Réquiem – Delírio #03 – Lauren Oliver

Antes da resenha, preciso comentar duas coisas: 1- Não há nenhum tipo de spoiler, nem deste e nem dos volumes anteriores (“Delírio” e “Pandemônio”). 2- Esta resenha está enorme, para quem não gosta de ler textos grandes, peço desculpas, mas não consegui me controlar e escrever menos. Hehehe E, para quem curte resenhas grandes, aventure-se! Espero que gostem!
Lena Haloway já foi uma garota que acreditava na cura para o amor, que achava que as pessoas seriam mais felizes sem a doença, podendo viver uma vida normal sem grandes contratempos. Até que o inevitável acontece pouco antes de ela ser curada: Lena se apaixona, contraindo, assim, amor deliria nervosa.
Sua vida, antes normal e pacata, muda da água para o vinho, ela vivia na segurança de seu lar em Portland, agora precisa buscar sobrevivência na Selva, junto com outros Inválidos, que é como são chamados aqueles que querem ser livres e são contra a repressão do governo e, portanto, vivem fora das cidades.
Depois de muitos acontecimentos e reviravoltas em sua vida e na de várias pessoas que conheceu pelo caminho, Lena faz parte de um movimento que está indo atrás de uma revolução para uma vida melhor para todos, inclusive e, principalmente, para os que foram infectados pelo amor. Mas será que seguir por este caminho vale a pena? Afinal, não terá mais volta.
Minhas expectativas estavam muito altas para este livro, mas vi tanta gente falando várias coisas tão negativas que estava certa de que eu não iria gostar nada, então acho que isso me ajudou na hora de ler de fato, porque eu não me decepcionei como estava com receio de acontecer. Pode não ter sido o final ideal que eu gostaria, só não achei assim tão ruim, pelo contrário, achei bem bom.
Sempre considerei a narrativa de Oliver maravilhosa e desta vez não foi diferente, ela tem toda uma forma de encantar e prender o leitor com uma escrita que é ao mesmo tempo poética e fluida, então a gente se envolve de um jeito que não dá vontade de parar de ler e lemos rápido até perceber que já chegamos ao final da leitura.
Gostei muito de poder acompanhar dois pontos de vista desta vez, já que a narrativa em primeira pessoa foi intercalada entre Lena e Hana, coisa inédita na trilogia. E, assim, pudemos acompanhar dois pontos extremos da história, com o lado da sociedade dentro das fronteiras da cidade de Portland, e também o lado de fora, com os Inválidos, passando por necessidades e dificuldades, que acabam levando à morte de muitos indivíduos que só queriam uma coisa: a liberdade de amar e fazer suas próprias escolhas.
Por conta desta possibilidade, pudemos acompanhar o que estava acontecendo com o lado rico e o pobre, com os curados e os não curados, com quem aderia a causa e quem tinha alguma ligação com os Inválidos. Além disso, a narrativa foi se encaixando perfeitamente mais para o final, então gostei muito de poder ver os dois lados de um mesmo acontecimento.
É interessante ver que as duas eram tão amigas, mesmo com todas as diferenças, e acabaram realmente seguindo por caminhos distintos, com visões de mundo e vidas bem opostas. Isso acontece normalmente em nossas vidas, mesmo com aquelas nossas amizades que acreditamos que vai durar para sempre, então achei esta uma parte bem realista da história.
Gosto muito da Lena desde o meio do primeiro livro e ainda gosto bastante dela aqui. Ela é forte e corajosa, mas tem seus problemas pessoais mesmo durante a ‘guerra’ em que está vivenciando, o que a torna mais humana. Ela não foge nunca diante das dificuldades, nem mesmo diante das mais arriscadas coisas, e isso é tão admirável. Lena vive em constante evolução desde seu primeiro aparecimento, na primeira página de Delírio, até a última folha de Réquiem e adorei poder acompanhá-la em todo este processo.
Apesar de existir um triângulo amoroso neste volume, que é o único da trilogia que ele fica em evidência (quem leu entende o porquê), eu não tinha nenhum candidato preferido como em outras histórias porque adoro igualmente os dois (o que é praticamente inédito para mim, culpa de Lauren Oliver), então não ia ficar triste com quem ela escolhesse. E, neste caso, acho que existe a justificativa de criar este triângulo por conta da história como um todo. Entendo os sentimentos de Lena por ambos e toda a sua confusão entre eles, afinal um representa o começo de tudo, o sacrifício e a luta dele por ela, a salvação de Lena, enquanto o outro a ajudou a seguir em frente, encontrar o amor novamente, mesmo quando não achou que isto seria possível, e quem ela salvou. E, mesmo não dando certeza absoluta, deu a entender quem ela iria escolher desde o começo de Réquiem e mais ainda no final, então estou satisfeita.
