Lembram que na semana passada
comentei sobre dois livros que eram diferentes que me ofereceram para ler? Um
já resenhei, Antes que o Sonho Acabe, o outro é mais inusitado ainda, falo de
Mascarados - A Verdadeira História dos Adeptos da Tática Black Bloc, escrito
pelos autores Esther Solano, Bruno Paes Manso e Willian Novaes, e publicado
pela Geração Editoral.
Em junho de 2013 uma onda de
manifestações varreu o país, aqui em São Paulo especialmente foram inúmeras as
reações contra o aumento do valor do transporte público. Em meio a esses
protestos surgiu um grupo diferenciado que atuava mascarado e com atuações violentas.
Boa parte da população não compreendeu o porque deste comportamento e menos
ainda quem eram esses indivíduos. O livro se propõe a contar a história sobre
quem são estes manifestantes, desmistificando preconceitos disseminados pela
mídia e governo, além de explicar o que eles pretendiam com suas ações.
A obra é dividida em 4 partes com
introdução e posfácio. Em sua primeira parte a doutora em ciências sociais,
Esther Solano relata em detalhes seu estudo de campo junto ao grupo black bloc.
Ela acompanhou durante cerca de um ano diversas manifestações e suas
repercussões junto a eles nas ruas. Com relatos pessoais do que viveu,
conseguiu transmitir a visão interna de quem participa do grupo. Tem uma ótima
visão técnica das ações sociais e possibilita ver tudo não apenas com o foco na
violência, mas no que causou tal violência, visto que o objetivo desta não é
destruição, mas uma violência performática que pretende provocar uma reação social
e institucional.
Na segunda parte o jornalista
Bruno Paes Manso, descreve algumas das manifestações sob o seu ponto de vista.
Ele participou de algumas dela como uma obrigação de profissão, e teve alguns de
seus conceitos mudados depois de conhecer a causa e a tática. Compreendeu que
não é preciso mudar a manifestação social, mas as condições sociais que nos
cercam e quem geram essas revoltas.
A terceira parte é feita pelo
jornalista Willian Novaes, e ele entrevista diversos membros do Black bloc,
desde um jovem pobre que busca uma vida melhor até o homem formado e muito
rico que busca o anarquismo como forma de vida. Essa parte é extremamente
importante para entender o movimento e as ideias que o promovem. Conhecer um
pouquinho de quem o forma foi muito bom para perceber que tratam-se em sua
grande maioria de pessoas com conteúdo e que se viram de mãos atadas sobre como
resolver os problemas sociais que as afetavam, além de uma total revolta contra
a violência muitas vezes gratuita da polícia despreparada para esse tipo de
situação.
A quarta e última parte é uma
entrevista com o Coronel Reynaldo Simões Rossi, que foi agredido pelos
manifestantes. A entrevista que podia contribuir e muito para aumentar a visão
do quadro, fornecendo uma visão de conjunto não trouxe quase nada de importante. Distante, o coronel respondeu a
entrevista por email com palavreado técnico e aparentemente muito pensado,
fazendo com que o que poderia melhorar a compreensão das ações policiais só
reforçassem o discurso do Black Bloc, de que eles não tem capacidade de
diálogo. Foi uma decepção ver alguém que representa a segurança com um discurso
pronto, sem emoção e humanidade.
O posfácio escrito por Pablo
Ortellado é parte muito importante do livro, pois é o único momento que o histórico
do Black Bloc que nasceu na Alemanha é trabalhado. Senti falta de um capítulo
introdutório onde isso fosse trabalhado. Ortellado consegue em breves palavras
traçar a explicação de como uma atuação protetiva passou a ser agressiva com o
passar dos anos.
O livro é repleto de fotos preto
e brancas em seus início de capítulos e durante sua diagramação. Existem três
blocos de fotos em papel couchê colorido que me trouxeram lembranças claras de
tudo que acompanhei pela televisão, foi como estar naqueles dias incertos
novamente, entre ir para rua e me trancar em casa.
Mascarados é um livro importante
para quem quer compreender as manifestações sociais, o comportamento humano e
aquilo que não é dito pela mídia que edita tudo que ocorreu nestes últimos
meses. Conhecer um pouquinho do que o grupo acredita, quem são eles e seus
objetivos fez desmistificar um pouco da fantasia que eu tinha com o grupo.
Tenho cá minhas opiniões sobre tudo. Mas as guardo aqui, apenas dizendo que não
podemos mais ter vaquinhas de presépio em nosso país, não podemos mais comprar
ideias de ex-guerrilheira que quer ser burguesa as custas do sangue alheio. Se
você consegue ver os erros ao seu redor, mesmo que não possa fazer nada com
suas mãos, use sua mente para pensar e propagar. Semear é preciso, já que
muitas vezes só nos damos conta das árvores que plantamos quando elas nos
fornecem sombra e proteção!
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