Era o ano de
1162, durante o reinado de Henrique II, quando dois viajantes percorriam um
longo caminho até a floresta de Sherwood, no condado de Nottingham, carregando
um bebê. Com uma história inventada, eles deixam a criança sob os cuidados do
guarda-florestal Gilbert Head e sua esposa, a bondosa Marguerite. Sem saber as
origens verdadeiras do menino, ele passa a viver com seus pais adotivos com o
nome de Robin Hood.
Depois de
passados quinze anos e o garoto, agora um adolescente de dezesseis anos,
bastante carismático e extremamente habilidoso com o arco e flecha, além de
muito bom com o cajado e a espada também, vive na casa na floresta, bem alegre e
arteiro. Até que vê dois jovens serem atacados e busca ajudá-los, pois não
gosta de injustiças. Depois de salvá-los, hospeda-os na casa de seu pai, que
também ajuda o homem que tentava acertar os dois sem saber disso. Muitas
confusões são geradas e descobrimos a verdadeira origem de Robin e o motivo de
Allan Clare e sua irmã Marian, por quem ele logo nutre sentimentos, terem
sofrido um quase atentado. Auxiliando Allan numa jornada em busca de sua amada,
Robin Hood acaba se metendo em muitas confusões ao mesmo tempo em que descobre
um novo e poderoso inimigo, o lorde e barão xerife de Nottingham, Fitz-Alwine.
Passado mais alguns anos e muitos acontecimentos, alguns deles terríveis e desoladores, e
conquistando mais amigos do que inimigos no meio do caminho, Robin Hood passa
por novas situações e torna-se um proscrito, sem casa ou família, e vai viver
no meio da floresta com seus fieis amigos. A partir daí, ele vira o líder do
bando e começa a convidar viajantes ricos e normandos que passam por Sherwood
para um banquete, do qual eles só podem se ausentar depois de pagar inúmeras
quantias de dinheiro, que são distribuídas para os pobres.
Sua fama de
herói está plantada e não há quem não conheça o proscrito Robin Hood ou seu bando
dos alegres homens da floresta, que se tornam o temor dos ricos e dos
normandos. Em suas buscas por justiça e igualdade, eles vão viver grandes
aventuras e proporcionar momentos de pura diversão e outros de intensa aflição
aos leitores, enquanto conhecemos outros emblemáticos personagens e a história
de amor de Robin e daquela jovem que conheceu anos atrás por conta do destino,
lady Marian.
Tentei
explicar a história dos dois volumes sobre Robin Hood contidos nesta edição de
forma breve e sem spoilers, o que acaba sendo um pouco difícil porque muita
coisa acontece e a maioria delas é interligada com as outras, então tive que
ter um cuidado redobrado para não contar mais do que deveria, e espero ter
feito um bom trabalho.
Eu já
conhecia o nome e a fama de Robin Hood muito tempo antes de saber da existência
de livros sobre ele, já que este é um daqueles nomes importantes que carregam
uma grande fama por gerações, mesmo que muitas das pessoas não tenham lido nada
ou assistido alguma adaptação para filme, teatro, TV, músicas, etc., de sua
história. Mas, de um tempo para cá, tenho tentado ler mais clássicos, o que,
confesso, não fazia com tanta frequência alguns anos atrás. E Robin Hood é
um do que eu mais tinha interesse em conhecer a fundo e, agora que o fiz, posso
afirmar que estou complemente apaixonada e queria mais, muito mais.
Da reputação
que seu nome trazia, eu sabia que Robin Hood e seu bando viviam na floresta e
tiravam dos ricos para dar aos pobres e que ele é um exímio arqueiro. Mas não
sabia que não havia sido sempre assim (a parte de viver na floresta, porque ele
sempre foi um excelente arqueiro), só que no primeiro volume contido neste
exemplar, “O Príncipe dos Ladrões”, vamos conhecer um Robin ainda bebê, depois
bem novinho, ainda na adolescência, para enfrentar diversas situações e
aventuras e que, só depois de ter se tornado um proscrito, é que ele foi mesmo
viver na floresta e conquistou esta fama de tirar dos ricos para dar aos
pobres, o que só ocorre bem no final do livro um e ganha muito mais força no
livro dois, “Robin Hood, o Proscrito”, que passa inteiramente neste seu novo
estilo de vida.
A escrita de
Dumas é extremamente gostosa, divertida e envolvente. A linguagem do seu texto
é simples e repleta de diálogos, facilitando a fluidez da leitura ao mesmo
tempo em que nos puxa para dentro dela, prendendo facilmente a nossa atenção.