O texto de Oliver é muito inteligente e desperta as mais variadas emoções no leitor. Eu fiquei presa às páginas e a todo o seu raciocínio e suas considerações a respeito da perda da identidade e a luta pela liberdade que seus personagens representam. A iminência do conflito final por uma revolução social e política está bem aparente e, mais do que nunca, passamos muitos momentos com a tensão da guerra que está se aproximando, o que sempre esperei por ser uma distopia.
O livro também é cruel, mostra que o ser humano pode ser e é desprezível em muitos casos por conta de coisas bestas, preconceitos e afins. E isso é tão triste e decepcionante, mas também muito real, infelizmente. E confesso que, por ser o último livro de uma série distópica, estava esperando muito mais mortes relevantes, já que os autores têm costume de fazer isso, mas me surpreendeu de forma muito positiva que isso ocorreu com menos quantidade neste volume.
Li três contos que fazem parte desta série (só não li o Alex #3.5 ainda), mas que foram lançados apenas em e-book, sem tradução oficial da Intrínseca, pouco antes de começar a leitura deste volume. Então pude notar alguns erros de continuidade da autora em “Réquiem”, parece que ela se esqueceu do que tinha dito antes. E, mesmo comparando com os livros anteriores, acho que ela poderia ter prestado mais atenção aos detalhes para que informações relevantes que foram citadas neles realmente tivessem aparecido ou fizessem sentido aqui.
O conto de Graúna (Raven, que é o volume #2.5) foi finalizado com uma informação muito importante que eu estava esperando que fizesse parte e tivesse certa importância em Réquiem, mas parece que Lauren se esqueceu disso porque não foi citado uma única vez aqui, o que achei muito estranho. Para que vir com isso se não ia ser utilizado para nada?
Hana acabou revelando uma coisa terrível, que já tinha dado a entender no seu conto (Hana #1.5), e eu passei a detestar a personagem, mesmo que ela tenha meio que se redimido um pouco mais para o final. Porque, se não fosse por ela, Lena poderia não ter sofrido tanto e ter passado por tantas coisas absurdas, e elas eram melhores amigas.
Todo o enredo criado por Oliver é reflexivo. Este volume conseguiu ser ainda mais do que os anteriores, e também apresenta um ar mais otimista de que não devemos desistir mesmo quando tudo parece impossível, porque não sabemos o final daquilo, não sabemos o que o futuro nos reserva, então por que não tentar?
Também me fez refletir a respeito de uma coisa: a cura existe mesmo ou acreditar nela é que faz as pessoas mudarem e se moldarem ao que é desejado pelo governo? Porque, por medo de sofrer as consequências ruins e negativas, a pessoa acaba andando na linha.
E você, o que faria? Aceitaria a cura e viveria sem sua liberdade e sem amor, sem sua compaixão e as escolhas de seu íntimo; ou fugiria para a Selva, lutando para ser livre, para não deixar ninguém te controlar e você poder sentir o que precisa sentir, mesmo que para isso precise estar sempre buscando sobrevivência?
A história criada pela escritora é muito mais do que a vida pessoal dos personagens criados por ela, mesmo que seus sentimentos e conflitos não tenham sido deixados de lado, e seu intuito foi o de nos fazer pensar e enxergar por trás do que nos é imposto, nos incitando a lutar sempre por algo melhor, para sermos livres de verdade. Mesmo que a autora tenha optado por não finalizar a história, deu a entender algumas coisas que viriam a acontecer. Claro que poderia haver uma reviravolta e mudar tudo, então isso não me satisfez completamente, mas prefiro pensar que as coisas iam seguir como eu imagino.
Confesso que depois de terminada a leitura eu fiquei pensando por um tempo qual nota na minha avaliação final eu deveria dar para este livro. Mas conclui que vale quatro porque eu gostei de tudo o que foi desenvolvido do início até quase o final (exceto por alguns erros que me incomodaram, como vocês puderam conferir mais acima), fiquei presa na história, a trama conseguiu me surpreender em alguns momentos, teve ação, romance, reflexão e me senti viva lendo tudo aquilo.
