Na Coluna In Our Living Room de hoje conhecemos um pouco mais sobre o autor Walter Tierno, autor dos livros Cira e o Velho; Anardeus - No calor da Destruição, publicados pela Giz Editorial.
Sobre o Autor: É formado em Jornalismo e trabalhou com publicidade durante quase vinte anos. Ilustrador, artista gráfico e escritor, seu livro de estreia é Cira e o Velho. Também publicou contos nas coletâneas "Amor Lobo" e "Mitos Modernos". Vive em São Paulo com sua esposa, filha e gatinhos.
Canal para se comunicar com o autor e saber mais sobre seus livros e trabalho: Site | Facebook | Twitter .
Os livros são conhecidos estranhos até que alguém nos apresente e nos
conduza aos seus mundos, despertando em quem permite um vício jamais
abandonado. Quem foi que lhe apresentou a esse universo literário? Qual autor e
obra que marcou sua vida literária?
Aprendi a gostar de literatura
por imitação, creio. Meu irmão tinha o hábito de visitar bibliotecas. Ele é
seis anos mais velho. Eu acompanhava. Ao mesmo tempo, na escola, fui
apresentado à coleção vagalume. Muita gente da minha geração pegou gosto pela leitura
com essa coleção. Não sei apontar uma obra específica lá na gênese de meu gosto
pela leitura. Sei que, mais tarde, já adolescente, quando me apaixonei
definitivamente por quadrinhos, nomes como Neil Gaiman, Alan Moore e Frank
Miller me fisgaram.
Acompanho já têm alguns anos seu trabalho de resenhas e comentários
sobre quadrinhos. Gostar e ler tantos quadrinhos reflete e influencia na sua
narrativa? O que muda para você no momento de criar um romance e um quadrinho
do ponto de vista da criação da história?
Não que a linguagem dos
quadrinhos me influencie tanto. Observe que, dos três nomes que mencionei na
pergunta anterior, dois já lançaram romances. Neil Gaiman, inclusive, é
conhecido pelo grande público muito mais por seu trabalho como escritor de prosa.
Uma coisa interessante, aliás, é que já houve quem dissesse que percebeu
influência de roteiro de HQs em Anardeus. Achei sensacional, mas a verdade é
que minha influência, nesse caso, veio de textos de teatro. Na hora de criar
uma história, aquele “tlim” que começa tudo, não costumo saber se a coisa vai
se desenvolver melhor para prosa ou roteiro de quadrinhos. Deixo para descobrir
isso depois. Até agora, tem apontado para a primeira opção, então, tenho
seguido como escritor. Quando surgir uma nova HQ, vou fazer... e me desesperar,
porque dá muito mais trabalho!
Os protagonistas de suas histórias são profundos e bem estruturados,
como é o processo de criação? Eles nascem primeiro e a partir deles a história
ou o contrário? Quais as referências que lhe auxiliam nesse processo?
Geralmente, os personagens nascem
primeiro sim e eu os solidifico durante o processo de criação da história. E
aí, talvez, seja o ponto em que ser ilustrador influencie, porque crio os
personagens visualmente, antes mesmo da história. As referências são variadas,
nunca fechei um processo único para isso. Acho que são as mesmas que norteiam
todo meu trabalho.
Cira e o Velho é repleto de referências sobre o folclore brasileiro,
qual foi sua fonte de pesquisa? Não encontrei referências a Cira, é uma criação
sua ou existe em alguma mitologia brasileira? Na sua opinião porque o folclore
brasileiro é tão pouco explorado pelos autores da literatura fantástica?
Tive várias fontes de pesquisa,
mas nunca busquei fazer um tratado. Sempre foi uma obra de ficção, portanto,
entre minhas fontes, escolhi algumas obras como diretrizes principais. Para a
parte mitológica, me baseei nos trabalhos de Câmara Cascudo e no dicionário
tupi-guarani de Silveira Bueno. Cira não existe em nenhum trabalho de pesquisa
sobre folclore porque tanto ela quanto Guaracy, sua mãe, são criações minhas.
Realmente, entre os autores de
literatura fantástica com que tive contato, percebi, na maioria, até mesmo
resistência a temas brasileiros. Não que sejam obrigados a um ufanismo tosco,
cada um escreve sobre o que se sente confortável, a diferença está entre
conseguir ou não convencer o leitor. Não sei apontar uma razão para isso.
Talvez por fazerem parte de uma geração que foi fortemente influenciada por
cinema e literatura importadas, principalmente dos EUA e da Inglaterra. Talvez
alguns até acreditem que têm que se adequar a um dito “mercado” que não aceita
folclore brasileiro. Eu realmente não saberia dizer, porque nunca tentei
levantar dados a respeito. Eu vou escrevendo sobre o que consigo e me sinto
confortável e espero que os colegas estejam fazendo o mesmo. Mas existem alguns
autores que sei que já voltaram seus olhos aqui para o Brasil. O americano
Christopher Kastensmidt, que escreve
contos para publicações norte americanas e Felipe Castilho, que escreve um
juvenil usando videogames e folclore brasileiro são dois exemplos. Também tem
uma autora que está começando a fazer um barulho bacana, que é a historiadora
Nikelen Witter. Também tem o Rober Rodrigues, que usa elementos do folclore
nacional. Pensando bem, até que tem bastante gente voltando os olhos para o
folclore nacional...
Anardeus é um livro com uma veia crítica muito acentuada, item ausente
em boa parte dos livros lançados hoje, qual é o papel do livro para você? Um
item de entretenimento, um convite a reflexão e a crítica, ou apenas uma
manifestação da sublimação do autor?
