Cordeluna – Élia Barceló

Em “Cordeluna” somos transportados para o século XI para acompanhar a história de Sancho Ramírez, um guerreiro muito honrado que seguiu seu senhor, Dom Rodrigo, ao desterro quando este foi acusado injustamente de roubo pelo Rei Alfonso. Quando estava indo embora, seu pai lhe presenteou com uma espada muito poderosa, Cordeluna, e seguiu com ela para as batalhas que precisaria enfrentar dali para  frente, quando conquistaria riquezas e territórios com os outros cavaleiros de Dom Rodrigo.
Em uma de suas viagens, ao olhar para uma jovem dama em um bosque de sorveiras, se vê apaixonado por ela imediatamente, e seu interesse é recíproco. Mas a garota é dona Guiomar, a jovem Condessa de Penãlba, enteada de Dona Brianda, mulher que tinha ficado viúva do Conde e nutria um interesse enorme por Sancho. Então eles ainda não podiam ficar juntos, afinal ela pertencia à nobreza enquanto ele era apenas um guerreiro. Mas isto não impede os dois de lutarem para terem uma união tão bela quanto o amor que sentem um pelo outro, precisando se afastar até que possam, enfim, ficar juntos por toda a eternidade.
Mas o interesse de dona Brianda virou obsessão e, ao descobrir que o amor de Sancho não lhe pertence, e sim a sua enteada, faz de tudo, buscando, inclusive, magia negra, para acabar com a felicidade do casal, lançando uma grande maldição que vai trazer consigo muita tragédia, dificuldades e tristeza para os dois jovens.
A maldição poderá ser quebrada, mas passam anos e séculos e mesmo se reencontrando, eles se perdem novamente por conta do ciúme e do ódio doentio que aquela mulher nutriu por eles.

Até que agora, no século XXI, com a última chance deste mal finalmente ser vencido, vamos acompanhar um grupo de jovens e talentosos atores que participarão de um projeto de âmbito nacional importante sobre a Idade Média, mais precisamente sobre a vida de Dom Rodrigo, também conhecido como El Cid. Para isto, o responsável pelo projeto seleciona somente os melhores estudantes de oficinas e institutos de teatro, que ficarão hospedados em um mosteiro reconvertido, onde ocorreriam os ensaios para a montagem da peça teatral que depois também iria ser transformada em documentário. Lá eles ficarão isolados do mundo e sem poder utilizar tecnologias, como celulares e internet, e passarão a usar as roupas da época para entrar no clima da produção.
É neste ambiente que conheceremos Glória e Sérgio, dois dos jovens atores que, quando se olham pela primeira vez, sabem que foi amor à primeira vista, mesmo que nenhum dos dois queira acreditar que isto realmente seja possível. Mas, conforme eles passam a se conhecer cada vez melhor, os sentimentos ficam ainda mais fortes e eles simplesmente sabem que foram feitos um para o outro. Mas nem tudo será normal, já que uma das monitoras, Bárbara, com quem ele ficou antes de chegar ao local, logo começa a nutrir sentimentos fortes pelo garoto, que rapidamente se transformam em obsessão e ela não aceitará ser trocada por Glória de jeito nenhum.
É a história de amor de Sancho e Guiomar acontecendo toda de novo. E, sem saber, eles começam a ter pesadelos bem reais e assustadores, e, junto com um grupo de novos amigos leais, precisam descobrir o que está acontecendo e uma maneira de acabar com tudo antes que seja tarde demais novamente.

Eu, particularmente, adoro casais e histórias de amor e, quando vi que este livro trazia uma história de almas gêmeas, sabia que precisava ler. E já queria lê-lo há um bom tempo e minhas expectativas estavam bem altas, porque só tinha visto pessoas elogiando a obra. Então ela só poderia ser realmente muito boa para que eu gostasse de verdade, e não é que conseguiu me conquistar mesmo? Fiquei apaixonada pela obra escrita por Élia Barceló e acredito que aqueles que gostam deste tipo de leitura, com certeza também vão ficar encantados.
A narrativa está em terceira pessoa e não foca em apenas um personagem e, sim, em vários deles, além de mudar constantemente de época, ora acompanhando os jovens do século XI, ora seguindo os do século XXI. Achei ótima a forma de escrita da autora porque, assim, pudemos conhecer muito bem absolutamente todos os personagens importantes, seus pensamentos e sentimentos, o que e como tudo o que estavam vivendo afetava-os individualmente.
Essa forma de narrar nos deu uma visão ampla de todo o cenário e tudo o que estava acontecendo nas duas histórias e como elas se entrelaçaram. Foi maravilhoso poder acompanhar de perto os sentimentos conflitantes de cada personagem do século atual sobre o que estava sentindo, já que muitas daquelas coisas não eram usuais ou esperadas por eles, sendo algo mais espiritual, então houve questionamentos pertinentes enquanto tentavam entender o que estava havendo.

