Era uma vez um mundo onde a paz
reinava, cada pedacinho de terra existia sem que ninguém os oprimissem, mas
chegou um dia em que dois magos resolveram que queriam conquistar territórios e
para tanto devastaram terras, famílias, cultura e a história de cada um destes
lugares. Agora ele disputam quem tem mais poder e terras, e em meio a eles as
pessoas tentam sobreviver.
Um deles é o jovem músico Devin
d'Asoli que se apresenta com sua trupe itinerante pelas cidades, até que em uma
apresentação durante o velório de um duque ele descobre a verdade sobre sua
origem e uma nova missão para o seu futuro. Ao mesmo tempo Dianora di Certando está
em meio a seu plano de vingança contra aquele que destruiu sua família, mas
quando o coração fala mais alto que a razão seu destino pode acabar mudando.
Tigana é daquelas obras que não
cabe em uma sinopse, especialmente porque a narrativa de Kay feita em terceira
pessoa sob o olhar de diversos personagens, com maior frequência sob a ótica de
Devin e Dianora, não segue os cursos normais e esperados de uma fantasia, menos
ainda como a feita por Tolkien como poderia se esperar depois de ele ter
trabalhado com a obra do mestre. A estória não é linear, ou seja, primeiro acompanhamos
dois pontos de vista de um momento, primeiro com Devin e a descoberta sobre seu
passado, seguido da estória do passado de Dianora que a levou a querer se
vingar, o tempo passa alguns meses e voltamos a acompanhar Devian e na
sequência Dianora nesse futuro breve.
O fato da narrativa seguir desta
forma permite que liguemos os fatos de forma curiosa e aos poucos podemos
descobrir quem é quem, e qual a relação que cada um deles têm com cada
personagem. Devo dizer que a fantasia em si é fraca, eu esperava por mais, ela
se limita a sabermos que existem magos, e uma ou outra citação de feitiço, mas
nada de grandes cenas mágicas ou menos ainda de criaturas fantásticas. E isso
foi o motivo de minha frustração com a obra.
Outro ponto que para mim soou
falho foram as descrições, já que é de praxe em altas fantasias o excesso de
descrições tanto de locais como de personagens. Logo não consegui visualizar os
locais como inspirados na Itália renascentista como foi indicado pelo editor,
faltaram elementos para isso.
Devin é um jovem muito astuto,
não sofre muito pelo que deixou para trás já que não conseguia encontrar o seu
lugar junto ao pai e irmãos. A música é sua zona de conforto, assim como sua
ótima memória. Quando é convidado na missão de revolta contra os tiranos a
aceita sem hesitação, e passa a desenvolver a capacidade de encenar qualquer
coisa que necessite.
Dianora tinha uma bela família, e
não passava necessidades, quando teve seu território invadido viu seu pai
morrer, seu irmão partir e sua mãe enlouquecer, não teve assim outra maneira de
viver senão para se vingar, foi assim que ela conseguiu elaborar seu luto. Mas
essa vingança tão certa e premeditada talvez possa não acontecer, ou se enrolar
quando ela passa a desenvolver sentimentos por quem não deveria. Ela é muito
determinada e não chora pelo que deve ser feito, apenas faz! Segue as regras do
jogo para chegar onde quer.
Alessan, o príncipe de Tigana é
muito vivaz, tem nobreza mas é antes de tudo um homem com uma missão. Assim
pode acabar se perdendo na moral, passando por cima de algumas vidas e
princípios. Catriana companheira da trupe e depois do grupo de revolta, esconde
dentro de si a capacidade de amar e ter amigos, assim passa boa parte do tempo
amargurada e fechada. Baerd, amigo de Alessan é misterioso, quando conhecemos
sua estória é de partir o coração, assim como os demais não tem mais uma terra
para chamar de sua.
A edição brasileira conta no
final de suas páginas com um posfácio exclusivo feito pelo autor. Nele ele
explica um pouco de seu objetivo com o livro, e suas referências, e isso faz
muita diferença na hora de compreender o livro. Segundo Kay, Tigana é um
romance sobre memória, sua necessidade, em termos culturais, e os perigos de
quando é muito intensa. E de fato a memória é a peça chave em toda a estória e
o objetivo maior do grupo de revolta. A ideia de desaparecer na memória das
pessoas é mais desesperadora para todos eles do que desaparecer fisicamente.
Tigana é um livro de fantasia que
foge do lugar comum que livros como este costumam seguir. Trabalha mais com
elementos culturais e sociológicos do que com a ação em si, e por isso tem seu
valor. No exterior este livro foi lançado em um volume único, aqui no Brasil
ele foi dividido em dois volumes, o segundo A Voz da Vingança já foi publicado
por aqui pela saída de emergência. Mais uma vez a editora dividiu um volume que
eu acredito que não precisava de ser separado, no caso de Mago fez com que o
livro perdesse qualidade, no caso de Tigana apenas não teve um desfecho com um
bom gancho.
Avaliação
A premissa desse livro e muito bacana, a forma como e descrita, de forma criativa, o personagem me pareceu bastante amargurado e ver a forma como ele lida com essa situação deixa a trama envolvente. Fiquei curiosa para saber o que acontece nesse livro. Essa obra vai com certeza para a lista de desejados.
ResponderExcluirNão tive a chance de ler ainda. Adorei ler a sinopse e a resenha dele. Fiquei bem empolgada com a leitura da sua resenha. Não esperava ser assim tão envolvente. A trama tem cara de ser muito viciante e amo temas deste tipo. vou ver se consigo ler também.
ResponderExcluirBeijos.
Já tinha visto a capa do outro livro mas não tinha me interessado muito por ele.Agora li sua resenha e realmente gostaria muito de ler esse e o anterior, pois parece-me que são excelentes.
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