Volta e meia aceito um convite
inusitado para leitura de um livro que nunca compraria. Faço isso porque corro
risco de conhecer bons autores e boas obras que de outra maneira não seriam
possíveis, faço também pela experiência que a leitura propicia, toda leitura é
um tijolinho novo na minha parede de referências e conhecimento. Meu tijolo
novo é Abandonado, escrito por Vinícius Pinheiro e publicado pela Geração
Editorial.
Nesta trama conhecemos Alberto
Franco, um adulto jovem que está tentando encontrar seu lugar na vida em meio a
oportunidades jornalísticas e roteiros de cinema. Seu universo se revira quando
esbarra com Clara Bernardes, uma jovem atriz sedutora que o convida a adaptar
um livro paras telas do cinema, ao mesmo tempo em que invade sua rotina na
cama. Tentando sobreviver ao relacionamento e as constantes interações com a
vidente Carmem, Franco não sabe o que fazer para conseguir Clara ao mesmo tempo
em que sua carreira se desenvolve, será que ele será capaz de lidar com suas
sombras?
Escrever a sinopse deste livro
não é tarefa fácil, embora possamos identificar uma trama central não é
exatamente sobre ela que o livro fala, mas sim de uma narrativa feita em
primeira pessoa e direcionada a uma terceira pessoa que é descoberta na reta
final do livro. Franco narra seu encontro com Clara e as desventuras em série
que se dão depois disso. Mas mais do que um homem azarado e com sorte (sim ele
é essa dualidade) trata-se de um menino que não cresceu e não consegue a boneca
que escolheu.
Alberto Franco é como um satélite
que foi sugado por um enorme planeta (Clara) e não sabe fazer outra coisa que
não girar ao redor de sua órbita. Sua personalidade é perturbada e isso só
piora com o tempo. Ele sabe que possui talento para a escrita, mas não a leva a
sério, já que suas conquistas são vistas com naturalidade. Ao mesmo tempo em
que não se acha capaz dos desafios que lhe são propostos, os faz com uma naturalidade
que chega beirar a inocência (caso de um texto sobre futebol que ele produz),
sem perder de vista o sarcasmo e a ironia.
Clara é uma jovem que não mede
esforços para decolar em sua carreira, seja ficando nua em tempo integral em um
filme, seja enganando pessoas para o laboratório de seu personagem. Ela tem o
dinheiro de sua família, e a cidade de São Paulo como seu playground. Os homens
são objetos que a divertem mas que não a prende, e ela não consegue perceber a
dimensão de seus atos, mesmo quando culminam em situações ruins para si mesmo.
É tão perturbada quanto Franco, talvez por isso eles juntos sejam uma explosão
perigosa.
Outros coadjuvantes são os amigos
de república de Franco que pouco aparecem mas que muito afetam sua vida. Alguns
funcionários do jornal, local de trabalho de Franco, trabalham em um realidade
jornalística doente e sem ética. Por fim uma vidente, Carmen, que parece tudo
saber e nada dizer e que é o fio que amarra todos os personagens no que ela
acredita estar previamente escrito.
O desfecho da história é
perturbador, e a loucura é quem toma a frente de tudo. A obsessão do personagem
por Clara toma proporções que eu não esperava e talvez este seja um destaque do
livro, já que o envolvimento na leitura acaba fazendo perder de vista que o
personagem simplesmente enlouqueceu!
Abandonado soa facilmente como um
filme alternativo que termina com uma sensação perturbadora, com personagens
extremamente humanos e densos que nos perturbam por fazer da realidade uma
banalidade insana onde o que existe é a vontade de cada ego em vencer, seja no
trabalho, no amor ou na própria loucura.
"No fundo, todos ali,
incluindo agora minha cunhada grávida, não passavam de figurantes
desnecessários na própria vida de cada um" (Pág. 83)
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