A Garota dos Pés de Vidro - Ali Shaw

Na minha cabeça existem três estilos de história, a primeira e mais comum, são as contemporâneas, são como crônicas dentro da realidade mesmo com a fantasia como parceira; a segunda remete aos contos de fadas, que criam realidades fabulosas, destoando de qualquer coisa conhecida; e por fim a terceira que namora com as fábulas, e disso que se trata A Garota dos Pés de Vidro, da autora Ali Shaw, da Leya.

Ou seja, este livro é como um novelo de lã que você vai soltando a cada capítulo, cada nó desfeito é um universo que se coloca diante do leitor. Um nó é Midas, um jovem fotógrafo que trabalha em uma floricultura, e que por si só já valeria livros e livros. Ele só consegue enxergar o mundo através da lente de sua câmera, e seu pai mesmo morto o assombra em cada pensamento e atitude, tio Freud ia amar fazer uma análise de anos com ele. Ou seja, ele me encantou com seus traumas e complexos, mas os mesmos com certeza rendem muita irritação a quem lê!

O outro nó é Ida, uma jovem aventureira que se encontra por acaso com Midas na floresta e que passa a desenvolver uma amizade e carinho com este. Mas ela esconde um segredo debaixo de suas enormes botas, seus pés estão se transformando em vidro, e ela está na ilha para tentar se curar.

Tudo isso se passa no arquipélago de Saint Hauda's Land, que ao longo do livro é extremamente descrito, mas que confesso tive dificuldade em imaginar, um mapa ajudaria diante de tantos cenários. Como cenário ainda existem vacas diminutas com asas, uma criatura que transforma tudo que vê em branco e o espetáculo de luzes das águas- vivas.

Tudo estaria muito 'fácil' se a história se ocupasse apenas de resolver o problema de Ida. Na verdade seu problema é como um pano de fundo para o drama dos personagens. Midas tem que enfrentar sua timidez e enfrentar o pai que ainda existe dentro de si, ao mesmo tempo em que se vê diante de conhecer o passado de sua mãe tanto com o pai quanto com Henry Fuwa, personagem secundário, mas com uma personalidade peculiar.

Ainda atravessa seu caminho Carl Maulsen, amigo de Ida, ex-companheiro de trabalho de seu pai, que também trás seus problemas para junto de Ida. Midas conta com a ajuda de Gustav, seu melhor e único amigo, e de sua filha Denver, uma encantadora menina que depois da morte de sua mãe é tão introspectiva quanto Midas.

Narrado em terceira pessoa, cada vez sob a perspectiva de um dos personagens, a história vai se costurando e formando uma trama fantástica, mas que ao mesmo tempo muito se aproxima de uma realidade possível. Se você aguarda por um história com começo, meio e fim, não vai encontrar, trata-se de um recorte da vida dos personagens, que busca refletir a respeito de seus conflitos, e assim como a vida não tem um fim.

A capa conta com acabamento em verniz, e reflete o frio e a tristeza que acompanha a história. A diagramação é simples, mas tem um detalhe que me incomodou, a fala dos personagens vem entre aspas, como é costume no inglês. No Brasil estamos acostumados com o travessão, ele é muito eficiente por sinal, porque muitas vezes me via perdida entre as falas e a narração.

Se você está se perguntando se gostei do livro, a resposta é sim, mas é um gostar incomodado, como quando você descobre uma verdade incomoda. O livro trata de aspectos inconscientes da vida cotidiana, trata daquilo que varremos para baixo do tapete e ao mesmo tempo do pouco tempo que temos para limpar ou deixar sujo. Como em uma fábula, a moral da história é viver sem medo de ser feliz, porque amanhã o vidro pode lhe tomar o que você nem sabia o que lhe era sagrado!


"...Uma vez ele disse que as personalidades de uma pessoa durante a vida são como roupas usadas durante um dia, colocadas para preservar a dignidade ou proteger do clima. Ele disse que era possível desvendar uma pessoa dessa forma..." (Pág.206)

Curiosidade: Ali Shaw nasceu em 1982 e cresceu na pequena cidade de Dorset, Inglaterra. Ele estudou Inglês e Literatura e Escrita Criativa na Universidade de Lancaster, e desde então tem trabalhado como vendedor de livros na Bodleian Library de Oxford. Agora está finalizando seu segundo romance.





Avaliação













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5 comentários:

  1. Oie! Nossa amo a capa desse livro! E estou louca para lê-lo!
    Bjs, se puder comentar nesse post ajudará muito:
    http://resenhasteen.blogspot.com.br/2014/09/dark-house.html
    Nay =D

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  2. Olá,
    estou curiosa a cerca deste livro vamos ver como corre...http://diariosdeumadesconhecidacomilona.blogspot.pt/

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  3. Faz tempo que esse livro me chamou atenção e depois de ler a sua resenha voltei a me lembrar dele! Acho que vou colocar mais pro início da lista de leituras! Ótima resenha!
    Samara - www.infinitoslivros.com

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  4. Oi Bruna!

    Acho que eu leria este livro só pela capa! É linda demais! Claro que, depois de ler sua resenha, fiquei mais doida ainda pelo livro, acho que nunca li nada assim, então, claro que ele vai para minha listinha de desejados!

    bjo bjo^^

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  5. Nos últimos tempos tenho escolhido quase todos os meus livros pela capa .. Quase que não precisei ler a resenha desse !
    Mesmo lendo, me conquistou ! Às vezes uma nota que não é a "máxima" chega a ser um desafio pra mim !

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