Ficções - Jorge Luis Borges - Parte 02


Seguimos com a resenha de Ficções, do autor Jorge Luis Borges, publicado aqui no Brasil pela editora Companhia das Letras. Nesta segunda parte da resenha do livro abarca a parte do livro intitulada Artifícios, que foi publicada originalmente em 1944.

O primeiro conto é Funes o Memorioso que após um acidente não consegue mais se esquecer do que vê ou aprende, mas com uma falha ele não é mais capaz de ter pensamentos de generalização, por exemplo ele não é capaz de entender que cachorros de raças diferentes fazem parte do grupo da raça canina, ele os enxerga de forma individual. É narrado por um escritor argentino que se propõe a contar seu breve contato com Funes, primeiro quando este ainda era jovem e depois em um único momento depois do acidente que modifica seu cérebro, na casa do mesmo quando ele vai até lá buscar por um livro que emprestou.  Borges diz que este conto é uma alegoria da insônia, ele escreve no conto " Para ele, dormir era muito difícil. Dormir é distrair-se do mundo;...".

Segue com o conto A Forma da Espada, com dois narradores em primeira pessoa, primeiro narrado pelo Borges, supostamente o autor mesmo, depois a palavra é passada para o senhor que ele encontra e resolve contar a ele a estória da cicatriz que tem em seu rosto. O desfecho é inesperado e muito interessante! Depois surge o conto O tema do Traidor e do herói, que é bem curto, é outro conto onde ele é o narrador, e a temática é a independência irlandesa. O personagem principal é Ryan que quer descobrir mais sobre a morte de seu avó Fergus Kilpatrick. Durante suas pesquisas ele descobri paralelos da estória com a estória de Júlio César e com elementos da literatura.

Em A Morte e a Bússola, temos um conto policial, que é por sinal meu conto favorito de todo o livro. Acompanhamos dois policiais tentando desvendar uma série de mortes, que juntos começam a especular os possíveis motivos do crime. O judaísmo é citado, já que o primeiro morto é um rabino e escritor de diversos livros do tema.  O desfecho como já é recorrente do Borges não é o esperado.

Um escritor judaico é preso em Praga na segunda guerra mundial, durante sua prisão ele está escrevendo, e ao mesmo tempo deliberando sobre a sua morte. De repente ele se dá conta de que o tempo que lhe resta não é suficiente para o término do livro dramático que ele deseja,  e assim ele barganha com Deus por mais um ano para terminar sua obra e redimir sua carreira literária, essa é a premissa do conto O Milagre Secreto. Esta narrativa de Borges trabalha o tempo, alias tema muito explorado de discutido por Borges de formas muito diversas. O realismo fantástico é muito presente neste conto.

O conto Três Versões de Judas tem como objetivo analisar os estudos heresiáticos do autor Nils Runeberg, autor este que reinterpreta os papéis de Judas. Não gosto da temática, o que já seria suficiente para não gostar do conto, mas fora isso ele é confuso, especialmente para mim que não sabe coisa alguma da bíblia! Já o conto O Fim, é bastante inusitado já que o ângulo da estória é sob o ponto de vista de um dono de um bar que se encontra imobilizado em uma cama, e é a partir dele que conhecemos a estória de sua doença e também um episódio que se desenvolve em seu bar.

A Seita da Fênix é breve, e em suas breves palavras Borges discorre sobre um culto antigo, com segredos que não são revelados, e que seriam praticados por sociedades secretas. No último conto do livro O Sul, o protagonista é Juan Dalhmann, que após se empolgar com a aquisição do livro Mil e Uma Noites acaba por ferir sua própria cabeça, mas o que parecia um ferimento corriqueiro quase o mata depois de uma infecção. Depois de passar por maus bocados, ele se recupera e ao sair do hospital parte para uma clínica para se recuperar, mas sua jornada parece terminar de maneira nada esperada.

Falando mais sobre a narrativa do Borges de forma geral ele tem alguns temas muito recorrentes em seus contos como o labirinto que é frequentemente citado no meio das suas narrativas sem viso prévio, o xadrez que é usado como metáfora, os livros e bibliotecas que parecem ser fundamentais nesse universo borgiano e por fim o fato do próprio Borges ser o narrador, ou figura ocular de seus contos. No fim parece que ele transforma sua realidade em contos como um modo de lidar como ela, a elaborar, com reflexões, críticas e modificações que talvez ele achasse que fossem interessantes. A leitura parecia um quadro surrealista com diversas camadas e significados, dos mais óbvios até os mais ocultos.

Ficções é um livro para gente grande, e não para quem apenas quer lê-lo, mais do que desejo ele exige habilidade. Espero que daqui alguns anos eu retome o livro, e seja capaz de entender um pouco daquilo que não foi dito, porque honestamente saio dessa leitura com a sensação de impotência, de não ter sido capaz de entender o que ele gostaria em cada um de seus contos. Mas volta a dizer leia Borges em algum momento de sua vida, vale a leitura!

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Um comentário:

  1. Realmente esse tipo de leitura requer um certo conhecimento para se entender nas entrelinhas, o que o autor que realmente dizer, e confesso que não tenho essa preparação, porém tenho bastante curiosidade de leitura, mas como mesma disse não é só ler, tem que entender completamente o que as palavras querem nos dizer. Talvez que sabe futuramente tenho essa capacidade, e por isso quero um dia dar uma chance essa leitura, que pareceu ser sensacional, além de nos trazer algo enriquecedor.

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