A mente do ser humano é um
labirinto de mistérios, pouco a usamos, e quem a usa de maneira peculiar é tido
como fora da regra. Siga o procedimento, estude, case-se e tenha filhos, e
claro não se esqueça de ter amigos e ser uma pessoa legal. Qualquer coisa fora
da cartilha 'gera' síndromes, patologias e comportamentos perturbadores. O
autismo é um modo de existir que foge a essas regras, em seu modo mais severo é
pouco compreendido pelo especialistas, em seu modo mais brando, conhecido como
Síndrome de Aspenger é mais incômodo ainda porque é o individuo que socializa o
suficiente para perturbar, já que ele é capaz de coisas que os ditos normais
não são capazes de fazer sem muito esforço. É sobre alguém que trilhou outros
caminhos que O Menino que Desenhava Monstros, do autor Keith Donohue, pela
Darkside Books, trabalha.
Jack Peter é um menino de dez
anos, ele mora com seus pais na casa dos sonhos a beira mar em um pequeno
vilarejo na costa do Maine. No inverno o local fica mais isolado do que nunca,
e quando este pequeno garoto começa falar e desenhar monstros, seus pais a principio
não dão muita atenção, mas quando ruídos inexplicáveis e situações estranhas
começam a se acumular começam a perceber que algo ameaçador está lá fora
querendo entrar.
Donohue faz sua narrativa em
terceira pessoa de maneira perturbadora, são 252 páginas de suspense e
expectativa de que algo surja da noite e acabe com a calmaria da família.
Muitas são as pistas deixadas ao longo do caminho, e foram muitas as teorias
que criei para explicar o que estava acontecendo. No fim parte da conclusão não
foi surpresa, existe um episódio do seriado Arquivo X com teoria similar, mas
parte foi inesperada e não desvendada por quem vos escreve.
O clima do Maine é propício a
boas estórias, Stephen King não a toa mora naquelas terras. E nosso autor em
questão soube bem como explorar o isolamento e o frio crescente que o inverno
trás consigo. Entretanto o desenrolar dos fatos e ações é um pouco demorado
demais, e assim o leitor passa muito tempo em suspenso, na expectativa de que
algo aconteça ou se explique.
Em muitos momentos eu fiquei em
dúvida se era apenas JP que era o estranho, ou se seus pais também não estavam
fora da casinha. As vezes eu achava que ele era o único que conhecia a
realidade como era. As vezes atribuía os acontecimentos ao padre e sua governanta.
O fato é que passamos páginas e mais páginas tentando compreender afinal quem é
o são, e se não estamos enlouquecendo um pouquinho com cada um deles. O teor
psicológico é carregado, JP não é só um garoto com Aspenger, é alguém com uma
estória de quase morte no passado e desenvolveu como qualquer outra pessoa pode
desenvolver, a agorafobia (medo de ficar sozinho em grandes espaços). Seus pais
não são só pais de um menino diferente, mas um casal que abriu mão dos sonhos
quando o filho precisou mais do que eles podiam dar.
Ainda temos Nick, melhor amigo de
JP, que também é um garoto estranho e com problemas familiares. Seus pais estão
em crise no casamento, ambos são amigos dos pais de JP, e as estórias de ambos
começam antes do nascimento dos dois meninos. A governanta do padre é um
personagem interessante, e trás um pouco da mitologia japonesa para a trama. É
breve e pontual, mas trás um pequeno diferencial.
O destaque como em todos os
livros da Darkside é para essa edição cuidadosa que consegue transmitir em sua
diagramação e ilustrações o clima do livro. Suas páginas finais são espaços em
branco para que o leitor conte seus próprios monstros através de desenhos
evocados pelos sentimentos descritos em cada página.
Os direitos do livro já foram
comprados para uma produção cinematográfica, e devo dizer ele tem tudo para
funcionar, visto que foi fácil visualizar a estória nas telas do cinema. Em
alguns momentos parece que foi escrito com esta intenção.
O Menino que Desenhava Monstros é
uma estória sobre fatos que acontecem todos os dias em lares pelo mundo, ao
mesmo tempo em que trás a luz da vida os monstros que vivem em cada um de nós.
Nós somos assim tão diferentes? Somos capazes de apontar para quem é diferente
e dizer que nós somos os certos enquanto eles que estão no caminho errado? Ou
nós que somos limitados e não conseguimos ver outras cores do espectro da luz?
Avaliação
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