Tigana, A Lâmina na Alma #01 -Guy Gavriel Kay


Eu adoro conhecer um pouco sobre a vida dos autores, porque é frequente que a vida que eles tiveram e levam se encontre no meio de suas palavras. Um dia esbarrei em uma breve biografia do autor Guy Gavriel Kay, e fiquei sabendo que ele tinha auxiliado na publicação de O Simarillion de Tolkien, claro não preciso de mais nada para querer ler o livro dele! Quando Tigana - A Lâmina na Alma - Livro I, publicado pela Saída de Emergência chegou até mim, eu cai de cabeça na sua leitura!

Era uma vez um mundo onde a paz reinava, cada pedacinho de terra existia sem que ninguém os oprimissem, mas chegou um dia em que dois magos resolveram que queriam conquistar territórios e para tanto devastaram terras, famílias, cultura e a história de cada um destes lugares. Agora ele disputam quem tem mais poder e terras, e em meio a eles as pessoas tentam sobreviver.

Um deles é o jovem músico Devin d'Asoli que se apresenta com sua trupe itinerante pelas cidades, até que em uma apresentação durante o velório de um duque ele descobre a verdade sobre sua origem e uma nova missão para o seu futuro. Ao mesmo tempo Dianora di Certando está em meio a seu plano de vingança contra aquele que destruiu sua família, mas quando o coração fala mais alto que a razão seu destino pode acabar mudando.

Tigana é daquelas obras que não cabe em uma sinopse, especialmente porque a narrativa de Kay feita em terceira pessoa sob o olhar de diversos personagens, com maior frequência sob a ótica de Devin e Dianora, não segue os cursos normais e esperados de uma fantasia, menos ainda como a feita por Tolkien como poderia se esperar depois de ele ter trabalhado com a obra do mestre. A estória não é linear, ou seja, primeiro acompanhamos dois pontos de vista de um momento, primeiro com Devin e a descoberta sobre seu passado, seguido da estória do passado de Dianora que a levou a querer se vingar, o tempo passa alguns meses e voltamos a acompanhar Devian e na sequência Dianora nesse futuro breve.

O fato da narrativa seguir desta forma permite que liguemos os fatos de forma curiosa e aos poucos podemos descobrir quem é quem, e qual a relação que cada um deles têm com cada personagem. Devo dizer que a fantasia em si é fraca, eu esperava por mais, ela se limita a sabermos que existem magos, e uma ou outra citação de feitiço, mas nada de grandes cenas mágicas ou menos ainda de criaturas fantásticas. E isso foi o motivo de minha frustração com a obra.

Outro ponto que para mim soou falho foram as descrições, já que é de praxe em altas fantasias o excesso de descrições tanto de locais como de personagens. Logo não consegui visualizar os locais como inspirados na Itália renascentista como foi indicado pelo editor, faltaram elementos para isso.

Devin é um jovem muito astuto, não sofre muito pelo que deixou para trás já que não conseguia encontrar o seu lugar junto ao pai e irmãos. A música é sua zona de conforto, assim como sua ótima memória. Quando é convidado na missão de revolta contra os tiranos a aceita sem hesitação, e passa a desenvolver a capacidade de encenar qualquer coisa que necessite.

Dianora tinha uma bela família, e não passava necessidades, quando teve seu território invadido viu seu pai morrer, seu irmão partir e sua mãe enlouquecer, não teve assim outra maneira de viver senão para se vingar, foi assim que ela conseguiu elaborar seu luto. Mas essa vingança tão certa e premeditada talvez possa não acontecer, ou se enrolar quando ela passa a desenvolver sentimentos por quem não deveria. Ela é muito determinada e não chora pelo que deve ser feito, apenas faz! Segue as regras do jogo para chegar onde quer.
Alessan, o príncipe de Tigana é muito vivaz, tem nobreza mas é antes de tudo um homem com uma missão. Assim pode acabar se perdendo na moral, passando por cima de algumas vidas e princípios. Catriana companheira da trupe e depois do grupo de revolta, esconde dentro de si a capacidade de amar e ter amigos, assim passa boa parte do tempo amargurada e fechada. Baerd, amigo de Alessan é misterioso, quando conhecemos sua estória é de partir o coração, assim como os demais não tem mais uma terra para chamar de sua.

A edição brasileira conta no final de suas páginas com um posfácio exclusivo feito pelo autor. Nele ele explica um pouco de seu objetivo com o livro, e suas referências, e isso faz muita diferença na hora de compreender o livro. Segundo Kay, Tigana é um romance sobre memória, sua necessidade, em termos culturais, e os perigos de quando é muito intensa. E de fato a memória é a peça chave em toda a estória e o objetivo maior do grupo de revolta. A ideia de desaparecer na memória das pessoas é mais desesperadora para todos eles do que desaparecer fisicamente.


Tigana é um livro de fantasia que foge do lugar comum que livros como este costumam seguir. Trabalha mais com elementos culturais e sociológicos do que com a ação em si, e por isso tem seu valor. No exterior este livro foi lançado em um volume único, aqui no Brasil ele foi dividido em dois volumes, o segundo A Voz da Vingança já foi publicado por aqui pela saída de emergência. Mais uma vez a editora dividiu um volume que eu acredito que não precisava de ser separado, no caso de Mago fez com que o livro perdesse qualidade, no caso de Tigana apenas não teve um desfecho com um bom gancho.

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3 comentários:

  1. A premissa desse livro e muito bacana, a forma como e descrita, de forma criativa, o personagem me pareceu bastante amargurado e ver a forma como ele lida com essa situação deixa a trama envolvente. Fiquei curiosa para saber o que acontece nesse livro. Essa obra vai com certeza para a lista de desejados.

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  2. Não tive a chance de ler ainda. Adorei ler a sinopse e a resenha dele. Fiquei bem empolgada com a leitura da sua resenha. Não esperava ser assim tão envolvente. A trama tem cara de ser muito viciante e amo temas deste tipo. vou ver se consigo ler também.
    Beijos.

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  3. Já tinha visto a capa do outro livro mas não tinha me interessado muito por ele.Agora li sua resenha e realmente gostaria muito de ler esse e o anterior, pois parece-me que são excelentes.

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