Depois que
uma grande parte da população foi dizimada por um vírus, e alguns seres humanos
retornaram da morte, o mundo não é mais o mesmo. Wren, nossa protagonista, é do
Texas e há anos, desde que reinicializou depois de 178 minutos, vive e trabalha
para uma organização denominada CRAH, Corporação de Repovoamento e Avanço
Humano. Todos a conhecem pelo seu alto número, que a coloca na posição de mais
forte, mais rápida e mais letal de sua unidade, e também a que mantém a menor
porcentagem de humanidade e sentimentos humanos dentre todos ali.
Mas tudo
muda quando um 22 chega ao local para treinamento, despertando o interesse de
Wren. Ela é uma das responsáveis por treinar novatos e sempre escolhe os
maiores números para isto, mas desta vez algo se modifica dentro dela, que opta
por treinar Callum. E, junto com ele e suas divagações e questionamentos, nossa
durona 178 começa a indagar muitas coisas que vivenciou até aquele momento.
Quando um
grande perigo começa a fazer parte da realidade de Callum e de sua vida, os (novos
e desconhecidos) sentimentos e dúvidas de Wren fazem com que ela perceba que precisará
mover-se para salvá-lo antes que seja tarde demais.
Antes de
começar a leitura, acreditei que a protagonista realmente não tinha sentimentos
por ninguém, era super fria e não se importava com nada, etc. Mas, logo no
começo, percebi que a sinopse deixa a gente imaginar algo que não é verdade,
porque não há absolutamente um momento em que eu tenha visto Wren assim. Ela
podia não ter muitas ligações fortes com alguém em especial, mas eu vi isto
mais como a forma como o meio em que vive e as situações que enfrentou que
fizessem com que parecesse que ela era distante emocionalmente das coisas e
pessoas. E isto ficou ainda mais evidente com a aparição de Callum, já que ela
não conseguia controlar seus sentimentos em relação a ele.
Então, quem
não gosta de romances ou protagonistas que ficam suspirando pelo garoto que irá
se tornar seu par romântico no futuro da história, provavelmente vai se
incomodar bastante com Wren, porque não teve um momento sequer, desde a entrada
de Callum, que ela tenha deixado de notar algo em sua aparência ou
personalidade que tenha chamado sua atenção. Então podemos acompanhar suas
divagações a respeito dele em muitos momentos, até o final do livro.
A leitura,
portanto, é bem romântica até, então quem busca obras sem casais e coisas
relacionadas pode acabar se incomodando com esta questão que acabou ganhando
bastante destaque. Não estou dizendo que teve mais importância do que o resto,
mas diria que as questões ficaram bastante equilibradas entre romance, movimentação
dos personagens e da trama, e distopia.
Gostei
bastante da Wren, exceto quando ela divagava com frequência sobre o Callum (e
olha que eu adoro romances!), principalmente por causa da sua força interna e
também a externa, porque a menina é pequena e não aparenta ser ameaçadora, mas
na verdade é bastante badass, e acho isso
ainda mais admirável. E curti bastante conhecer seu lado durão e também o
frágil e questionador. Gosto quando os personagens são construídos para parecer
uma coisa, mas na verdade são muito mais do que aquilo que aparentam.
Apesar de
não ter gostado de todas as características de Callum, gostei do personagem de
uma forma geral (não posso negar que ele é fofo) e da importância que ele teve
na trama. Afinal, se não fosse por seus questionamentos e seu lado humano
bastante aflorado, Wren provavelmente ficaria estagnada naquela posição para
sempre, como esteve por todos aqueles anos. E eu também curti bastante a
interação entre os dois, porque, enquanto ela era mais fria e calculista, ele
era todo sentimental e sonhador. Estas e outras diferenças fizeram com que a
interação e romance entre eles ficassem mais equilibrados e interessantes.
A narrativa
da autora é gostosa e explicativa por partes, ou seja, somos bem introduzidos
ao mundo que criou, mas só pela visão da protagonista, então só sabemos o que
ela sabe, e aprendemos sobre o mundo como ele é no momento, mas não exatamente
como chegaram àquele ponto.
Há bastante
ação e também momentos mais calmos. E, mesmo quando acreditei que ficaria tudo
mais parado até o final, a autora me surpreendeu não deixando que as coisas se
desenrolassem devagar, e colocou muitos acontecimentos e cenas ainda mais ágeis
perto do desfecho.
Curti a
parte distópica da trama, pois, mesmo sendo semelhante aos demais do gênero,
acaba se diferenciando bastante nos detalhes. O modo como a autora construiu
seus personagens, como um tipo diferente e mais humano de zumbis, e os utilizou
como arma na mão de uma organização que, inclusive, manipula-os
psicologicamente, mesmo sendo eles mais fortes e “abomináveis” do que os
humanos, é realmente muito interessante.
A morte
neste caso acaba sendo uma evolução da raça humana, já que eles ficam mais
fortes e até invencíveis em algumas situações, levando em consideração que se
curam rapidamente quando levam tiros, facadas ou tem membros quebrados, e nem
ficam doentes. Curti como a autora fez a relação destes “seres superiores” com
outros humanos, já que, na verdade, voltar a viver seja motivo de serem
desprezados por muitos vivos, enquanto outros têm medo e alguns são neutros.
A trama é
ágil, mesmo contendo pontos explicativos, direta, e a narrativa flui muito bem,
então mesmo com pouco tempo com a obra em mãos, a leitura é avançada
rapidamente, sempre nos deixando com um gostinho de quero mais.
Digamos que
este volume tem um progresso mais centrado, porque os personagens passam por
diversas situações, enfrentam várias reviravoltas, mas no fim chegam aonde
pretendiam, ou, melhor, onde o leitor imagina que vão chegar, então o término
do livro em si não é uma grande surpresa, apesar de ter sido ótimo mesmo assim.
O desfecho é
fechado e aberto ao mesmo tempo, pois há um tipo de finalização para este
volume, mas ainda ficamos com muitas pontas abertas com coisas não resolvidas e
também com novas situações que se desenrolaram, principalmente quando foi
chegando ao fim, e abrindo, assim, um grande leque de possibilidades para o que
vem por aí no próximo e último livro da duologia, que, acredito eu, deve ter
mais ação.
A capa é
simples, mas gosto bastante dela porque, além de nos deixar curiosos a respeito
do conteúdo da obra, simboliza, mesmo que de forma sutil, a história. Ou seja,
desperta meu interesse sem revelar muita coisa. A diagramação interna é bem
feita, com fonte e espaçamentos em tamanhos confortáveis para uma leitura sem
incômodos, além de contar com páginas amarelas.
Se você
curte distopias do gênero jovem adulto, acredito que também vai aprovar a
estreia de Amy Tintera na literatura. Só aconselho que comece a leitura sabendo
que o romance também ganha bastante destaque na trama. Recomendado!
Avaliação
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