"Os curados querem saber; nós escolhemos ter fé."
Agora eu até entendo a ideia da autora de ter deixado a história em aberto e com uma ideia de algo para o leitor refletir e, quem sabe, até mudar em sua própria vida, tal como a protagonista e todos aqueles personagens que escolheram não abaixar a cabeça diante das dificuldades ou quando outros queriam forçá-los a fazer isto, mesmo que não saibamos o que vem depois, o paraíso ou a destruição, já que o futuro é realmente incerto e não sabemos o que está por vir nunca.
Mas eu não concordo com sua atitude de ter feito isto com um livro de uma trilogia, ainda menos para esta história que poderia, sim, ser finalizada e ainda nos deixar com esta mesma mensagem inspiradora. O que mais me conforta com a falta do final conclusivo é que, às vezes, é melhor imaginar e ter a esperança de que algo bom viria a seguir do que ter que ler algo totalmente ruim que me fizesse odiar uma trilogia que eu tanto amo. E na minha finalização deu tudo certo e todos conseguiram conquistar o que queriam/pretendiam (principalmente as coisas boas).
Resta torcer para que a autora resolva não parar por aí e decida escrever mais um livro ou pelo menos um conto futuramente, contando o que aconteceu com os personagens depois de um tempo. Se eles conseguiram acabar com a repressão, a pobreza, a cura. Se continuaram vivos e amando, se ficaram felizes.
Eu adoro esta capa, que é igual às anteriores da trilogia só que com uma cor diferente, desta vez um azul mais forte e muito bonito, tornando-a minha capa preferida. Ainda é mais bela pessoalmente com o efeito metalizado, e as páginas são amarelas, ambos os detalhes seguindo o padrão dos anteriores também. Assim como a diagramação interna, que é simples com as mesmas tipografias dos outros livros, e com a fonte do texto não muito grande, mas que não afeta minha leitura e um ótimo espaçamento.
O piloto (primeiro capítulo) da série de TV baseada na trilogia, que seria produzida pela FOX, mas foi rejeitada pela mesma antes mesmo de ir ao ar, vai ser exibido por tempo limitado no site de streaming Hulu, o que é muito legal porque eu vi o trailer e parece que vai ser ótimo. Uma pena que eu não vou poder assistir, a menos que vaze por aí (o que eu espero que aconteça hahaha) e que a série provavelmente não vá para frente, porque eu realmente gostaria de vê-la por inteiro.
A distopia criada por Lauren Oliver é original no conteúdo, por se tratar de uma cura para o sentimento mais bonito que existe, o amor. E ela conseguiu construir um plano de fundo perfeito para tudo o que gostaria de transmitir para o leitor, e o fez de uma maneira forte, emocionante e intensa, que foi evoluindo a cada volume. Realmente recomendo esta trilogia a todos, mas quando lerem saibam que ela escolheu não finalizar a história dos seus personagens, apenas deixou o leitor refletir sobre questões que são importantes e que, com certeza, vão fazer algumas pessoas pensarem. 
Avaliação



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3 comentários:

  1. Ó Deus! Eu preciso ler o segundo e este livro! Eu amei a narrativa da autora e a distopia que ela criou! Ainda me pego pensando na história e nos personagens! rsrsrsrsr
    Adorei sua resenha! Vc conseguiu passar seus sentimentos qto ao enredo para ela e isso só me deixou mais curiosa!

    bjo bjo^^

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  2. Minha nossa..sou apaixonada por essa trilogia..ela é linda,envolvente, muito bem escrita...preciso ler esse final e pelo que li em sua fiquei muito curiosa pra saber que final é ese.
    Preciso desse livro urgentemente.
    parabéns pela resenha
    bjs

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  3. Resenha muuuuito bem escrita!
    Adorei os dois primeiros livros da série, mas muitos comentários negativos sobre o final me desanimaram... Mas, definitivamente irei finalizar esta trilogia! Amo a narrativa da Lauren, e entendo porque ela não fecha todos os pontos das suas histórias (Antes que eu vá), já estou ansiosa novamente!

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