Fazem muitos anos que quero ler
Raphael Draccon, mas demorou até que eu conseguisse a trilogia Dragões do Éter,
entretanto não foi pela famosa saga de livros dele que eu conheci a narrativa
deste autor brasileiro, foi sim através de seu mais novo lançamento pela
editora Rocco, O Coletor de Espíritos.
Gualter Handam é um famoso
psicólogo de celebridades, é bem sucedido e tem tudo que lutou para conseguir.
Depois de quase morrer em um acidente de carro ele sente que algo está fora do
lugar. Ele recebe então uma ligação de sua família dizendo que sua mãe quase
faleceu. Ele se vê obrigado a voltar para pequena cidade que nasceu Véu-Vale,
onde nada é como em qualquer outra parte do mundo. A luz elétrica não chegou e
os terceiros dias de chuva são especialmente temidos. Mas essa volta vai marcar
uma nova jornada na vida deste homem que deixou tantos círculos abertos que
perdeu até a noção de quem é. Será que ele será capaz de sobreviver a esta
busca?
A narrativa de Draccon é em
terceira pessoa sob o ângulo de Gualter e dos moradores de Véu- Vale, o tom de
sua escrita tem o clima característico das antigas narrativas de contos e
lendas do Brasil, onde muito é subentendido e pouco é de fato dito. Ora com um
pé na realidade, ora com o pé no que eu diria na espiritualidade do lugar, a
estória corre solta sem problemas, mas não me empolgou muito. Não acredito que
do ponto de vista técnico exista algum problema, mas de alguma forma não houve
empatia.
Talvez o que tenha me incomodado
seja o fato dele demonstrar conhecimento sobre diversos temas espiritualistas,
como projeção astral e não desenvolver, talvez seja a psicologia que também é
flertada mas não aprofundada. Não sei se o incomodo se dá no consciente, ou no
inconsciente, mas o fato é que a leitura despertou desconforto.
Véu-Vale é uma cidade que sofreu
uma chacina na no antigo Brasil, muitos índios foram mortos no local, e a
assombração que ocorre no local se utiliza desta base. Existe um personagem
índio, que é um dos moradores mais antigos do local, e merece destaque já que
tem ótimos diálogos com Handam. Com falas descomplicadas ele alerta o
personagem sobre a verdade do mundo sem teoria ou racionalidade técnica.
A família de Handam é marcada por
tragédias, mesmo assim a mãe do mesmo é amorosa e sábia. Já seu irmão mais novo
guarda um forte rancor pelo irmão mais velho, já que este partiu da cidade após a morte do pai deles. A
estória é breve, logo salvo o próprio Handam nenhum outro personagem tem suas
personalidades desenvolvidas, eles são alegorias para a busca do protagonista.

O desfecho final foi
interessante, e diria a melhor parte do livro, já que a busca se descortina e
mais informações são finalmente reveladas. Vidas passadas, espíritos e outros
são alguns dos temas que surgem e são até que bem explorados.
O Coletor de Espíritos tem cara
de lenda brasileira de cidade do interior, mas tem um pouco de seu vigor
perdido. Fala sobre a natureza humana, sobre fugas e buscas para se libertar do
medo, do que vem de fora e daquele que vem de dentro. É uma leitura rápida e
que pode agradar a muitos.
E uma curiosidade este livro tem
um crossover de outro livro do autor, Fios de Prata. O protagonista de Fios
aparece brevemente no Coletor.
Avaliação

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