Tenho uma estranha atração por
livros que se passam na segunda guerra mundial, ou no caso de A Febre do
Amanhecer, do autor Peter Gárdós, lançado pela Cia das Letras que se passa logo
após o término da mesma. Eu não sei o porque, afinal eu sei que foi uma época
de muito sofrimento, mas que bons livros foram feitos a partir dela, ah foram!
Miklós é um jovem húngaro que
sobreviveu aos campos de concentração, mas está doente com tuberculose, e é
mandado para Suécia para se recuperar com outros em sua situação. Desenganado
pelo seu médico ele mesmo assim parte em busca de uma esposa, e para tanto
envia para mais de cem moças húngaras que também se encontram no país em
recuperação cartas. Apenas algumas respondem, entre elas está Lili com quem se
corresponde por seis meses. Um amor vai nascer quando a esperança parece
perdida.
O enredo do livro não tem
mistério, sabemos desde o começo que o livro é um romance inspirado diretamente
nas cartas dos pais do autor, que quis recontar a história de amor dos pais.
Portanto já sabemos como tudo termina, mas mesmo assim a graça do livro está em
seu desenvolvimento, na luta diária dos dois para conseguir se encontrar a
primeira vez, para manter as correspondências mesmo quando mudam de lugar, e
depois como conseguem se casar.
A narrativa é feita em terceira
pessoa, de um modo muito direto e diferenciado, é um pouco cru eu diria, e é
intercalado por parágrafos das cartas de ambos, assim ao final temos uma visão
de conjunto do que ocorreu. E tanto Lili quanto Miklós tem uma inocência muito
marcante em seus atos e escritas. Gostaria muito que houvesse fotos dos
personagens, já que eles são reais, nem que fossem apenas na capa. Ou talvez
até fotos de algumas das cartas.
Lili é sonhadora, acaba por se
envolver nas cartas por passar tempo demais na cama devido a complicações
renais. Sua inocência é tamanha que nem percebe quando alguém muito próximo
está lhe traindo, e digo isso porque me dava nos nervos ver isso, especialmente
com alguém tão boazinha como ela. Ela foi capaz de se apaixonar por alguém que
tinha uma aparência machucada pela guerra (Miblós não tinha um dente, todos
foram arrancados nos campos), ou seja, ir além das aparências.
Miklós é muito determinado,
quando recebe do médico que tem apenas alguns meses de vida sua atitude é de
total descrença, ele simplesmente decide que vai se curar e que mais que isso
vai se casar e constituir uma família. Pode parecer que ele é mulherengo por
ter mandado tantas cartas, mas temos aqui uma inocência que hoje em dia é rara
de se ver. Ele move mundos e fundos para conseguir ficar com Lili.
O que achei mais incrível é que
os dois passaram por campos de concentração, foram privados de comida e
proteção, foram judiados, entre outras coisas, mas não alimentam em seus
corações ódio ou ressentimentos, embora em alguns momentos citem alguma memória
da época elas não são constantes, apenas marcam certos comportamentos deles.
Eles escolheram continuar vivendo, se reconstruir e se refazer mesmo depois do
que passaram, da saúde ruim que isso resultou, e de todos os contratempos. É
uma lição de vida!
O livro é breve e curtinho e pode
ser lido em um dia, mas não pense que por isso não vale a pena. É uma memória
real, e uma lição de como lidar com a vida quando ela te coloca contra parede
sucessivas vezes. A Febre do Amanhecer é um história de amor, e também de uma
guerra que deixou mais marcas do que hoje conseguimos nos lembrar!
Avaliação
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