Para mim, o livro realmente bom é
aquele que, pelo menos, tenta juntar tudo isso que você disse. Não
necessariamente de forma equilibrada.
Após ler Cira e o Velho, e Anardeus percebi um tema em comum em ambos
que é a vingança, isso se deu por coincidência ou foi algo que se deu
inconscientemente? Ambos personagens em certa altura constatam que a vingança
não resolve o vazio interior que possuem, qual sua relação com o tema?
Provavelmente foi inconsciente,
porque até você levantar essa questão, eu não havia pensado dessa forma sobre
eles... Eu realmente tenho fascínio pelo tema. Como a vingança parece
importante para quem a busca e como ela é frustrante quando alcançada.
Em todos os textos que li de sua autoria têm algum fato histórico
brasileiro, Cira trabalha com a escravidão, Anardeus com as diretas já e A Dama
e o Poeta com a ditadura, porque estes momentos marcantes foram escolhidos?
Não há razão específica. Eu
apenas escolhi momentos interessantes. Em Cira, fascinou-me um dos momentos
mais marcantes da história dos bandeirantes paulistas, principalmente a figura
de Domingos Jorge Velho. Em Anardeus, foi um momento até recente, que foram as
manifestações que derrubaram o presidente Collor. Em A Dama e o Poeta, eu
visitei um período sobre o qual ainda quero escrever mais coisas, que é a
ditadura militar. Tento sempre puxar algum momento histórico porque me assusta
a pouca memória que muita gente demonstra. Vejo pessoas clamando por
intervenção militar. Parece que esqueceram o que é realmente estar sob uma
ditadura militar.
Lançar um livro no Brasil é um trabalho difícil e delicado, o mercado
editorial brasileiro parece ainda engatinhar, e não dar espaço para autores
brasileiros. Qual sua opinião a respeito dele, dos autores brasileiros e como
foi a publicação de seus livro?
Ouço um discurso recorrente – e
não é só de leigos, muito pelo contrário –, que cobra uma profissionalização do
mercado brasileiro. Profissionalização nos moldes anglo-americanos, aliás. Mas
a galera esquece que estão tentando encaixar uma peça redonda num buraco
quadrado (ou vice versa). Há uma diferença cultural a ser levada em conta. Para
começar, o brasileiro não lê. O aumento médio de leitura não acontece só por
aumento de público leitor. Tem uma parcela pequena da população que consome
muito livro. 50 Tons, por exemplo. Certeza que a maioria das pessoas que
compraram não lerão outro livro no mesmo ano. Números não são tão exatos quanto
se pensa. Muitos leitores formados por um modelo de literatura não prosseguirão
em busca de obras melhores ou temas diferentes. Essa é a triste verdade. “Pelos
menos estão lendo” é só um paliativo para uma luta bastante difícil. O público
não segue um padrão estável. Isso é maravilhoso e assustador, ao mesmo tempo. Sobre
as editoras, vejo uma bateção de cabeça interminável. Reclamam que os autores
que escrevem bem não fazem livros mais comerciais e que quem faz livros
comerciais não escreve bem. Uma bipolaridade que não se destrava. As editoras
precisam começar a investir num modelo de literatura bem feita, comercialmente
atraente e sem ficar se fiando em celebridade pronta. Conheço poucas editoras
que tenham um projeto desses. Concordo que livro é um produto. Mas é um produto
cultural, não é um pacote de biscoitos. Tem que ser tratado com respeito.
Para o futuro o que podemos esperar de seus lançamentos? Algum de seus
livros vai ter uma continuação ou desdobramento?
Estou escrevendo um juvenil,
agora e pretendo fazer uma adaptação de um clássico do teatro para quadrinhos.
Atualmente, estou trabalhando como editor na Giz e correndo atrás para ajudar a
editora a entrar em alguns mercados inéditos para ela, como o selo GiBiz, de
quadrinhos. Anardeus certamente não terá uma continuação. Pelo menos, não
vislumbro nada mais a ser dito sobre ele. Cira, talvez, tenha um novo livro.
Mas não tão cedo. Depois desse juvenil que estou escrevendo,
quero voltar a outro livro adulto que tenho na cabeça.
Em nome do House of Chick agradeço seu contato e a entrevista, fique a
vontade para adicionar qualquer informação que queira compartilhar conosco!
Eu é que agradeço. Obrigado pela
oportunidade.
Eu tive o prazer de conhecê-lo na Bienal de São José dos Campos. Que pessoa maravilhosa neh? Fiquei encantada qdo ele autografou meu livro e fez uma caricatura minha de lobisomem!
ResponderExcluirAinda não li nenhum dos seus livros, mas tenho muita vontade! Adorei conhecê-lo mais um pouco, uma pessoa excepcional, sem dúvida!
bjo bjo^^
Bruna!
ResponderExcluirBacana poder conhecer mais um autor nacional.
A entrevista está ótima.
Agradeço o comentário e a visita feita ao blog. Obrigada!
Um super final de semana!
cheirinhos
Rudy
Blog Alegria de Viver e Amar o que é Bom!
“Pode ser que um dia nos afastemos...Mas, se formos amigos de verdade, a amizade nos reaproximará.” (Albert Einstein)
Adorei a entrevista! Parece um escritor realmente supertalentoso!!
ResponderExcluirQuero ler os livro dele, principalmente Anardeus q parece ser uma história impressionante!
Bjs!
fabricio-fenix2010@hotmail.com