilo. Ou seja, soou irreal para mim.
Gostei da
Anne, que merece muitos créditos por ter enfrentado a vida e a situação que
vivia de cabeça erguida, ter dado a volta por cima e ter se saído muito bem com
tudo o que tinha e com coisas horríveis que teve que enfrentar. Admiro a
personagem, sua garra e coragem, e também a força que demonstrou mesmo que
tivesse que vivenciar novas situações aterrorizantes.
Algo que
sempre adoro nas obras de Quinn é a construção dos personagens. Ela consegue
nos mostrar muito bem tanto o presente quanto o passado dos protagonistas,
fazendo com que a gente entenda o que viveram e o que contribuiu para se tornarem
o que são em suas vidas atuais. No caso de Daniel e Anne, ambos sofreram muito
por conta de coisas que fizeram anteriormente e que tiveram consequências
negativas em suas vidas até então.
A situação
dela eu ainda considero muito pior do que a dele, já que sofreu simplesmente
porque amou demais e confiou numa pessoa que se importava mais com fama e
dinheiro e nunca sentiu o mesmo por ela, levando-a a ruína. Mas o caso dele
também foi bem difícil e o levou a viver uma vida diferente e até paranoica,
porque ele tomou uma péssima decisão já que não podia pensar direito naquele
momento. E ainda fez com que um amigo próximo também tivesse que enfrentar
consequências por conta de seu erro, o que é um peso ainda maior para carregar
nas costas.
Dos demais
personagens, os destaques são as priminhas de Daniel, de quem Anne é a
governanta, que tinham cenas ótimas, sendo algumas delas bem fofas e outras
engraçadas. E, claro, Hugh Prentice, o amigo de Daniel que ainda sofre
consequências por conta de algo no passado dos dois. Mas pelo menos dele eu não
vou sentir tanta falta assim, afinal ele é o protagonista masculino do próximo
volume da série, “A Soma de Todos os Beijos”, junto com Sarah, prima de Daniel
e Honoria. E dizem que é o melhor da série, então estou empolgadíssima para
conferir esse casal!
Uma das
minhas partes preferidas foi um momento de ação que há mais para o final da
leitura, que nos deixa aflitos, ansiosos para saber o que vai acontecer em
seguida, torcendo para que tudo dê certo e acabe bem. Com o coração apertado e
a respiração presa, a gente vira as páginas com rapidez, esperando alcançar
logo o final daquela situação.
Só senti
falta de alguma sentença mais impressionante e com um toque mais impiedoso para
o homem que fez tudo de ruim acontecer na vida de Anne e também para a família
dela. No caso dessa última, pelo menos uma punição do universo pelo modo como a
trataram.
E algo que
me incomodou muito foi que eles levaram uma criança para uma situação de perigo
com um homem armado, meio louco e vingativo. Eu sei que ela poderia ajudar a
salvar a vida de uma pessoa (não posso explicar muito para não ser spoiler), só
acho que poderiam encontrar outras formas de fazer isso sem que ela tivesse uma
participação direta. Se fosse na vida real, poderia ter sobrado para ela e algo
terrível poderia ter acontecido. Fora que a “grande” ajuda dela poderia ter sido fornecida em outro lugar. Vou
colocar uma pequena frase para justificar o que eu disse: “Mas, se fizermos as coisas do jeito certo, acho que Frances não
correrá perigo algum”. Sublinhei as partes importantes, porque: E se
fizessem do jeito errado?! ACHA que
ela não correrá perigo? Eu não aceitaria levar minha criança em algo assim se
não fosse algo realmente, completamente necessário e sem outra opção, o que não
era o caso, nem de longe.
Quem leu o
primeiro livro vai encontrar algumas cenas parecidas, só que sob uma nova
ótica, visto que aqui acompanhamos personagens que participaram de alguns
momentos indiretamente por lá, nos dando uma perspectiva totalmente nova de
acontecimentos. O que pode ser bem interessante para algumas pessoas, também
pode soar cansativo e repetitivo para outras, mesmo que tenhamos uma visão
diferente. Eu gostei, porque adoro quando eu tenho a chance de descobrir o que
uma pessoa estava fazendo em determinado momento que em um livro apareceu
superficialmente, mas que no outro é mostrado com detalhes. Além do mais, temos
a chance de saber o que realmente aconteceu no passado de Daniel, algo que
tinha ficado bem misterioso anteriormente e que eu queria muito descobrir.
Embora Anne
não seja uma Smythe-Smith, participou de uma das apresentações do Quarteto e,
por isso, pode ser considerada parte disso – daí fazer parte da série com esse
nome. Mas confesso que preferia ter conhecido mais a fundo outra das meninas da
família. E algo que eu achei bem bacana é que o título não é algo aleatório e
tem tudo a ver com a trama, inclusive é citado em um diálogo.
Ainda que o
casal principal não tenha me conquistado, curti ter lido essa obra de Quinn,
que nos presenteia com um pano de fundo bem bacana, uma pitada de suspense que
nos faz querer virar as páginas para desvendá-lo, uma camada de diversão e
tiradas cômicas, além de personagens bem construídos e outros memoráveis.
Recomendo “Uma Noite Como Esta” para os fãs da autora e/ou para aqueles que
adoram romances de época. E para quem ainda não mergulhou no gênero, mas tem
essa vontade, comece a série do primeiro livro, pois vai se apaixonar.
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