Sabe aquele tipo de livro que a gente vai lendo de um jeito que não conseguimos
largar o exemplar e ainda damos gargalhadas no meio do caminho? Então, este
volume é exatamente assim.
Gostei
demais dos personagens que o autor nos apresentou. Todos os importantes são incrivelmente
carismáticos, simpáticos, bondosos, divertidos e, o melhor de tudo, bem
atrevidos e não aceitam imposições ou repreendas, nem se rebaixam por alguma
coisa, nem mesmo para alguém superior. E olha que naquela época isso acabava
sendo terrível, podendo levá-los a serem presos e/ou até mesmo mortos por
desrespeito. Então era uma característica que eu não esperava encontrar, que,
por estar ali presente me surpreendeu e me fez rir diversas vezes.
Robin Hood é
um protagonista fantástico e corajoso, dono de uma personalidade
agradabilíssima e bastante sociável, tanto que vira amigo de muitos e
conquista a lealdade de todos eles com facilidade. Ele não nega um pedido de
ajuda ou hesita na hora de socorrer a qualquer pessoa. Não guarda rancor e nem
busca vingança ou retaliação, por mais que alguém tenha feito mal a ele ou a
seus entes ou amigos queridos. Não existe pessoa com melhor coração do que
Robin Hood. Ele é contra a crueldade e agressão física e sempre tenta recorrer
a métodos pacifistas para ajudar os demais, a menos que a violência não possa
ser evitada. E, aí, é melhor sair de perto, porque a flecha de Robin nunca erra
o alvo, pelo contrário, acerta com uma precisão que poucos conseguem.
“Este
benfeitor é um nobre proscrito, protetor dos pobres, sustento dos infelizes,
vingador dos oprimidos. Esse homem é Robin Hood.”
Conhecemos
inúmeros personagens ao longo das duas histórias, mas os que tiveram maior
destaque, além do protagonista, foram João Pequeno, Will Escarlate, Marian,
Maude, Allan Clare, Christabel, frei Tuck, Halbert, Gilbert, e o odioso Lorde
Fitz-Alwine.
Com certeza
Robin é um personagem admirável e um dos meus preferidos, como já comentei mais
acima, mas não poderia dizer que ele é o único, já que todos os principais me
conquistaram com suas particularidades e maneiras de ser. Mas confesso que além
de Robin, João Pequeno é meu outro preferido. Todo aquele tamanho guardava um
coração igualmente enorme ao de seu melhor amigo e uma lealdade como nenhum
outro.
Acredito que
posso considerar o barão Fitz-Alwine como o grande vilão da trama, já que
muitas das coisas ou situações ruins que nossos queridos personagens tiveram
que enfrentar acabaram tendo alguma ligação direta ou indireta com este homem
terrível que no lugar do coração só há pedra.
Um ponto que
achei extremamente interessante é a narrativa de Dumas. Em terceira pessoa,
acompanhando diversos pontos da história, sendo que em cada momento um
personagem ou um grupo deles ganha o foco, e nós temos uma visão bastante ampla
dos acontecimentos, ao mesmo tempo em que podemos conhecer bem os sentimentos
dos mesmos. E ele conversa com o leitor de uma maneira honesta e que desperta a
curiosidade ao mesmo tempo. Por exemplo, quando os personagens se separam e o
foco fica em alguns deles, enquanto os outros saem de cena, o narrador incita
nossa dúvida a respeito do que pode ter acontecido com os demais, nos pedindo
para esperar mais um pouco para sabermos o que de fato ocorreu, então a gente
sempre quer continuar indo em frente para sanar nossas curiosidades o tempo
todo.
O enredo das
duas histórias reúne características variadas, conquistando com facilidade
diversos tipos de leitores. Além dos personagens incríveis, que já comentei e
que são o grande destaque de tudo, há lutas, romance, perigo, tensão, diversão,
amizade, lealdade, e ainda é cheio de reviravoltas, o que deixa o texto mais
rico, ágil e envolvente.
A trama é
totalmente ambientada na Inglaterra dos séculos XII e XIII (mais ou menos entre
os anos de 1160 e 1220) e até hoje alguns locais do país tem nomes relacionados
a Robin e sua história, mesmo que não seja necessariamente comprovada a
autenticidade da relação, como a árvore do ponto de encontro.
Algumas
questões são bastante trabalhadas a todo o momento por Dumas, entre elas a
relação saxões x normandos, que acaba dando uma ênfase na positividade do
primeiro grupo e da negatividade do segundo, e a fé, que também é bastante
citada em diversos pontos da obra, já que são todos cristãos fervorosos. E eu
achei a segunda história mais leve e positiva do que a primeira na maior parte
do tempo, apesar de o final ter ganhado um teor mais triste, melancólico e até
sanguinário.
