Eu sempre tenho receio de ler o
segundo livro de uma série que começa bem, simplesmente porque é difícil
despertar o mesmo interesse e ritmo do primeiro volume onde tudo é novidade.
Quando trata-se de uma autora que eu gosto como a Nora Roberts a expectativa
acaba maior, e foi assim que li Feitiço da Sombra, publicado pela editora Arqueiro,
segundo volume da trilogia Primos O'Dwyer.
Connor O’Dwyer é um dos Bruxos da
Noite, e se orgulha do legado que carrega. Fazer o que é preciso não é uma
obrigação é um prazer, e acabar definitivamente Cabhan é seu principal objetivo
até que um beijo inesperado desperta sentimentos que ele sequer sabia que
existiam. Agora além de combater o mal ele precisa entender o que sente, e mais
do que isso proteger quem ama a todo custo!
Este é meu quinto livro da Nora
Roberts, e ela está entre minhas autoras favoritas e é com pesar que digo que
ela falhou neste livro. Sua narrativa em terceira pessoa continua uma delicia,
com respeito e veneração a antiga sabedoria pagã celta, mas existem muitas
páginas desnecessárias neste volume, ou seja enrolação. Basicamente o livro
narra muitos encontros do círculo (grupo formado pelos três primos e seus
amigos) para comer e discutir o quanto o vilão está próximo, e o que devem
fazer quanto a isso. O vilão faz ataques furtivos, e tudo que acontece em boa
parte do livro é isso. Quase não se trabalha a magia, ou a personalidade dos
personagens. A impressão que eu tive é que ela tinha claro a linha que queria
trabalhar mas não como desenvolver.
E embora haja este problema Roberts
teve uma boa ideia ao juntar momentos onde Connor consegue através dos sonhos
encontrar com primos que viveram em outra época. Como uma viagem no tempo, ele
vai até onde eles estão. Mas ainda assim poderia ter explorado melhor este
artifício, como um ataque em conjunto unindo os primos do passado e do
presente.
Connor é muito carismático, uma
personagem leve e bem humorado. É gostoso de acompanhar seu dia a dia de
guloso, já que ele vive com fome e pedindo comida a irmã, Branna. Quando ele é
'atacado' e ganha o beijo inesperado um lado romântico e delicado surge nele. E
ao contrário do clichê ele não é um homem sedento por sexo, ele soa muito
respeitoso e honesto nestes momentos.
Branna, irmã de Connor é a que
mais tem trabalho, já que é quem mais entende de magia e de cozinha. Mas a
falta de explicações do que aconteceu com ela e Finn já está em excesso, sei
que o terceiro volume vai dar conta desta estória, mas alguns dados poderiam
ter sido ditos. Por reprimir seus sentimentos acaba sendo uma mulher mau
humorada e séria, e tudo que desejo a ela é que possa ser finalmente livre!
Meara, amiga de infância de
Branna e Connor, é parte do círculo também, sua vida pessoal tem exigido demais
dela, já que a mãe quer que ela more novamente com ela. Quando Connor sofre um
ataque de Cabhan ela começa olhar Connor com outros olhos. Mas o abandono do
pai gerou nem Meara muita dificuldade em amar, e sentir que merece esse amor.
Os aspectos psicológicos deste trauma poderiam ser melhores trabalhados, e
quando digo que senti falta da personalidade dos personagens este é um dos focos
que faltou.
Finn, Boyle e Iona aparecem a
todo momento, mas não tem foco principal. Iona está de casamento marcado com
Boyle. E Finn continua tentando sutilmente que Branna lhe dê oportunidade de
tentar voltar seu relacionamento. Cabhan é o vilão e basicamente o que sabemos
dele é que ele nutre inveja das pessoas que amam e que são felizes. Mas quem é
ele, de onde surgiu e porque tanta determinação em se vingar da família O'Dwyer
a autora não diz. Conhecer o vilão e não apenas colocá-lo como um ponto do mau
dá forma a ele.
Um aspecto que eu gosto muito
desta série são os animais de poder que acompanham cada um dos primos, no caso
do Connor um gavião. Eles têm muito espaço e presença na trama, e um senso
protetor que é fundamental para a sobrevivência de seus protegidos. A conexão
dos humanos com os animais é muito trabalhada por Roberts, já que um núcleo
trabalha com criação e adestramento de falcões e outro com cavalos.
Espero que o terceiro livro
(Magia do Sangue já foi lançado pela Arqueiro) da série feche com chave de ouro
porque o universo criado por Roberts é encantador e muito real, já que em
Feitiço da Sombra o livro assim como os personagens acabam perdidos nas brumas
irlandesas!
Avaliação
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