Gostei muito de todos os personagens, exceto pelos “vilões”, Dona Brianda e mestre Ludovico, mas sei que sem eles a história não poderia existir. E não conseguiria escolher apenas um dos demais como meu preferido, já que todos os principais estão ocupando um pedacinho do meu coração, tanto os do século XI, quanto os do século XXI.
Outro detalhe importante é que a história está bem rica em detalhes e descrições, fazendo com que a gente visualize os cenários com facilidade, aflorando ainda mais o sentimento de estar “dentro das páginas”.
A escrita da autora é muito gostosa, envolvente e intrigante, além de nos deixar tensos e atentos, e nos encher de expectativas para saber o que vai acontecer no final, torcendo para que, desta vez, dê tudo certo na vida de nossos protagonistas. Esta foi a minha primeira experiência com algo escrito por Barceló e agora fiquei com vontade de conhecer outras de suas obras.

Ainda sobre a escrita, a autora modificou a linguagem utilizada nos dois tempos, ou seja, quando estávamos nos tempos atuais, as pessoas conversavam de forma fácil e se dirigindo aos outros informalmente e de maneira simples, quando éramos transportados para a Idade Média, o uso da segunda pessoa, tanto do singular como do plural foi mostrado, assim como o tratamento mais formal, com as pessoas se dirigindo às outras mais superficialmente, como era antigamente. Achei este recurso ótimo para nos situar ainda melhor nos tempos, mas confesso que, como não estou acostumada, a leitura do passado era um pouco mais arrastada.
A trama também foi muito bem montada, desenvolvida e explicada. E intercalar os dois momentos fez com que descobríssemos cada coisa no tempo certo, já que os personagens antigos iam vivendo aquilo, enquanto os atuais descobriam mais detalhes. Usar religião, batalhas e magia, misturadas para interligar os acontecimentos também foi outro ponto do qual gostei demais, porque deu um bom pano de fundo, ligando realidade e fantasia de maneira incrível.
Também é fácil perceber que Élia pesquisou bastante sobre aquela época e acontecimentos históricos para poder usá-los como plano de fundo da sua história de amor que dura séculos. Já podemos notar isto bastante conforme a leitura vai sendo desenvolvida e vamos conhecendo cada vez mais sobre as coisas do século XI, mas depois que a história do livro termina também há um posfácio explicando um pouco mais sobre esta parte da Idade Média, sobre territórios e batalhas, inclusive tem uns mapas dos domínios cristãos e mulçumanos na península ibérica para nos situar melhor no que foi explicado.

Só fiquei triste e irritada com um ponto do livro, mas não porque ele é ruim ou algo do tipo, é só porque eu prefiro coisas felizes e teve uma cena dramática que me deixou com o coração em pedaços e eu estava mesmo pensando que antes de dar tão errado, daria pelo menos mais uma coisa meio certa, mas não foi o que aconteceu, infelizmente, então fiquei desolada.
Quando enfim sabemos o que acontece com a maldição, as consequências se dão de uma forma que eu achei um pouco confusa, porque pensei que fosse uma coisa mais espiritual, com relação à encarnação, mas acabou não sendo exatamente assim, só não entendi então se havia algo do tipo coabitantes. Não que isso tenha atrapalhado em nada, mas a autora poderia ter explicado este ponto um pouco melhor.
A Editora Biruta, como sempre, está de parabéns pelo trabalho gráfico deste livro. A começar pela capa, que é linda e combina com o conteúdo, em um tom de azul incrível. A fonte e os espaçamentos estão com tamanhos ótimos para uma leitura bem confortável, e a tipografia da capa, que também foi escolhida para a primeira letra de todo início de capítulo, passa o clima da época. Além disso, existem várias ilustrações lindíssimas em diversas folhas, os traços estão em preto e o fundo no mesmo tom de azul da capa. O único ponto que eu não gostei é que um capítulo termina e o próximo já começa na mesma página.

Também adorei o título que pode parecer simples, mas tem todo um significado, já que é o nome da espada que Sancho ganha e que vai ter muita importância na história.
Acho que este livro não precisa ser considerado infantojuvenil, eu na verdade colocaria uma faixa etária especial para ele: todas as idades. Afinal, uma história tão bela e gostosa de acompanhar merece ser lida dos mais novos até os mais velhos, porque todos vão se encantar de formas diferentes, mas com a mesma intensidade.
Se você busca um livro maravilhoso, sensível e intenso, que possui personagens incríveis, intercalando guerreiros e damas com jovens da atualidade do século XXI, magia, religião e espiritismo, além de drama, maldade e um enredo que sabe misturar realidade e fantasia com maestria, uma linda história de amor de almas gêmeas que transpõe séculos e muitas vidas, e se você curte História, principalmente de um século bem atrás, como o XI, então pode parar de procurar, porque acaba de encontrar Cordeluna. Super recomendado!
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