Este livro é
absolutamente fantástico e estou até agora com o coração doendo por conta do
final. É muito difícil eu chorar com leituras, mas minhas lágrimas não puderam
ser contidas com a finalização deste volume, que é arrebatador. Lindo e
absolutamente triste ao mesmo tempo.
Robin Hood
não foi criado por Alexandre Dumas, que tão pouco inventou o mito do
personagem, que já era conhecido na Inglaterra da tradição oral, através de
lendas, canções, etc., e sua história ou sua fama era citada na forma escrita por
muitos autores, inclusive Shakespeare. Só que, por mais que as informações
pareçam plausíveis e verdadeiras, não há documentos ou outros tipos de provas
materiais que comprovem a autenticidade delas. Mesmo assim, Dumas romanceou as
aventuras do famoso outlaw e, “com
seu toque de gênio, ele soube globalizar um personagem que até então era
incapaz de atravessar os mares no sentido oposto ao dos invasores, tanto
normandos quanto, antes deles, saxões e romanos. Sem Dumas, Robin Hood não
estaria tão presente em nosso imaginário”.
A edição que
li é da famosa coleção Clássicos Zahar, e contem as duas histórias escritas por
Dumas, que foram publicados postumamente, em 1872 e 1873. Gosto muito destas
edições da Editora Zahar, principalmente as que são comentadas, porque as notas
são riquíssimas de conteúdo, situando-nos melhor em cada detalhe do período,
inclusive a respeito dos nomes de pessoas importantes da época, e também sobre
o próprio texto, para relembrarmos algum ponto anterior ou até explicando
certas particularidades que o próprio Dumas acabava se confundindo em alguns
momentos e dando informações divergentes sobre um mesmo assunto.
No texto de
apresentação, Jorge Bastos, tradutor e também responsável pelas notas presentes
na obra, nos introduz na história de Robin Hood e nos apresenta uma breve biografia de Dumas, dando ênfase à escrita do autor e o período em que ele
escreveu Robin Hood, pouco antes de falecer. Mas aconselho que este texto seja
lido depois dos dois volumes, “O Príncipe dos Ladrões” e “Robin Hood, o
Proscrito”, porque há spoilers para quem não conhece tão bem as histórias.
Uma
curiosidade encontrada em seu texto e que eu não tinha conhecimento é que a
silhueta de Robin Hood foi, em 2010, inserida na bandeira do condado inglês de
Nottingham, pois ele é o maior atrativo turístico da região. Inclusive há
passeios para turistas conhecerem a caverna onde supostamente os alegres homens
da floresta viveram e o carvalho multicentenário major oak, onde o grupo se reunia. E também há um festival anual em
homenagem ao outlaw.
Aqui em casa
todo mundo já virou fã de Dumas, e eu ainda não tinha lido nenhuma de suas
obras, então não podia indicar algo escrito pelo autor. Mas esta com toda a
certeza do mundo foi uma das minhas melhores leituras do ano até o momento e
estou muito, muito contente por finalmente ter lido alguma obra dele para poder
saber indicá-la com propriedade aos demais leitores. E mais ainda por poder
afirmar que agora eu também estou na fila de admiradores do seu trabalho.
A Zahar é
uma editoras que possui algumas das edições de clássicos mais bonitas já
publicadas no Brasil. Esta de Robin Hood é uma das minhas preferidas, com capa
dura e adoro a ilustração dela, mesmo que eu goste de absolutamente todas as
outras. A folha de guarda também é ilustrada com fechas brancas em um fundo
laranja, muito linda! A fonte e o espaçamento do miolo estão em
tamanhos confortáveis para uma leitura tranquila, e o texto traduzido por
Bastos ficou realmente bem fluido e gostoso, devido a uma linguagem mais fácil.
Robin Hood,
João Pequeno, Will Escarlate, lady Marian, os alegres homens da floresta, e
muitos outros conquistaram meu amor com sua bondade e as aventuras que
vivenciaram, sempre buscando justiça e igualdade. Já estou com saudades deste
cenário e destes personagens tão adoráveis e, como uma das minhas leituras
prediletas do ano (e até da vida), não poderia deixar de recomendar para todos
que também querem ser flechados bem no coração por este encantador herói.
Avaliação
Gosto muito da escrita do Dumas ,Os 3 mosqueteiros dele é maravilhoso , e acredito que esse volume também não decepciona , dá p ver pelas fotos que a diagramação dele é ótima e pela resenha vejo que o autor foi bem fiel ao mostrar a lenda do Robin Hood, super curti , ótima resenha :D
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