É incrível como livros pregam
peças em nós, quando escolhi ler O Perfume da Folha de Chá da autora Dinah
Jefferies, publicado pela Paralela, eu achava que seria um livro de época no
estilo The Hathaways, com um pouco de sexo (vide o selo paralela) e toques da
época, mas nunca estive mais enganada!
Gwendolyn Hooper é uma jovem
inglesa que acabou de se casar com um viúvo plantador de chá. Depois do
casamento ela parte para o Ceilão para viver com Laurence, e se depara com uma
vida muito diferente do que está acostumada. Algum tempo depois da mudança ela
descobre que está grávida, mas o que parece ser motivo de felicidade acaba
despertando a maior tristeza de sua vida quando o parto acontece. Agora ela tem
fazer escolhas com muito cuidado, e tentar equilibrar uma balança muito
delicada!
Jefferies realiza sua narrativa
em terceira pessoa com muita desenvoltura, nos envolvendo com os costumes do
Ceilão, atual Sri Lanka. Sua vasta pesquisa sobre o país e tudo que envolve a
plantação de chá é evidente e nos convida uma imersão tanto no tempo quanto no
espaço de uma país que talvez não fosse pelo livro passaria desapercebido, e
logo para mim que ama chá! Além de sua facilidade em narrar a drama a autora
não nos poupa de sofrer, Gwen é uma protagonista que conhece logo cedo o que é
a tristeza, e Jefferies é muito intensa quanto a isso.
Gwen tem apenas dezenove anos
quando se casa, logo ainda esta descobrindo o que é o casamento e como deve se
portar no país, além de também tentar compreender os fatos que marcaram a morte
da esposa de Laurence. Com isso ela é muito ingênua e transparente, e sofre
além da conta quando sua vida é marcada após o parto. Como sofri com esta moça!
Ela passou por poucas e boas, mas devo dizer que não teve atitudes muito
práticas ou inteligentes.
Laurence, seu marido desperta
incerteza quanto a sua verdadeira natureza, já que no inicio da trama ora é
muito carinhoso, ora é frio e distante. Mesmo assim desperta ao longo do tempo
simpatia e empatia sobre seu passado. Por viver em uma época ainda marcada por
costumes esperados da burguesia tem atitudes até que modernas, mas não sabe
ainda como lidar com esta transição, especialmente com os trabalhadores de sua
fazenda.
Verity é a cunhada, é cruel e
egoísta, e não tive outra vontade que não de que ela sumisse, já que ela é uma
das pessoas que contribuem para o sofrimento de Gwen com suas palavras e
atitudes. Gwen é muito tolerante e paciente com ela por conta da morte dos pais
da mesma, mas Verity ultrapassa todos os limites sempre!
Fran é a prima de Gwen, e não é
presença constante, uma pena! porque ela é uma personagem leve e mais divertida
do que todos os demais personagens. Não tem o perfil de mulher que sofre, e
poderia já que é sozinha e não tem ninguém (seus pais morreram). É moderna e
prática, a frente do seu tempo.
Naveena é a principal empregada
da casa, foi quem criou Laurence, e passa a ser a mão direita de Gwen após o
parto. É uma pessoa simples, mas muito dedicada e leal. Sem sua ajuda Gwen
teria se perdido mais ainda!
Quando o desfecho da trama se deu
eu devo dizer que fiquei um pouco decepcionada, porque queria uma justificativa
melhor para justificar o sofrimento de Gwen, que sim se colocou em uma situação
delicada, mas que agiu de forma muito comprometedora. Em outras palavras acho
que ela sofreu mais que o necessário, e perdeu vida demais sem necessidade! Eu
torci muito para que ela resolvesse tudo logo, mas as coisas só se desenrolaram
quando a vida agiu!
Embora tenhamos uma trama
principal que envolve Gwen, muitos aspectos importantes são trabalhados no
livro. O Ceilão na época em que se passa o livro era uma colônia da Inglaterra,
com isso eles viviam em uma regime de liberdade limitada. As revoltas contra as
atitudes tomadas pelo governo são constantes, especialmente porque não viviam ali
apenas nascidos no Ceilão, mas também muitos indianos que foram para ilha
trabalhar, e os direitos entre eles era diferenciado. O preconceito é muito
marcante, não só de cor de pele, mas como de nacionalidade, e de forma muito
ignorante. Existe uma estrutura de castas de forma velada, e o status é muito
valorizado. No final do livro a autora aborda seu objetivo quanto ao livro:
como as pessoas encaravam as diferenças étnicas e os preconceitos existentes na
época, além de citar até uma breve biografia dos livros que consultou.
O Perfume da Folha de Chá é um
drama repleto de intensidade e aroma, capaz de nos fazer refletir e sentir. Não
vale a pena viver uma vida de falsa paz para guardar um segredo, não vale viver
uma mentira, por mais dolorosa que seja uma verdade ainda sim é sempre a forma
mais fácil de lidar com a realidade porque traz para o coração ao final!
Avaliação
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