As vezes o universo é engraçado,
semana passada eu tinha acabado de ler o livro Ficções do Borges, ou seja uma
leitura densa, e estava buscando pela minha estante uma leitura leve, mas tudo
que eu esbarrava era de alguma forma reflexivo ou denso, então olhei para o
livro O Ano da Leitura Mágica, da autora Nina Sankovitch, publicado pela
editora Leya, e achei que seria o que eu precisava, mas como disse o universo
tem suas ironias...
Nina perde sua irmã rapidamente
depois da mesma descobrir um câncer, inconformada com a perda ela procura por uma
saída para voltar para vida. Os anos que se seguem ela vive intensamente por
ela e pela irmã que se foi, mas percebe que não estava lidando com a perda, e
sim vivendo uma vida de exageros, assim Nina se volta para sua paixão desde que
se conhece por gente, os livros! Ela se desafia a ler um livro por dia, durante
um ano e assim encontrar a sua vida novamente.
Este não é um livro de ficção, é
uma narrativa em primeira pessoa biográfica, que a autora conta em detalhes
sobre seu luto, assim ao mesmo tempo em que temos parágrafos e mais parágrafos
de livros, autores e estórias sobre como eles chegaram até Nina, temos tantas
linhas quanto sobre a irmã, tanto de quando esta era viva, quanto em relação ao
que ela sente sobre sua morte.
O luto é um processo lento,
dolorido, e que tem suas fases para elaboração: mais exatamente, primeiro a Negação,
Sankovitch passou anos sem compreender porque uma mulher de apenas 46 anos
morreu de forma tão rápida quando tinha tanto a viver e a acrescentar ao mundo,
mais que isso ela se pergunta porque não foi ela quem morreu e sua irmã quem
ficou, e essa raiva e revolta é a segunda fase do processo.
Depois vem a barganha, e no caso
da autora ela se deu através de seu pensamento mágico de que um dia chegaria em
casa e encontraria a irmã de volta, e que ela poderia voltar a abraçá-la. É
quando a depressão se instaurou, a quarta fase, é que ela se deu conta que
precisava fazer algo por si mesma, já que havia passado dois anos e suas
tentativas não tinham dado conta de viver o luto. E foi através dos livros,
durantes esses 365 dias e livros que ela conseguiu enfim aceitar, no último
estágio que conclui a elaboração do luto.
"Leituras no presente, memórias no passado, sabedoria no
futuro." (pg 48) Essa frase resume bem o que é o livro, já que ela
escolhe alguns livros para comentar como em uma resenha, faz paralelos a sua
vida presente e resgata momentos de seu passado, não só de sua infância, como
também da história de vida dos pais e avós que eram europeus, e viveram as
dores e perdas da guerra.
Mas o que soa interessante acabou
maçante porque Nina passa mais da metade do livro se culpando por continuar
viva, pedindo perdão por isso, por não ter podido dividir o fardo do câncer com
a irmã. Demora muito para a elaboração começar, mesmo que desde o primeiro
livro, A Elegância do Ouriço, ela consiga racionalmente tirar toda a sabedoria
e aprendizado, ela demora muito a agir na sua vida de forma saudável. O cérebro
dela conseguia saber tudo que precisava fazer, mas o coração não acompanhava!
Quando finalmente ela consegue se
permitir aceitar a morte da irmã, ela percebe através dos que sofrem nos
livros, seja por guerra, perda de um ente querido ou algo similar que todos
sofrem, por perdas também, e que estas pessoas também tinham alegrias. É a
partir desta identificação que ela elabora o luto, não pelos muitos amigos e
parentes que a consolaram, mas pelas palavras dos personagens que encontrou,
pois ela se sentiu conectada por emoções comuns.
Esse livro é uma jornada através
de muitas vidas que se entrelaçam na vida de Nina, e nos livros que ela lê. É
interessante que ela não deixou de viver sua vida, já que ela têm quatro filhos
e não trabalha para cuidar deles. Ao contrário ela se propôs durante todo este
tempo a ler livros entre 250/300 páginas, com o tempo isso acaba aumentando!, e
mais que isso fazer resenhas diárias no site que ela criou para compartilhar
suas experiências de leitura.
São muitas as lições,
conhecimento e sabedoria compartilhado por Sankovitch em seu livro, mas
infelizmente seu livro acabou um pouco cansativo na leitura pela sua maneira de
lidar com a vida. Se você é um bookaholic é leitura obrigatória, pois é raro
ver alguém com tamanha paixão como ela por livros, sem eles ela já teria
sucumbido a vida muito antes da irmã falecer. Também indico para aqueles que
perderam alguém, ou precisam de inspiração para mudanças na vida.
O Ano da Leitura Mágica é sobre
como os livros nos permitem elaborar a vida, porque ao contrário do que muitos
pensam ler não é fugir da realidade, mas sim mergulhar nela de forma mais
intensa e intima. É se expor consigo mesmo a medos, alegrias e tristezas tendo
como consolo personagens e universos que as vezes parecem tão distantes, mas
que tem seres tão humanos como nós.
"Quem dá o livro não está exatamente expondo a alma para uma
rápida olhada, mas quando o entrega com o comentário de que é um de seus
preferidos, está muito próximo de expô-la. Somos aquilo que gostamos de ler e
quando admitimos que adoramos um livro, admitimos que este livro representa
verdadeiramente algum aspecto do nosso ser, seja de sermos loucos por romance,
ou por aventura, ou secretamente fascinados por crimes" (pg. 99)
Avaliação
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