Há quase um ano atrás eu conhecia
Patti Smith, e me apaixonaria por sua personalidade peculiar por motivos que a
maioria que gostam dela talvez não se atenham, mas o fato é que eu adoro o modo
como ela escreve e consegue falar a cerca de si mesma, fato que conheci através
do seu livro mais recente Linha M, mas depois desta leitura descobri que seu
livro mais conhecido é Só Garotos, publicado por aqui pela Companhia das
Letras.
Neste livro Smith se propõe a
contar sua história com Robert Mapplethorpe, fotógrafo e artista que ela
conheceu da maneira mais inesperada quando ela resolve tentar a vida em New York
deixando em New Jersey sua faculdade e família. Ao chegar na cidade ela procura
por amigos, e ao chegar ao apartamento de um deles descobre que este se mudou,
mas um jovem a leva em seu atual endereço.
Mais tarde este mesmo jovem a
salva de uma situação arriscada, e depois disso foram mais de vinte anos de
amor e amizade entre Patti e Robert. E quando falo em amor é daqueles
verdadeiros e inspiradores! Com apenas vinte anos ela era muito aberta as
possibilidades que a vida lhe davam, mas foi Robert quem a inspirou a ser ela
mesma sempre, foi ele quem cultivou nelas as sementes que mais tarde renderiam
árvores. E foi ela quem deu apoio condicional a ele para que sua obra prima
nascesse. Arrisco dizer que nenhum dos dois seria o mesmo, e seria quem foi sem
o outro!
O final dos anos 60 e começo dos
anos 70 é o pano de fundo destas narrativas em primeira pessoa, e digo nunca
mais aquela loucura vai ser vista como foi! Um hotel que hospedasse tantos
indivíduos criativos e problemáticos como foi o hotel Chelsea, local onde o
casal morou por um período. Jimi Hendrix e Janis Joplin foram alguns dos que
surgiram nestas memórias. mas muitos outros músicos, poetas, artistas e etc são
citados e personagens das situações narradas.
De aspirante a artista através de
desenhos, passando por seu crescimento poético até chegar a cantora tudo está
escrito nestas páginas. E não foram tempos fáceis, já que até dormir na rua e
passar fome Smith foi capaz para alcançar seus sonhos, e tudo com resiliência
de que dias melhorem viriam desde que Robert estivesse com ela. E isso durou
mesmo quando eles não eram mais um casal. A ligação que eles tinham era muito
estável e era como uma âncora que permitia que eles dessem mergulhos fundos sem
medo.
Nesta época de sua história
podemos conhecer alguns de seus primeiros contatos com o que seriam algumas de
suas maiores características, como o café, a polaroid e os túmulos. E também
com a incrível capacidade desta mulher de ser ela mesma, mesmo que as vezes
fosse encarada como mais parecida com um homem do que uma mulher, ou que
fizesse combinações de roupa suspeitas. Ela sempre bancou suas escolhas, sejam
elas de vida ou atitude, e de tão autêntica e espontânea, sempre despertou
carinho em que a conheceu.
Ambos tiveram carreiras bem sucedidas, mas não é spoiler dizer que Robert infelizmente perdeu aos 41 anos a guerra para a aids, que na década de 80 ainda fazia muitas vítimas. Seu pedido antes de morrer foi que Patti contasse a história deles, e que digo vale a pena ser lida! Mas já digo as páginas finais desta dupla é de arrancar lágrimas mesmo que desde o começo do livros já é sabido sobre sua morte.
Como em Linha M, este livro é
repleto de fotos em preto e branco que fogem ao lugar comum, as poses e ordem.
Robert desperta para fotografia mais tarde, e Patti é sua modelo. A última foto
da dupla que Robert tira de Patti com sua filha é linda, e o mais incrível que
durante o livro Patti diz que seus amigos dizem que em suas fotos ela sai
parecida com Robert, e isso é verdade, a simbiose deles é tão forte que eles
parecem um! As fotografias dizem mais do que o esperado!
Mais uma vez Patti foi capaz de
dizer muito em sua escrita, daquilo que não é substancial, e que faltam
palavras para ser dito. Ao término do livro você se sente preenchido destes
itens que muitas vezes nem sabe nomear, mas que é capaz de sentir! Além da
enorme empatia e carinho que é despertado ao longo da leitura por estes dois
maluquinhos!
Só garotos inspira a
autenticidade, a busca pela verdade interior e a persistência nas relações. É
um trecho de uma história de vida, e o nascimento de uma história de amor sem
todos os clichês. Além de uma história sobre o nascimento de várias
manifestações artísticas nas sujas ruas de New York. Leia por Smith, leia pela
inspiração, leia pelo amor! Sim ele tem sexo, drogas e rock 'n'roll, mas este é
um mero detalhe nestas páginas regadas de emoção.
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