A primeira coisa que é preciso
compreender é que aqui o inútil se refere a tudo aquilo que não tem um fim
utilitarista, ou seja, gere lucro. A utilidade dos saberes inúteis contrapõe-se
radicalmente à utilidade dominante que tem um interesse apenas econômico, e com
isso está aos poucos sufocando as disciplinas humanas, as línguas clássicas, a
educação, as memórias do passado, a livre pesquisa, a arte, a fantasia, o
pensamento crítico e o horizonte civil que deveria inspirar a conduta humana.
A partir deste pensamento uma
ferramenta vale mais que um quadro, uma sinfonia ou poesia, em vista que
compreender o uso e utilidade de um martelo por exemplo é fácil, já compreender
a utilidade das manifestações artísticas demandam mais tempo e conhecimento.
Para engrossar sua tese Ordine
evoca ao longo do livro grandes filósofos, pensadores e escritores não só
falando de suas obras como também se referindo a citações e pensamentos a respeito do inútil que já ocupa a mente de
filósofos desde a época grega. Seu ensaio é dividido em três partes, sendo a
primeira parte a útil inutilidade da literatura, a segunda os efeitos
desastrosos pela lógica do lucro no campo da educação, da pesquisa e das
atividades culturas, e por fim na terceira parte são releituras de clássicos
como exemplos elucidativos de seus efeitos na dignidade humana, no amor e na
verdade.
"um mundo sem literatura se
transformaria num mundo sem desejos, sem ideais, sem obediência, um mundo de
autômatos privados daquilo que torna humano um ser humano: a capacidade de sair
de si mesmo e de se transformar em outro, em outros, modelados pela argila dos
sonhos" ( Mario Vargas Llosa, pág.20).
Ordine acredita que a literatura
pode assumir uma forma de resistência ao mundo capitalista que visa apenas
lucro e egoísmo, já que sua existência chama atenção para a gratuidade e para o
desinteresse, valores que são contra corrente atual. Em seus breves textos
sobre autores, por exemplo, Charles Dickens é citado como o autor que melhor
demonstrou a guerra declarada a fantasia em nome dos fatos e do utilitarismo.
Os textos da segunda parte
intitulada: A Universidade-empresa e os estudantes-clientes são ótimos e
revelam que a crise na educação não é apenas no Brasil, claro que quando
falamos de uma educação fraca brasileira me refiro a ter escolas, professores e
por último a qualidade destes; na Europa, Canadá e EUA a parte física parece
não ser o problema, Nuccio enumera diversos fatos sobre a perda da capacidade
de pesquisa, de pensamento crítico e da frustração, já que os alunos que pagam
querem ver resultados rápidos sem que para isso tenham que passar por
avaliações que podem vir a repeti-los de ano, e pior do que os pagantes que querem
resultados é o governo italiano, por exemplo, que exige o mesmo das
universidades mesmo que com isso estas tenham que diminuir sua qualidade de
ensino e exigência para permitir que os alunos passem com mais facilidade.
Concordo com o autor quando ele
diz que poucos se preocupam com a qualidade da pesquisa e do ensino, já que ao
se separar pesquisa de ensino os cursos que derivam deste pensamento são
repetições de informações muitas vezes ultrapassadas e de que pode ser
inclusive superficial. Podemos citar como exemplo recente sobre isso a
quantidades de alunos de medicina no Brasil que foram reprovados em seus exames
de residência, eu não obtive em mãos o real motivo sobre isso, mas é fácil
pensar: se você sai de um colegial fraco, passa anos estudando repetição para
passar em um vestibular, depois mais anos decorando partes do corpo e
procedimentos, quando finalmente um paciente surge na sua frente a memória
falha, é preciso assimilar, compreender e ser capaz de pensamento crítico para
aprender, para conseguir colocar as informações juntas de maneira eficiente e
que faça sentido. Decorar não é aprender, decorar é enganar a si mesmo, por
isso as provas atuais, e inclusive o vestibular ao meu ver são métodos
ultrapassados de medir a capacidade dos alunos.
"A ausência do supérfluo e
os constantes esforços que cada indivíduo realiza para alcançar o bem-estar fazem
predominar no coração do homem o gosto pelo útil acima do amor a belo. Numa
sociedade marcada pelo utilitarismo, os homens acabam por amar as belezas
fáceis, que não exigem esforços nem excessiva perda de tempo". (pág.114)
A Utilidade do Inútil é meu conselho
literário , leia-o e reflita qual o papel cada coisa tem em sua vida, você dá
valor as coisas certas, consegue enxergar a beleza das palavras e as pinceladas
de um quadro, ou apenas está preocupado com o modelo de carro que está usando?
Afinal os bens que possuímos não serão levados na morte, mas a poesia, os bons
momentos de leitura e a arte que inspira na pintura e na música pode ser
carregada para sempre na memória!
Avaliação
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